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Crônica

Rafaela Silva, não desistiram de você!

A vitória da Rafaela é a vitória das mulheres, dos negros, dos favelados e daqueles que não possuem a chance de mudar sua condição social

Colunistas  –  09/08/2016 10:53

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(Foto: Reprodução)

Parabéns Rafaela, que resistiu a tudo

 

Sim. Eu estive avesso aos jogos olímpicos.
E defendi que não deveríamos estar festejando algo, diante de tantas outras necessidades e urgências pelas quais estamos passando.
O fato é que, independentemente, das minhas reivindicações e preocupações com o nosso país, as Olimpíadas estão acontecendo e é inevitável “acompanhar” os maiores protagonistas (e vítimas) dessa Rio 2016, os atletas do Time Brasil.
E é inquestionável que o esporte possua um enorme poder de alcance profissional e de inclusão social.
Ontem, tive a grata surpresa de poder assistir, pela transmissão da TV, à consagração de uma atleta que anos atrás não tinha motivo algum para alegrias e era alvo da maldade humana.
Rafaela Silva, a judoca que quando defendeu o Brasil em 2012 nos Jogos de Londres saiu desclassificada, que virou alvo de ataques racistas dentro do seu próprio país - chegando a ouvir que ela “era uma vergonha para a família dela” -, subiu ao pódio e chorou.
Só que dessa vez o motivo era de alegria, afinal após muito suor e batalha ela conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil.
Maior representatividade não há.
Não só porque Rafaela é mulher, negra e nascida na favela, ou até mesmo por não possuir o prestígio e salários estratosféricos dos “astros” do (vergonhoso) time - masculino - de futebol brasileiro, como muitos estão dizendo por aí.
Mas pelo “simples” fato da Rafaela ter recebido algo que transforma a vida de quem não tem, a Oportunidade.
Rafaela, que aos 8 anos só sabia “arranjar briga” pelas ruas da Cidade de Deus, teve sua oportunidade de ouro quando entrou para o Instituto Reação, projeto de inclusão social por meio do esporte e da educação em comunidades carentes do Rio de Janeiro, idealizado pelo consagrado ex judoca Flávio Canto.
Aos 24 anos, além de defender o país no judô, ela também é militar pela Marinha do Brasil.
“Eu via que tinha um diamante muito bruto no momento, mas que eu poderia lapidar e fazer com que ela se tornasse uma pessoa melhor. Não somente no esporte, mas também na vida”, relatou Geraldo Bernardes, técnico da judoca e integrante do Instituto, para um repórter...
Ainda repleto de orgulho, completando a entrevista, o técnico disse: “Hoje Rafaela faz faculdade e é campeã olímpica”.
A vitória da Rafaela é a vitória das mulheres, dos negros, dos favelados e daqueles que não possuem a chance de mudar sua condição social.
Muitos criticam, condenam, entretanto poucos oportunizam.
Faço parte de um projeto social em outra área (prevenção e tratamento às drogas) e testemunho a mudança de jovens e crianças, através da inclusão.
Que tenhamos mais investimentos e reconhecimentos aos que dão oportunidades dos pés das favelas, aos becos das esquinas, por esse país afora.
Parabéns a quem não desistiu da Rafaela.
Parabéns Rafaela, que resistiu a tudo.
(Em seu choro caíram lagrimas de alegria e dignidade.)

Beijos e abraços meus, até a próxima semana.

Por Marco Túlio Carvalho  –  mtacarvalho@gmail.com

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