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Impossível Ficar Indiferente

O que espero para a cultura de Barra Mansa

Espero que Claudio Chiesse utilize seu poder, sua voz, e transmita BM como ela é; transmita a voz do seu povo, seus hábitos, seus costumes, sua identidade

Indicados ao Prêmio OLHO VIVO  –  24/11/2012 11:30

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(Foto Ilustrativa)

Todo ator é político; todo político é

um grande contador de histórias

Desde o resultado das eleições municipais, não me manifestei sobre a política barramansense, tampouco sobre a política cultural que poderíamos esperar com o governo do Partido Comunista em nossa cidade. Mas hoje recebo a notícia de que temos um nome para assumir a superintendência da Fundação de Cultura de Barra Mansa no próximo ano (se houver): Claudio Chiesse. Então, impossível ficar indiferente diante dessa informação. A participação da cultura está intimamente ligada com o modelo de gestão de todo um governo. Todo ator é político. Todo político é um grande contador de histórias.

Confesso que até a presente data fiquei ansioso e numa expectativa tremenda para saber quem seria o nome que o prefeito eleito, Jonas Marins, escolheria. Conheço o Claudinho da rádio, da Secretaria de Cultura de Volta Redonda e o respeito muito. Conheço o radialista, conheço suas impressões sobre a cultura e suas atividades dentro daquela secretaria. Mas não o conheço como gestor. Uma fundação pública como a de Cultura de Barra Mansa é um órgão de administração indireta. Um corpo de responsabilidade que não tem verba direta, como uma secretaria, e por isso precisa providenciar estratégias para elaborar projetos, captar recursos, buscar incentivos, precisa de fechar apoios e parcerias. Sobretudo, precisa de uma equipe de gestores que têm como meta principal fazer fluir o processo burocrático em nome da acontecência. Uma fundação não é uma secretaria.

Secretaria não é fundação

O principal desafio de um órgão como esse é a relação com instituições como associações, ONGs, cooperativas e OCIPs. Essas instituições elaboram projetos próprios e por vezes necessitam de investimentos, que podem vir da iniciativa privada que, por sua vez, acaba dependendo do interesse do setor de marketing da empresa querer associar seu nome à iniciativa, e esses investimentos também podem vir pelo poder público por meio de secretaria ou fundação. Porém... Secretaria não é fundação! Bom, até aí nenhuma novidade. A grande novidade é termos, em breve, à frente da Fundação de Cultura de Barra Mansa, um homem ligado à cultura popular, aos grandes eventos de massa, como o projeto Cultura Para Todos em Volta Redonda. Tenho minhas críticas ao modelo desse projeto em Volta Redonda - aliás, eu não, muita gente. Mas esse é um papo para a Conferência Municipal de Cultura daquela cidade...

Sai um antropólogo, professor de história, doutor, um provedor e amante da cultura erudita e entra um comunicólogo, radialista que está com a voz do povo, nas comunidades, tem contato com gente como a gente e esteve à frente de um projeto que incentiva a cultura popular e a formação de público para grandes shows. O atual superintendente de cultura, Luis Augusto Mury, em sua gestão promoveu iniciativas que incentivaram a produção de projetos locais, o futuro superintendente promoveu na cidade vizinha projetos que incentivaram o consumo de cultura de massa. As duas ideias casadas seriam incrível: incentivar a produção e o consumo. Mas são dois seres humanos que têm sua ligação com culturas totalmente distintas. O que esperar então desta nova gestão? Não sei. O que viraria o Projeto Música nas Escolas, que em sua base está a OSBM, Drum Lata, Banda Sinfônica, centenas de prêmios em festivais de concertos e bandas? Viraria um Projeto Música para Todos? E o Teatro nas Escolas? Teríamos um “Escola sobre Rodas”? O Carnaval, as festas, os equipamentos públicos de cultura?

Incerteza de uma resposta concreta

Nas eleições municipais de 2008 perguntei ao Mury se ele esperava ou tinha a certeza de que continuaria à frente da Fundação, cargo que ocupou durante os oito anos do governo Roosevelt, caso o Zé Renato fosse eleito. Na incerteza de uma resposta concreta, recorri para as metas do governo para a cultura. O que mais me importava era saber sobre a construção de um teatro municipal para a cidade, ideia que também constava no programa de governo do candidato do PSDB na época, Ademir Melo, e que não figurava nos planos do prefeito, recém eleito, Jonas Marins, também candidato na época pelo PCdoB. Mury me garantiu que esta seria a pauta principal.

O coletivo no qual trabalho hoje como ator em Barra Mansa foi formado em janeiro de 2009, ano em que José Renato assumiu. Voltei a viver cotidianamente em Barra Mansa neste mesmo ano. Ano em que, enquanto grupo, construímos projetos incríveis em parceria com a Fundação de Cultura, como o Tomada Urbana Ato I, que possibilitou que o superintendente de cultura pudesse ter contato, pela primeira vez, com o teatro de rua. Neste mesmo ano foi realizado o Fórum Municipal de Cultura, onde fui eleito conselheiro com a missão de reformular as normas e regulamentar o próprio Conselho para que houvesse mais credibilidade e participação junto à comunidade artística de Barra Mansa.

