Publicidade

RH

Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Nada Convencional

Ramiro Mart lança álbum com o beatmaker Goribeatzz

Disco do rapper voltarredondense reúne 12 faixas; processo de produção foi feito através de mensagens de áudio do WhatsApp

Música  –  16/08/2017 13:53

Publicada: 19/06/2017 (10:36:19) . Atualizada: 16/08/2017 (13:53:05)

1

(Fotos: Divulgação)

Na internet: A arte do segundo CD da carreira do artista leva a assinatura do Fredone Fone (ES) 

Um disco feito através de mensagens de áudio do WhatsApp. Nada é convencional na carreira do rapper voltarredondense de 29 anos que lançou em 19 de junho, às 20h, o seu segundo álbum: “Ramiro Mart x Goribeatzz - Áudio Mensagem”. São 12 faixas gravadas no Estúdio Beatchop (Tijuca-RJ), mixadas e masterizadas por 2F no Studio U-Flow, na Barra da Tijuca. Todos os beats foram produzidos por Goribeatzz e o CD conta com as participações de Zudizilla (RS), Lica Tito (RS), Henrick Fuentes (SP), Eloy Polemico (SP), Pirra (VR), Diogo DC (VR), DJ Josafá (VR), DJ Machintal (RJ), DJ Soares (SP), Matéria Prima (MG). A produção executiva é da Mar de Rua. 

A ausência de produtores que trabalhavam com rap, há 12 anos, numa época em que não existia o termo “beatmaker”, fez com que a busca de Ramiro Mart fosse além das linhas escritas por suas referências, levando-o a pesquisar e produzir seus próprios beats, gravar suas próprias vozes em meio a equipamentos precários. Em 2003 formou seu primeiro grupo de rap, 1/4 Produções, com grande repercussão local e três discos na bagagem. Ficou conhecido por participar de batalhas de improviso de grande importância na cidade e fora da cidade, como Liga dos MCs, Hutuz Rap Festival, Duelo dos Centavos, entre outras. 

Em 2008, após o fim do grupo, formou a dupla DuAÇO em parceria com o MC Tom (ex-integrante da 1/4 Produções). Juntos lançaram três singles, realizando shows dentro e fora da cidade. No entanto, deixaram um disco na geladeira após o término em 2010, ano em que Ramiro Mart se mudou para o Rio de Janeiro, iniciando uma jornada de aprendizado.

_______________________________________________________

Ramiro Mart há 12 anos contribui com o hip-hop e fomenta a cultura na Cidade do Aço. Aos 13 fez seu primeiro rap. Ali começava uma experiência musical que o fez submergir nesse universo.

_______________________________________________________

A partir de 2010, na capital, concentrou suas energias em produzir música, onde pôde trabalhar em estúdios, contribuir com projetos de grande expressão no cenário musical e publicitário. No início de 2013 sentiu grande necessidade de voltar a escrever e executar seu ofício, de uma forma que ainda não havia feito, mais segura, com ideias fortes e desta vez sozinho. Em dezembro daquele ano lançou seu primeiro EP, “Advérso”, trabalho que marca seu regresso para Volta Redonda, após uma estada de aproximadamente quatro anos na capital. Além de dois clipes produzidos por Casulo Roots, “Advérso EP” teve grande repercussão no cenário nacional e consiste em oito faixas produzidas por Grabriel Marinho, Goribeatzz, Jonas Profeta, scratches de DJ Willian, DJ Phat e participações de Damien Seth & Lica Tito. 

Em janeiro de 2014, fundou o selo/estúdio Setor. Estúdio onde grava, mixa e masteriza suas músicas, organiza eventos culturais e criação de projetos. Por meio do Studio Setor lançou diversos grupos de Volta Redonda, incentivando muitos a começarem uma experiência musical e movimentando intensamente a cena que se encontra em ascensão na Cidade do Aço. Em meio a constantes lançamentos de singles, tanto solo quanto em parcerias, em dezembro de 2014 lançou seu primeiro disco oficial, “Vltra vida”, com 20 faixas que contam com produções de Goribeatzz, MestreXim, Cotonete, Jonas Profeta e participações de De Leve, Rapadura, Tássia Reis, Jamés Ventura, Vicky Lucato, Ramonzin, Faruck, Ber, Mr Break, Indigesto, scratches de DJ Phat & DJ Erick Skratch. Disco que teve grande sucesso e marcou uma época em sua vida, com três clipes e diversos shows. 

