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Teor Emocional

Como o aprendizado se relaciona à memória e à emoção?

Reflita bem antes de praticar suas ações cotidianas; elas podem ser eternizadas na memória de nossos futuros cidadãos e quem sabe poderão até ajudar na modelagem de suas atitudes e ações

Educação  –  17/08/2018 19:39

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(Fotos Ilustrativas) 

Se você perguntar para algumas pessoas se elas lembram onde estavam ou o que faziam quando foram surpreendidas pela reportagem na televisão ao vivo do ataque terrorista contra as torres gêmeas nos Estados Unidos, muitas se lembrarão de detalhes, como, por exemplo, as pessoas que estavam a sua volta, descreverão o ambiente e em alguns casos até se lembrarão das roupas que usavam na ocasião.

Isso porque a neurociência já comprovou que quanto maior é o impacto emocional causado pelo fenômeno visualizado, geralmente, maior será a solidificação da informação na memória por um longo prazo.

Possivelmente as substâncias neurotransmissoras, armazenadas nos neurônios e que foram fortemente liberadas pela emoção, também acentuarão a produção de enzimas envolvidas na memorização, que por sua vez auxiliarão na formação das sinapses nervosas que construirão a memória mais permanente.

Logo, teoricamente, quanto maior for o teor emocional gerado pela visualização de um evento, maior será a síntese destas proteínas, portanto, mais fortemente a informação será gravada na memória, ficando disponível nesta por um intervalo de tempo bem significativo.

Este tipo de memória é denominado pelos especialistas como “memória de longo prazo”, ou seja, um procedimento cerebral de armazenamento consolidado da informação que pode durar de minutos e horas a meses e até décadas.

São inúmeros os exemplos desse tipo de memória, como todas as nossas “felizes e agradáveis” lembranças infantis, ou a notícia da perda de um ente querido, ou dos conhecimentos que adquirimos na escola em algumas aulas “agradavelmente inesquecíveis” ou ao contrário, com aquele professor que era “aterrorizante”.

São “guardados” nesse tipo de memória basicamente dois tipos de armazenamentos mais consistentes, um seria episódico e o outro seria semântico.

O primeiro seria o registro de experiências pessoais e eventos, geralmente, associado com pessoas, eventos em um lugar, ou em um tempo particular ou ambos associados.

O segundo seria mais semântico, o que inclui o conhecimento apreendido de palavras, idiomas, símbolos, fórmulas, relações entre eles e regras de uso e manipulação destes dados, sem necessariamente estarem associados a lugares ou tempos específicos.

Ou seja, o armazenamento episódico estaria relacionado às pessoas e ações e o semântico associado à comunicação, símbolos e significados.

Assim, qualquer memorização de longo prazo, seja ela episódica ou semântica, permite a recuperação da informação mesmo depois de décadas dela ter sido armazenada, e também os limites da sua capacidade são desconhecidos.

Contudo, podemos inferir que é bem pertinente que algum componente emocional, possa, em geral, estar presente na sua construção e solidificação.

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Agora vamos pôr um pouco mais de lenha nessa fogueira.

Uma criança ao visualizar alguém, por exemplo, exercitando o “jeitinho brasileiro” ou fazendo uma atividade ilícita ou incomum, estará ativando o seu sentido da audição e obviamente o seu sentido da visão.

Estes dois sentidos também são processados no cérebro em áreas que se interligam intimamente com as mesmas regiões que processam as memórias e adicionalmente uma estrutura cerebral denominada hipocampo que seleciona o local onde os significados importantes para fatos e eventos serão armazenados no cérebro.

Isto sem falar que por ser uma visão possivelmente excitante pode ser acompanhada de alguma carga emocional.

Por essa razão, não é incomum que as pessoas que testemunharam eventos desse tipo rapidamente se lembrem deles, quando são estimuladas para tal.

Neste trabalho tão importante de memorização, o hipocampo por sua vez também é auxiliado pela amígdala cerebral que além de participar no redirecionamento das informações se comunica com o tálamo, que é a área cerebral para onde convergem diversas vias neuronais que chegam do meio externo antes de serem redistribuídas.

Ou seja, um verdadeiro trabalho em equipe se desencadeia no cérebro a partir de uma simples observação de um episódio.

Assim, vários setores cerebrais são envolvidos na recepção e organização dos estímulos sensoriais vindos do meio externo, como o som e a visualização de expressões corporais para ser redistribuídos pelo tálamo, ativarem outros circuitos que enfim chegarão à amígdala e ao hipocampo, que é bom relembrar, estão relacionados intimamente à memória e as emoções.

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Simplificando, isto significa como armazenamos o que aprendemos e, assim, memorizamos aquilo que, por alguma razão, tragam algum sentido diferenciado em nosso cotidiano ou carregue algum teor de emoção no processo.

Da mesma forma, bons ou maus modelos de comportamento oferecidos às crianças, podem ativar nestes pequenos observadores, suas conexões entre a amígdala, hipocampo, tálamo que são exatamente as regiões onde as respostas emocionais se originam.

Isto pode permitir que o teor destas emoções influencie mais intensamente ou não na sua própria memorização, ou o que é pior, na aprendizagem do que está sendo observado, seja este aprendizado edificante ou não.

Logo, reflita bem antes de praticar suas ações cotidianas. Elas podem ser eternizadas na memória de nossos futuros cidadãos e quem sabe poderão até ajudar na modelagem de suas atitudes e ações adultas.

Finalizando, parabéns! Você acabou de descobrir que interessantes caminhos facilitadores da aprendizagem estão permanentemente ao seu alcance.

Da mesma forma, deve ter percebido que também possui superpoderes capazes de modificar para melhor a nossa sociedade, principalmente para seus filhos ou outras crianças ao seu redor.

E caso julgue interessante compartilhar essa reflexão fique à vontade. Seus filhos e netos certamente também se orgulharão de você.

> Texto parcialmente extraído do livro “Como Educar uma Criança Chamada Brasil”; editora CDA; 2017; São Paulo)

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Por Flavio Chame Barreto  –  flaviocbarreto.bio@gmail.com

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