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Inclusão

Amy Knepper e o ensino em casa para educação inclusiva

Autora de - Blueprint homeschooling - aposta nesse movimento para criar eternos aprendizes

Entrevistas  –  27/08/2017 10:04

Publicada: 11/08/2017 (18:58:41) . Atualizada: 27/08/2017 (10:04:26)

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(Fotos: Divulgação)

Juntos: Amy e seus filhos no aquário da Baía de Monterey, na Califórnia, no ano passado 

> Clique e confira a entrevista concedida à coluna por Amy Knepper no original em inglês

 Amy Knepper é uma americana adepta do ensino em casa que escreveu um livro para orientar os possíveis candidatos do movimento e seus veteranos no caminho da construção de um cronograma escolar que funcione para ambos: pais e filhos. No livro, ela fala sobre todas as armadilhas mais comuns e aponta quais são os temas mais importantes a serem observados para se ter sucesso em um ano de ensino em casa. “Blueprint homeschooling” já está à venda em inglês, português brasileiro, espanhol e francês. A versão em espanhol foi traduzida pelo estúdio Sattnin Texts and Idioms.

Nesta entrevista, Amy fala sobre a experiência não só no ensino em casa, mas também como mãe, e nos dá um testemunho real e sensível de como a compreensão da individualidade pode aumentar nossas chances de sucesso na vida; que podemos ir além do que pensávamos no começo; e como os padrões utilizados para orientar nossas vidas podem ser frágeis, sem sentido e perigosos, se você os priorizar mais do que a si mesmo. Como Einstein já disse: "Se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, viverá sua vida toda acreditando que ele é estúpido". Amy está atualmente trabalhando em uma nova série de ficção científica para o ensino médio sobre codificação e computadores. Seus filhos estão no ensino médio agora (6º e 8º série dos EUA) e dizem que ela é incrível! 

Confira a entrevista com Amy Knepper

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Amy se considera uma eterna aprendiz; livro tem versões em inglês, português, espanhol e francês 

1. Por que se tornou adepta do ensino em casa?

Meu filho tinha algumas necessidades especiais particulares (ele foi diagnosticado com duas doenças auto-imunes crônicas). Por causa disso, ele não estava pronto para ir para a escola quando deveria e eu o mantive em casa. Depois de uma longa pesquisa, decidi pelo ensino em casa e o resultado tem sido tão bom, que eu nunca quis colocar meu filho (ou minha filha) na escola. 

2. Quais são as vantagens do ensino em casa?

Educação individualizada. Como eu mencionei, meu filho teve alguns problemas quando era mais novo. Ele era excelente em matemática e leitura, mas mal podia segurar um lápis, e não podia usar a tesoura. O ensino em casa nos permite construir sobre seus pontos fortes (ele está estudando teoria quântica, como um estudante da 8ª série) ao mesmo tempo que contornamos as fraquezas dele (ele aprendeu a digitar antes de aprender a escrever).

Outra vantagem é a flexibilidade, especialmente agora que meu filho é cronicamente doente. Podemos facilmente mudar a programação se o dia é difícil, ou gastar toda nossa energia em um assunto, se o dia é bom. Não temos que nos preocupar com as ausências para consultas médicas (e nós temos muitas).

Por outro lado, minha filha é uma aprendiz muito ativa, que raramente se senta, ser capaz de fornecer um ambiente onde ela possa aprender enquanto se move e onde ela pode ter um monte de "descanso" tem sido ótimo. Ela também pode desenhar ou brincar com argila ou brinquedos durante quase todas as nossas aulas. Eu descobri que ela aprende melhor se ela estiver criando enquanto ouve.

A maior vantagem que eu vejo no ensino em casa é tempo. Podemos aprender coisas quando queremos. Manhã, noite, fins de semana. Não importa. Estou disponível para ajudar meus filhos a responder perguntas, e nós podemos procurar respostas. Podemos passar quatro horas em um conceito de matemática se necessário. Ou apenas a cinco minutos, se eles já entenderam. A aprendizagem acontece em um ritmo acolhedor, e não ficamos estressados.

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“Educação em casa, para mim, é realmente sobre como criar eternos aprendizes. Se um pai é curioso, e um pai gosta de aprender coisas novas e pesquisar, então, a criança também será assim. Toda a informação que precisamos está disponível, e quase tudo está em algum lugar de graça. Você só precisa ser paciente e curioso, e você vai conseguir. Se você não sabe a resposta a uma pergunta, pesquise! Pergunte a alguém! É assim que aprendemos”.

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3. E quanto às desvantagens?

Vou ser sincera e dizer que uma das grandes desvantagens é o aspecto social. Não quero dizer se os meus filhos serão ou não "normais". Quero dizer que pode ser difícil encontrar amigos que estão disponíveis, que querem brincar, que não estão na aula, que não estão na escola, e que têm interesses semelhantes. Como adultos, pode ser difícil de encontrar outros pais para falar sobre as suas lutas particulares. Temos uma comunidade maravilhosa de ensino em casa onde moro, na California, e eu sou grata por isso. Eu sei, nem todo mundo tem isso.

Eu acho que o ensino em casa pode ser mais difícil para crianças extrovertidas, que gostam de ter um monte de outras pessoas a seu redor. Todos na minha família são introvertidos, então passar a maior parte de nossos dias em leitura tranquila, escrevendo, e conversando, e, em seguida, algumas horas com amigos e família, é, realmente, o ideal para nós.