Em 2015, no mês de dezembro, após muitas mudanças e amadurecimento de suas ideias, chegou o momento de lançar outro material no formato EP. Intitulado “Artepressão”, o EP reúne nove faixas produzidas por Goribeatzz, MestreXim, Gugs, Raqui, Poik, scratches de DJ Josafá, MC Sedex apresenta 16 linhas de rimas na música “Má temática” e Diogo Carvalho garante o refrão da música “Metra atriz”. 

Confira a entrevista com Ramiro Mart

2 

Este é o seu segundo álbum. Está saindo por uma gravadora ou independente? 

É meu segundo álbum, porém meu quarto trabalho, pois tenho mais dois EPs. Será lançado de forma virtual nas plataformas digitais YouTube, Spotify, GooglePlay, Deezer, Itunes, pela produtora Mar de Rua, que investiu e acreditou nesse disco e na minha carreira. 

Esse CD é uma parceria com o beatmaker Goribeatzz que já fez beats para diversos artistas do cenário rap. Como você chegou até ele (ou ele chegou até você)? 

Minha relação com Goribeatzz é bem antes dele mesmo fazer beats, nos conhecemos nas batalhas de rap que aconteciam no Rio, por volta de 2004/2005. Mas nossa parceria musical só aconteceu em 2013, quando lancei meu primeiro EP solo, na época fazíamos parte do mesmo selo e começamos a ter mais proximidade para trabalhar em minhas músicas. Essa parceria rende até hoje. Além de beatmaker ele é meu DJ e grande amigo. 

Como foi o processo de criação desse álbum? Houve alguma influência (ou influências)? 

O nome do disco é algo que remete exatamente como foi feito o processo de produção desse disco, através de mensagens de áudio do WhatsApp. Chega a ser um pouco curioso, mas essa comunicação foi o que trouxe a praticidade pra esse processo, no envio de beats e no envio de guias das minhas rimas, inclusive todas as comunicações com outros artistas foi através dessa ferramenta. Como defendemos um posicionamento musical no rap, que valoriza o Rap de “Mensagem”, acabou virando um trocadilho em relação à mensagem que estará sendo passada através das músicas. 

Haverá uma faixa de trabalho? 

O disco não foi criado dentro dos parâmetros clássicos de produção, consequentemente a escolha de uma música de trabalho não é algo que teve espaço dentro do material. O disco traz uma estética muito diferente do que já apresentei até hoje, então acreditamos na divulgação uniforme das músicas, porém é inevitável que o público possa se identificar mais com uma ou outra, mas nada premeditado por nossa estratégia de divulgação. 

_______________________________________________________

"Todas as mudanças trazem consequências e perante a imaturidade do movimento no Brasil vejo que ainda não sabemos muito como lidar com isso, estamos aprendendo a lidar com o mainstream, com o acesso, com a amplitude da mensagem. Isso é bom e perigoso ao mesmo tempo".

_______________________________________________________

Vai ter clipe? Já existe algum projeto nesse sentido sendo trabalhado? 

Já existe um clipe pronto de uma das músicas, que se chama “Amigo oculto”. A ideia é fazermos um clipe pra cada música, porém esse processo não é muito fácil de executar, mas já estão acontecendo captações de imagens para acervo e criação de materiais audiovisuais relacionados ao disco durante a pós-produção. 

O cenário rap cresceu muito no Brasil, e em Volta Redonda também. Que análise você faz desse cenário hoje? 

Sim, hoje não só em Volta Redonda, mas no resto do país o cenário tomou uma proporção ainda não vista por nós que estamos fomentando a cultura há bastante tempo. É um momento muito especial, pois a música rap está trazendo à realidade o sonho utópico de dez anos atrás, que seria um show de rap cheio, altos cachês, popularidade, alcance. Porém, todas as mudanças trazem consequências e perante a imaturidade do movimento no Brasil vejo que ainda não sabemos muito como lidar com isso, estamos aprendendo a lidar com o mainstream, com o acesso, com a amplitude da mensagem. Isso é bom e perigoso ao mesmo tempo. 