Sem poder de deliberação

Nos dois anos seguintes o Conselho atuou de forma amena, sem poder de deliberação, porém constante. Discutimos planos, sistemas, frequentamos conferências pelo estado e pudemos perceber o quanto nossa legislação municipal em relação à regulamentação tanto do estatuto da Fundação quanto ao regimento interno do Conselho de Cultura precisa de uma urgente reformulação. Nos anos de 2010 e 2011 pude participar da elaboração e realização de projetos importantes como o Teatro nas Escolas, um projeto público, e o Nasce Uma Cidade, idealizado dentro do Coletivo Teatral Sala Preta. Esse projeto é daqueles tipos de projeto que trabalham em parceria com o primeiro setor, representado pela Fundação de Cultura, Secretarias de Educação, Planejamento, Meio Ambiente, Ordem Pública com o terceiro setor, representado por associações como Abadá Capoeira, Apae, ASBMR, Aciap, Sesi, Firjan, além de outros grupos informais, além ainda da participação do segundo setor, os apoiadores das empresas pertencentes ao mercado. Ou seja, os principais steakholders que um órgão de administração indireta como a Fundação deve ter.

Depois de dois longos anos de muita ginga e estratégia política, chegou às mãos do Conselho a proposta de construção do Teatro Municipal de Barra Mansa. Conseguimos às duras penas rever o projeto inicial, que era horroroso, previa um auditoriozinho, com uma verbinha mixuruca. Mas existia! O projeto revisto será inaugurado no início do mês que vem, com todas as alterações que o Mury concordou em fazer. O Teatro Municipal de Barra Mansa não será o Theatro Municipal com “th”, nem mais será um teatro, um edifício teatral, será uma simples sala de espetáculos. Multiuso. E é o que tem pra hoje.

Discutir cultura com a política

Em ano de eleição, resolvemos discutir cultura com a política. Resolvemos retomar as articulações com o Ponto de Ação Cultural, o PAC, em abril de 2012, e propusemos, em parceria, um amplo debate sobre o assunto na III Conferência Livre de Cultura. Convidamos representantes dos Legislativo e Executivo municipal, da Comissão de Cultura do Legislativo estadual. O Mury não foi. Vinte e dois coletivos de criação apenas ouviram as palavras da representante da Alerj, a deputada Inês Pandeló, que ainda não era candidata à prefeitura e esteve presente.

Postei aqui seis vídeos com o candidato José Renato e a candidata Inês Pandeló falando sobre política cultural e cultura ( 1, 2, 3 e 4). Jonas Marins não foi. Não sei o que o Jonas Marins pensa sobre cultura. Ele não me disse nada além de: vamos nos falar! Mas não nos falamos. Então, o que posso esperar do futuro da política cultural de Barra Mansa é tentar entender os passos que o futuro prefeito dá em suas escolhas políticas. Como tentei entender o que me dizia um cartaz no Ilha Clube com seu nome como realizador de uma festa e, também, com a indicação do Claudinho para superintendente de cultura da Fundação.

O que esperar do Claudinho...

O que posso esperar do Claudinho, ou melhor, do Superintendente da Fundação de Cultura de Barra Mansa nos próximos quatro anos?

1 - É que perceba que Barra Mansa é um rincão de histórias que precisam ser contadas e, principalmente, continuadas.

2 - Espero que o novo superintendente articule a lei do Sistema Municipal de Cultura que está sendo discutida pelo atual Conselho Municipal de Cultura, ainda em 2013.

3 - Que trabalhe e pressione mais a Câmara para aprovação dessas leis.

4 - Espero que assuma o Tulhas do Café como algo que precisa ser movimentado com o teatro de Barra Mansa e não vire uma piscina com água parada.

5 - Que faça do Tulhas do Café um espaço de produção de conhecimentos.

6 - Que transforme o Parque da Cidade em Parque Cultural da Cidade, que dê espaço para o Carnaval, que devolva o espaço público para o povo com as festas de rua.

7 - Espero que não traga o ranço do know-how da política cultural de Volta Redonda com valorização e investimento em grandes nomes da cultura de massa e vire as costas para os grupos da cidade.

8 - Que possa atuar como um Villa-Lobos, eruditizando o popular e popularizando o erudito.

9 - Que possa atuar como Vinícius de Morais, criando nos bairros embaixadas populares da cultura do povo.

10 - Espero que o Claudinho utilize seu poder, sua voz, e transmita Barra Mansa como ela é. Transmita a voz do seu povo, seus hábitos, seus costumes, sua identidade. Essa é, ou será, a nossa Cultura.

Por Rafael Crooz  –  rafaelcrooz@hotmail.com

3 Comentários

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  • Yasmin

    O Projeto Cultura para Todos é legal, mas é para poucos.Os artistas locais NÃO são valorizados.
    E tomara que Claudio Chiesse pegue carona nos bons projetos de BM, se der continuidade ele já estará no lucro.Uma Secretaria de Cultura não pode ser uma zorra, como temos visto em VR, por exemplo, cheia de gente que nada faz para a Cultura a não ser a si próprio.

  • Evaldo Ribeiro

    Claudio Chiesse vai surpreender muitas pessoas, o autor desse texto achou que fosse ele o escolhido para assumir o cargo?

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