Uma desvantagem para os pais é que pode ser muito cansativo. Você tem que criar suas próprias férias. E isso pode soar estranho, mas acho que a quantidade de currículo disponível (pelo menos nos EUA) é demais! Eu gasto muito do meu tempo pesquisando o currículo e selecionando-o para o que irá funcionar para minha família, o que nos é acessível e o que, na verdade, usaremos em um ano. Realmente não é fácil escolher o que usar quando você está livre para fazer qualquer coisa.

Eu faço essa pergunta para os meus filhos, e minha filha diz: "Todo o dia é dever de casa". Meu filho diz, " Às vezes as pessoas acham que você é burro". Ele teve crianças do bairro e familiares fazendo-lhe perguntas de matemática e questões de história na tentativa de provar que ele não está aprendendo nada. Foi assim que ele acabou como monitor de matemática no nosso bairro, porque ele respondeu às perguntas muito bem. 

4. Quão forte é o ensino em casa nos EUA?

Em 2012, cerca de 3,4% das crianças nos EUA estavam estudando em casa. Acho que o número continuou a subir, já que os pais tornam-se cada vez mais preocupados com a padronização da grade escolar e dos testes. Meu marido foi educado em casa quando criança na década de 1980, o que era muito raro naquela época. Agora, eu sinto que isso é mais aceito. Mesmo em consultórios médicos será possível ouvir: "Oh, espero que eu possa adotar o ensino em casa" ou "O ensino em casa pode ser muito benéfico". Existem muitos museus que fazem dias de aulas. E existem tantos recursos disponíveis, graças ao movimento da educação aberta. 

5. Qual é a principal habilidade que alguém precisa para ser bem sucedido na adoção do ensino em casa?

É uma pergunta difícil, mas eu vou dizer "Curiosidade". Educação em casa, para mim, é realmente sobre como criar eternos aprendizes. Se um pai é curioso, e um pai gosta de aprender coisas novas e pesquisar, então, a criança também será assim. Toda a informação que precisamos está disponível, e quase tudo está em algum lugar de graça. Você só precisa ser paciente e curioso, e você vai conseguir. Se você não sabe a resposta a uma pergunta, pesquise! Pergunte a alguém! É assim que aprendemos. 

6. Por que você recomendaria o livro "Blueprint homeschooling"?

O ensino em casa pode ser realmente assustador no começo. Eu me lembro quão nervosa eu fiquei quando comecei. Eu escrevi "Blueprint homeschooling" para alguns amigos que estavam apenas começando e estavam se sentindo intimidados por todas as informações. Como eu escolho o currículo? Como eu ensino matemática? E se eu não sou bom em ortografia? Eu tento responder todas essas preocupações, ajudando os pais a pensarem no que estão fazendo agora, este ano, este mês, esta semana. Além disso, soube que o livro é engraçado. Eu tento escrever da mesma maneira que eu poderia falar se nós sentássemos juntos, então tento incluir humor e um monte de encorajamento.

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“Eu me defino como uma ‘facilitadora educacional’ agora. Eu acho as classes, professores, mentores, livros ou sites, e eles aprendem tanto, tudo por conta própria. Acho que o ensino em casa é sobre confiança. As crianças querem aprender. Elas são naturalmente curiosas! Se orientadas na direção certa e ajudadas para que façam as perguntas certas, elas podem fazer muito”.

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7. Por que decidiu escrever um livro sobre este assunto?

Depois de alguns anos ensinando em casa, havia muitas famílias jovens onde eu costumava morar que, de repente, estavam interessadas no assunto. Eles vinham até mim com tantas perguntas! Amigos e família começaram a me perguntar um monte de coisas, também. E eu escrevia longas cartas para as pessoas, ou podíamos sair para um café ou sorvete e falar sobre isso. Um amigo meu me disse que eu deveria escrever um livro, então, eu comecei a trabalhar nele: 18 meses e quatro rascunhos mais tarde, eu o publiquei e enviei cópias para vários desses amigos. 

8. Qual é a principal dica que você daria para alguém que está pensando sobre o ensino em casa?

Obter um cartão de biblioteca. Não sei como os sistemas de bibliotecas funcionam no Brasil, mas aqui nos EUA a biblioteca tem sido, verdadeiramente, o recurso mais utilizado nesses oito anos que eu ensino em casa. 

9. E sobre escrever um livro?

A única coisa que aprendi depois de anos escrevendo e com o tempo gasto em comunidades de escrita é: ninguém sabe como escrever um livro. Você aprende fazendo. E cada livro é diferente, então, você tem que aprender novamente da próxima vez que você escrever. Continue trabalhando. Se você se sente compelido a escrever um livro, saiba que o princípio é o mesmo que ensinar em casa. Seja curioso. Faça perguntas. Faça amigos. Continue aprendendo. "Você só falha se você parar de escrever". ( Ray Bradbury) 

10. Tem mais alguma coisa que você gostaria de compartilhar com a gente?

Eu me lembro que me preocupei muito quando meus filhos eram mais jovens sobre ensinar ou não álgebra e cálculo quando eles fossem mais velhos. Como eu ensinaria no segundo grau? A verdade é que, uma vez que meus filhos aprenderam a ler, e eu tinha lhes ensinado como aprender, começaram a fazer muito por si... Eu me defino como uma "facilitadora educacional" agora. Eu acho as classes, professores, mentores, livros ou sites, e eles aprendem tanto, tudo por conta própria. Acho que o ensino em casa é sobre confiança. As crianças querem aprender. Elas são naturalmente curiosas! Se orientadas na direção certa e ajudadas para que façam as perguntas certas, elas podem fazer muito. E eu e meus amigos tendemos a dar o mesmo conselho para os novos adeptos que encontramos: "Respire"! Fique calmo. Você consegue!

> Estúdio Sattnin Texts and Idioms

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Por Sabrina Sattnin  –  sattnintxi@gmail.com

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