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Personas da Comédia e do Drama

A difícil arte de ser ator

O que te faz bom na arte de atuar é muito estudo, a paixão, o amor pela arte e a humildade em respeito às pessoas

Colunistas  –  05/10/2017 20:53

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(Foto Ilustrativa)

“Não se padronize; ator não nasceu para

ser padronizado; padronizar-se ou querer

padronizar alguém é aderir a um sistema

doente que já caiu de moda”

 

No circuito dos famosos é muito comum vermos histórias de superação no percurso em busca de um lugar ao sol. O caminho duro, fatigante e moroso do ator, faz com que, não obstante ao talento que possam ter, muitos desistam no meio e, outros, até antes do meio. A verdade é que sair da transparência não é fácil. Passa-se às vezes uma vida inteira tentando.

Pra quem chega lá, manter-se é também um trabalho árduo; o ator nunca está seguro; é um espaço que nunca é conquistado, pois a luta é constante para conseguir dar o próximo passo. Mesmo as pessoas que chegaram lá, ou por influência de um amigo, um parente, ou ainda pelo golpe de sorte de terem sido vistas no lugar certo e na hora certa, não podem se acomodar. Têm que matar um leão por dia para manterem-se na mídia, o que inclui as festas, as viagens ou qualquer coisa que faça com que sejam constantemente vistos.

O que faz parecer que o ator leva uma vida glamorosa funciona também para que ele seja lembrado para um novo contrato. O caminho a percorrer para sair da invisibilidade é longo demais para quem tem apenas os próprios pés e a esperança como meios de transporte, sozinho, o objetivo parece inalcançável. É cruel pensar que quando se chega lá, se cria um mundo à parte, limitado, com fronteiras.

Dificilmente se abrem portas para os que não têm intimidade com alguém do meio, ou que não tenha grana para investir no meio de transporte que o levará até lá, pois não bastam o talento ou a vocação dos invisíveis, é preciso que também se estude muito, que se conheça de tudo um pouco, e que esteja preparado para os grandes custos do mercado, além de terem que enfrentar os dragões do dia a dia: uma infinidade de golpistas vendedores de sonhos. Temos também o inconveniente da idade: quanto mais avançada, mais difícil se torna encontrar testes de elenco para o perfil. Atores negros reclamam da baixa taxa de testes por causa da cor de suas peles, mas os atores que já passaram dos 30 têm dificuldades iguais ou ainda maiores. Quando só lhes cabe então o perfil de avós, a coisa se complica mais, principalmente em trabalhos para a TV. Os avós estão cada vez mais escassos nas tramas brasileiras.

Montar grupos de teatro independente, com pessoas que têm o mesmo objetivo, tem sido a válvula de escape para as pessoas que almejam seguir carreira. Mas não é fácil. Essas pessoas esbarram na falta de material humano e de espaço físico para ensaios e/ou para apresentações. Os teatros cobram altas taxas. O público não paga para assistir às peças de atores desconhecidos, e os próprios atores acabam desistindo em meio a tanta dificuldade.

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Persistência é o segredo. Se você quer fazer acontecer, tem que meter a mão na massa: tem que ser ator, diretor, roteirista e acima de tudo um estudioso sem limite. Tem que acordar cedo, ir trabalhar, sair do trabalho cansado e ir para os ensaios/estudos. Tem que “perder” sábados, domingos, feriados. Ensaiar na praça, na casa do amigo, numa sala emprestada de uma escola...

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Esqueça as escalações para filmes, novelas, pois os critérios atuais usados para avaliação de produtores de elenco foram padronizados. Estão priorizando mais a beleza do que qualidade, e, às vezes, fica difícil entender qual é o contexto utilizado. Num grupo independente, correr atrás de patrocínio, local de ensaio, local para apresentação, figurino etc. deve ser responsabilidade de todos. Lembre-se de que a união faz a força. Não seja aquele ator padronizado, metido à estrela, que fica esperando cair do céu e que acha que seu único compromisso seja subir no palco e vomitar seu personagem para a plateia.

Não se padronize. Ator não nasceu para ser padronizado. Padronizar-se ou querer padronizar alguém é aderir a um sistema doente que já caiu de moda. Esqueça o estrelismo, porque a fama é passageira e nem sempre é conjugada com sucesso. Não se limite a uma falsa humildade também, porque os fatores que vão te levar ao sucesso, que é a sua competência e o público, são também os fatores que te levam ao fracasso. E o público é exigente e perspicaz. Ele percebe o falso humilde. Lembre-se de que a beleza do ator não está na aparência, mas no fato de emprestar a sua alma para a personagem. O resto ajuda apenas se estiver dentro do contexto, mas nunca se esqueça de que esse resto, sem conteúdo, dura apenas por uma estação.

Ser ator não é fácil, por isso é apenas para quem gosta, não para quem está atrás de fama. O ator precisa culturizar-se, numa constante, o que não faz nenhuma falta pra quem só está em busca de fama. Nunca use um roteiro como muleta, pois não é um bom roteiro que te faz bom ator. O que te faz bom ator é muito estudo, a paixão e o amor pela arte de atuar e a humildade em respeito às pessoas. Um bom ator pode salvar um mau autor, mas um bom autor jamais poderá salvar um mau ator. Sigamos. Porque o sol nasce para todos, o que o torna perto ou distante de nós é o ângulo pelo qual olhamos para ele.

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Por Rita Procópio  –  ritafprocopio@hotmail.com

1 Comentário

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  • Cláudio

    Parabéns! Numa linguagem simples e direta, você expôs exatamente a realidade, eu não diria só do ator, mas do mundo artístico em geral.