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Exposição

Zaqueu Pedroza também fala de flores na Toca do Arigó

Artista utiliza materiais diversos, como fotografia, objetos, quadros e textos filosóficos em instalações de contexto conceitual

Entrevistas  –  08/01/2013 19:22

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(Fotos: Divulgação)

"Sou um cara que aceito qualquer

tipo de crítica, até deboche"

 

A força da expressão de Zaqueu Pedroza está unida a várias vertentes artísticas que ele experimentou em sua vida. Sua capacidade de observação e experimentações criam um estilo único que não passa despercebido aos olhares, celebrando um elogio ao simplesmente belo e provando o ápice da criatividade estampada em suas instalações. "Pra não dizer que não falei das flores" é o nome de seu mais recente trabalho, mas, antes de falar exatamente da criação, vale a pena conhecer a trajetória de vida do criador. 

O fascínio que começou cedo... 

- Comecei cedo pelo que me lembro, aos 12 anos tinha mania de fazer rabiscos com lápis grafite, umas coisas meio que surreais em folhas de caderno. Nessa mesma época me envolvi com dança clássica, no princípio matava aulas pra fazer balé. Aos 15 anos me envolvi com moda e teatro, desfilando em passarela e já produzindo figurinos, coreografias e cenários. Depois resolvi ficar somente com dança, já não gostava mais do clássico, na época depois de assistir a um espetáculo da companhia David Parsons pensei: Acho que posso fazer isso.

Fui me envolvendo com grupos em academias de dança e me apresentando em festivais de Volta Redonda promovidos pela prefeitura. Fiz muita coisa ao mesmo tempo, até que surgiu a necessidade de me formar profissionalmente em alguma carreira, afinal, precisava ganhar meu dinheiro. Tentava cursos técnicos, mas não chegava a concluir. Então, numa ansiedade ou sei lá o que, chutei o pau da barraca e me envolvi com religião, cheguei até a fazer vocacionado em uma congregação em Aparecida do Norte. Me encantei foi com arte sacra e todas aquelas construções maravilhosas, conheci a filosofia, mas não queria ser padre.

Desistindo, voltei a fazer o que realmente me fazia completo: arte - em todos os sentidos. Criei um grupo de dança - o Linha Corporal. Lembro com muita emoção nossa primeira apresentação, no Teatro Santa Cecília, e última também. Nesse período eu já tinha me formado em técnico de enfermagem e já trabalhava. Fazia plantões noturnos para poder dar aulas de dança e coreografar o espetáculo junto com meu grupo. A febre da moda era lambada.

Mudança para São Paulo.

- Eu ia muito lá para assistir ao Carlton Dance Festival. Montei uma releitura do musical "Xanadu" e o "Pecado de Adão e Eva" - essas foram as apresentações aqui para o Teatro Santa Cecília, que não duraram mais do que um mês. Na loucura, decidi ir pra São Paulo e tentar continuar por lá o que fazia em Volta Redonda. Depois de cinco anos só trabalhando em hospitais, conheci um diretor de uma galeria de arte em Santo André e, por convite dele, que viu os trabalhos que havia em meu apartamento, que realizei minha primeira exposição com tema - inspirado na fotografia. Conheci, a partir daí, pessoas envolvidas com teatro, dança e artes plásticas. Assistia aulas na Mackenzie, junto com uma grande amiga que estudava artes e depois Faap-SP.

Definições do artista...

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"Quero falar sobre o conceito de liberdade, do racismo e preconceitos,
de educação e a importância da leitura como meio de conhecimento"

- Como artista plástico sou autodidata e minhas ideias artísticas com certeza surgiram de todo esse universo de busca pela vida e realizações. Sou muito curioso e sensível a todo movimento artístico, seja em que área for, procuro lidar muito com o movimento e a liberdade de me expressar, lógico que com muita ética. Não me preocupo muito com o belo, procuro fazer o melhor e sempre melhorar a cada evento. Acho melhor dizer inspirações do que ideia. Aprendi com minhas próprias pesquisas e com outros artistas maravilhosos que conheci por lá. Foram 20 anos, depois que voltei para Volta Redonda nem muita coisa mudou, arte é arte em qualquer lugar, essa talvez seja minha grande ideia artística, e, claro, todo artista tem seus ídolos, seus mestres, seus inspiradores, sua id e sua vaidade, trabalhei isso com muita terapia. 

Expressionismo, mestres e inspirações. 

- