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Mentalidade Juvenil

Os jovens e a música metafísica

Tolhê-los é não deixar brotar o futuro, é não deixar desenvolver a cultura; deixemos viver quem quer viver e fazer viver a quem quer viver

Música  –  29/12/2016 11:33

Publicada: 26/12/2016 (10:13:09) . Atualizada: 29/12/2016 (11:33:33)

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Já que ponderamos na afirmação metafísica da música, precisamos entender a mentalidade juvenil. Por que algumas pessoas entendem a “alienação” como uma espécie de retrocesso na sociedade, consequentemente na espécie humana? Alienar-se é estar comprometido com outro mundo que não o do outro. Sociedades de uma maneira geral clamam por um agrupamento de ideias, conceitos e regras. Esse é um capítulo para a “ideologia” que vai ferir a individualidade, rasgando seu manto de pureza. Cada indivíduo tem seu mundo metafísico, aliás, quem não o tem, deveria procurá-lo para conhecer a si mesmo. A frase “conhece a si mesmo” foi largamente propalada por Sócrates, o filósofo que promulgou a metafísica do ser. Tudo começou com Parmênides, quando disse: “O ‘ser’ é, o ‘não ser’, não é”. Devemos ser, senão, não existiríamos. Devemos criar um ser metafísico para sermos. Os jovens sabem mais do que ninguém o que é ser.

Adultos, através do esquecimento que a liberdade metafísica proporciona, criam regras para os jovens, negando o que eles próprios experimentaram e viveram. Um grande exercício de lembrança para os mais velhos é o de voltar a sonhar com o mundo outrora perdido e encoberto pelos afazeres sociais. Os jovens se refugiam na música e é nela que encontram suas tribos, clãs e nelas prosperam a amizade que tardiamente usufruem para sua convivência social. Geralmente os amigos atuais dos adultos foram os que conviveram em sua época de juventude, pois experimentaram outro mundo metafísico juntos e neles construíram um elo para sua amizade. É muito mais comum termos amigos em que a amizade foi construída sob um convívio musical ou de ideias na juventude.

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O mundo metafísico é o que junta mentes, consequentemente, razões. Quando encontramos amigos do passado nos tornamos jovens de novo.

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Não é difícil admitir que os encontros e festas de profissionais ou de classes de ensino médio quando se juntam comemoram a jovialidade. Tornam-se adolescentes, dançando, lembrando-se do mundo em comum que comungavam e hoje é celebrado apenas na festa de reencontro.

Deveríamos respeitar os jovens em suas ambições metafísicas, principalmente porque a inveja de não se ter um mundo tão aparentemente irreal nos revele a tristeza e a angústia da nostalgia. Alguns adultos relutam em bloquear algumas vezes o prazer dos jovens em se misturar e criar um mundo só pra eles. Não é difícil ver e constatar a censura estampada nas atitudes de alguns que já perderam de longe a esperança de reencontrar com a alma que se perdeu em detrimento da realidade tecnocrata. Voltar à juventude, por sua vez, não é tarefa difícil, mas num simples “clic” de qualquer mídia auditiva nos reportará ao nosso passado dentro do presente. Alguma geração pode se refugiar na jovem guarda, outra na disco music.

Porém, esta, a de hoje, não pode curtir sua “contemporaneidade”. Deixemos viver quem quer viver e fazer viver a quem quer viver. Deveríamos aprender a viver com os jovens e seu mundo metafísico musical; o mundo que Hegel, o filósofo que apontou como o verdadeiro e ímpar.

Pelos ecos de nosso passado poderemos confirmar o presente da atual geração. Deixá-los livres, para escolher como nós escolhemos, lhes fará muito bem. O que para nós é canhestro, para eles é um acalento. Suas preferências se referenciam em seu mundo metafísico. Tolhê-los é não deixar brotar o futuro, é não deixar desenvolver a cultura.

Por Ricardo Yabrudi  –  yabrudisom@hotmail.com

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