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Literatura & Cia.

Jean Carlos Gomes

poearteditora@gmail.com

Alta Costura da Língua

Geraldo Carneiro, a poesia e o strip-tease metafísico

Escritor recebe homenagem da PoeArt na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro

Colunistas  –  25/04/2018 12:36

  • O Acadêmico Geraldo Carneiro com o Quadro Homenagem

  • Jean Carlos Gomes, editor desse trabalho, e Geraldo Carneiro

  • Geraldo com o livro

  • Sede da Academia Brasileira de Letras RJ

  • Jean, Geraldo, Oliani, Alexandra e Vicente

  • Capa por dentro

  • Oliani, Alexandra, Nuno, Jean e Vicente, na frente do busto de Machado de Assis

  • A capa do livro

(Fotos: PoeArt/Oliani)

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“A literatura me proporciona a oportunidade de ser outro; a experiência de ser alguém que desconheço e, ao mesmo tempo, ser eu mesmo” 

(Geraldo Carneiro)

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Na tão esperada e inesquecível tarde de terça-feira, 17 de abril, às 15h, na ABL (Academia Brasileira de Letras), no Rio de Janeiro, fizemos a entrega das devidas Homenagens ao ilustre escritor/poeta/dramaturgo/letrista Geraldo Carneiro, que nos recepcionou com muita atenção, simpatia e bom humor... 

A “XIX antologia poética de diversos autores 2017” (editada em novembro do ano passado) é o resultado do XVII Concurso Nacional PoeArt de Literatura 2017, que teve a participação de diversos escritores de vários estados brasileiros. Conforme o regulamento, uma comissão avaliadora, formada por nomes do meio local, classificou cinco poesias em primeiro lugar e demais selecionadas.

Esta antologia reúne 68 escritores de 18 estados brasileiros - Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Pará e mais o DF, divididos em duas modalidades de participação: Cinco Primeiros Colocados e Poetas Selecionados. Sendo então (até o momento) nossa maior edição em número de participantes. Decidimos fazer uma singela, porém justa homenagem (aceita e autorizada) ao ilustre acadêmico da ABL, escritor Geraldo Carneiro, empossado na instituição em 31 de março do ano passado na cadeira 24. Com destacada atividade na área literária no Brasil, evidenciando com atenção e carinho um pouco da sua importante trajetória, deixando-a registrada em um Capítulo Especial (15 páginas) desse livro e na história da literatura brasileira. 

Uma gratidão especial aos mestres: Alexandra Vieira de Almeida, Antonio Carlos Secchin (orelhas), Antônio Torres e Luiz Otávio Oliani (selecionou os textos do homenageado...), por colaborarem com seus valiosos textos para enaltecer nosso trabalho literário e a obra do nosso ilustre homenageado. Na obra constam também uma entrevista (abaixo) com ele e dados sobre sua posse na ABL. 

Confira a entrevista com Geraldo Carneiro 

Como se sentiu quando recebeu a notícia de sua eleição para a ABL? 

Senti muita alegria. A Academia Brasileira de Letras, no presente e no passado, é formada por escritores e intelectuais que admiro. Não preciso falar de Machado e Guimarães Rosa. Meu poeta favorito da segunda metade do século XX, por exemplo, é Ferreira Gullar. Fiquei exultante quando soube que votaria em mim. É pena que ele não esteja mais por aqui para continuarmos comemorando a vida. 

O que muda para o escritor essa nova conquista? 

Pra mim, amplia-se muito o círculo de diálogo. Sinto falta de alguns amigos brilhantes que partiram há pouco, como João Ubaldo Ribeiro e Millôr Fernandes, com os quais convivia e falava ao telefone quase todas as semanas. A Academia me permitiu conhecer de perto e frequentar autores que moram nas estantes de minha biblioteca. É um prazer e um privilégio dialogar com pessoas que dedicam sua vida à cultura brasileira. 

Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário, em sua opinião, se desenha para a poesia, para a literatura brasileira? 

Creio que a internet pode fazer com que a literatura e, particularmente, a poesia circulem com uma velocidade sem precedentes. Pressinto que estamos às vésperas de uma explosão literária, e a internet terá papel fundamental em sua difusão. Por outro lado, as novas mídias me fazem pensar na procura de formatos específicos. Já escrevi, por exemplo, uma série chamada “tropicaligramas”, inspirados nos Calligrames, de Apollinaire, animados pelo designer e fotógrafo Phillipe Leon Anastasakis. Espero exibi-los um dia, numa projeção ao ar livre. 

A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade? 

Não. Os poetas são uma espécie de alta costura da língua. É perfeitamente normal que sejam lidos por poucos. Com o tempo, suas conquistas no campo da linguagem se tornam democráticas. Os falantes passam a fazer uso delas, mesmo que não se deem conta disso. Gregório de Mattos ou Murilo Mendes ou Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, lançaram dezenas de expressões da língua. Hoje todo o mundo as utiliza sem ter a mínima ideia disso. 

O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona? 

A oportunidade de ser outro. A experiência de ser alguém que desconheço e, ao mesmo tempo, ser eu mesmo. A poesia lírica é uma espécie de strip-tease metafísico. E, nela, você não tem o direito de dar um passo em falso, nem de se repetir. É como um piquenique à beira do abismo. Também me encanta a possibilidade de trafegar por diversos gêneros literários: ensaio, dramaturgia, crônica. Tomara que eu tenha tempo para escrever muitas coisas e mudar sempre de plumagem. 

Qual é a função da literatura na sociedade? 

As funções são muitas. Sobretudo ampliar as possibilidades do mundo e os limites da linguagem. Espinafrar os poderosos e a opressão. Escrevi alguns poemas a respeito disso, entre os quais este: 

pra que serve o poeta? para nada
sendo o nada parte fundamental
dessa entidade de que é feito o tudo 

pra que serve o poeta? para o espanto
o enterro das penúltimas quimeras
as especulações da primavera
pra que serve o poeta? para tudo:
cantar os feitos de deuses e heróis
as guerras de extermínio e de conquista
enfeitando-as com a aura de aurora,
ou pra cantar o desconcerto do mundo
os desastres do amor perdido
as sobrancelhas da amada etc. 

pra que serve o poeta? para o escárnio
pra ser apedrejado como Souzândrade
ou, como tantos outros, devorado
por essa sua criatura, a realidade 

O que acha dessa nossa singela homenagem a sua pessoa e obra? 

Toda vez que recebo uma convocação, me sinto obrigado a ser melhor do que sou. Por isso, agradeço e espero receber outras convocações.

Obrigado a todos que, direta ou indiretamente, nos dão atenção, carinho e o grande apoio para que este trabalho poético social possa ser realizado sempre com sucesso e total êxito!

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Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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