Nessa sua trajetória, o que foi mais difícil? Houve um processo de reconhecimento de si próprio? De que forma o rap contribui para isso? 

O mais difícil é se manter erguido, sem ter que fazer algo que não seja autêntico somente para vender, se manter erguido sem fazer o som de “prateleira”, sem deixar o mercado te moldar e nem prostituir sua arte. Isso é o mais difícil, não digo em questão de exercer a ideia, mas se estabelecer ativo sem oferecer o que a massa compra.

O rap sempre elevou minha autoestima. Quando comecei a ouvi-lo o que predominava era o rap de protesto, a música com versos com conteúdo, ácidos, agressivos, porém inteligentes, eu sempre soube que o rap era enorme e que eu era apenas um admirador de sua grandeza. Hoje me sinto privilegiado em fazê-lo. Como diria Paulo César Pinheiro: “A música me ama, ela me deixa fazê-la”. 

Faixa a faixa (por Ramiro Mart) 

1 - RAP-SE (Part. DJ Machintal) - A primeira faixa do disco mostra bem a cara das influências musicais de Goribeatzz e Ramiro Mart, um boombap clássico com scratches e colagens do DJ Machintal, a música fala sobre os fundamentos do rap, a importância da raiz ser cultivada e críticas sobre a atual cena. 

2 - Mudo o flow - Trata-se de um diálogo do Ramiro Mart com Matheuzinho e Kauã, duas crianças do rap, fala da importância da música. A letra explica em forma de inúmeros flows diferentes formas de ser, formas de mudar e ser autêntico. 

3 - A saga - Uma crônica, basicamente inspirada numa história real com algumas adaptações, sobre um rapaz traficante e um policial civil. A música mostra como os dois são reféns do mesmo “rei”. 

4 - Confronto (Part. Diogo DC) - Contratempos, correria, pressa, calor, frio, preocupações, são elementos presentes na vida de todo ser humano. A música conta como momentos de “bate cabeça” nos fazem abstrair de todos esses problemas. 

5 - Garrafa de rum (Part. Pirra) - Um relato sobre a vida de um artista independente, uma letra baseada em metáforas relacionadas às abordagens musicais presentes na atualidade da cena independente num “BoomTrap” alucinante. 

6 - Amigo oculto - Uma ligação telefônica para o “Rap”, um conteúdo bem pessoal e intimista do Ramiro Mart, pois a conversa trata-se de um desabafo de como o rap foi importante em sua formação vital. 

7 - Nix (Part. Lica Tito & Eloy Polêmico) - A música fala sobre a noite, como a noite pode trazer coisas boas e ruins, na batida bem swingada. Lica Tito (Pelotas-RS) com uma voz incrivelmente doce faz o refrão, Eloy Polêmico marca com suas 16 barras e ao final Lica volta com um verso bem elaborado, misturando rimas e melodias. 

8 - Música destino (Part. Henrick Fuentes & Zudizilla) - Com participação de Henrick Fuentes, old school da cena paulista, & Zudizilla (Pelotas-RS) representando a nova escola, a música fala sobre como a música traça o destino daqueles que a fazem. 

9 - Quando - Conquistas e derrotas, erros e acertos, o universo musical dessa música em específico funciona em torno de altos e baixos de nossas vidas. 

10 - Múltipla escolha (Part. DJ Soares) - Uma crítica sobre o sistema de ensino brasileiro, mais especificamente o sistema público de ensino. A música conta como a vida ensina muito mais do que a escola e como temos que fazer escolhas inteligentes para não sermos mais engrenagens do sistema. 

11 - Carnival (Part. Matéria Prima) - Com participação do MC Matéria Prima (MG), um dos maiores letristas do cenário nacional e dono de uma técnica invejável na construção poética, a música mostra através de uma metáfora sobre o Carnaval, como as feridas nos lembram das lutas e como lidar com nossas adversidades e não fugir delas. 

12 - Pau mandado - Essa música traz uma abordagem bem ácida e forte, num diálogo com a Polícia Militar. Uma letra que diz para o Policial o quanto ele é manipulado e o quanto é prejudicial para a sociedade.

Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

Seja o primeiro a comentar

×

×

×