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Literatura & Cia.

Jean Carlos Gomes

poearteditora@gmail.com

Entrevista

Antonio Carlos Secchin, antes e depois da ABL

Professor fala sobre o desafio de entrar para a Academia Brasileira de Letras, mídias digitais, mercado literário e muito mais

Colunistas  –  20/08/2017 12:53

  • Internet - "Temo que, em decorrência dessa facilidade de exposição, acabemos por ter mais escritores do que leitores"

  • O poeta e editor Jean Carlos Gomes com o Acadêmico na ABL em 31 de março

  • Leitores - "Quando escrevo, não procuro oferecer o que esse público espera; cabe ao escritor sempre surpreender a expectativa alheia"

(Fotos: Divulgação e PoeArt Editora)

Nascido no Rio de Janeiro em 10 de junho de 1952. Antonio Carlos Secchin é o sétimo ocupante da Cadeira nº 19, eleito em 3 de junho de 2004, na sucessão de Marcos Almir Madeira e recebido em 6 de agosto de 2004 pelo acadêmico Ivan Junqueira. É doutor em letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1982). Professor de literatura brasileira das Universidades de Bordeaux, (1975-1979), Roma (1985), Rennes (1991), Mérida (1999) Paris III-Sorbonne Nouvelle (2009) e da Faculdade de Letras da UFRJ, onde foi aprovado (1993), por unanimidade, com nota máxima, em concurso público para professor titular. Em 2013, tornou-se professor emérito da UFRJ. 

Como se sentiu quando foi eleito para a ABL? 

Feliz e honrado, e ao mesmo tempo que desafiado para estar à altura da expectativa dos que se manifestaram por meu nome para ingressar na mais importante instituição cultural do país. 

O que mudou para o escritor depois dessa nova conquista? 

Permaneço a mesma pessoa e, suponho, o mesmo escritor. A Academia confere maior visibilidade a seus membros, mas não interfere diretamente na produção dos acadêmicos. 

Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário, em sua opinião, se desenha para a literatura brasileira? 

As novas tecnologias democratizaram a circulação da literatura, o que é ótimo, mas temo que, em decorrência dessa mesma facilidade de exposição, acabemos por ter mais escritores do que leitores. 

A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade? 

Quando escrevo, considero o público a que me dirijo, mas nem por isso procuro oferecer o que esse público espera. Cabe ao escritor sempre surpreender a expectativa alheia. 

O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona? 

A possibilidade de explorar os ilimitados domínios da linguagem e assim dissolver percepções, temas e formas já sedimentados na rotina e no lugar-comum. 

Qual é, a seu ver, a função da literatura na sociedade? 

A função de não ser funcional, de não se deixar aprisionar nas malhas do discurso ostensivamente utilitário e pragmático. 

Autorretrato 

(A Flávia Amparo) 

Um poeta nunca sabe
onde sua voz termina,
se é dele de fato a voz
que no seu nome se assina.
Nem sabe se a vida alheia
é seu pasto de rapina,
ou se o outro é que lhe invade,
numa voragem assassina.
Nenhum poeta conhece
esse motor que maquina
a explosão da coisa escrita
contra a crosta da rotina.
Entender inteiro o poeta
é bem malsinada sina:
quando o supomos em cena,
já vai sumindo na esquina,
entrando na contramão
do que o bom senso lhe ensina.
Por sob a zona da sombra,
navega em meio à neblina.
Sabe que nasce do escuro
a poesia que o ilumina.

> Clique e confira mais sobre o escritor 

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Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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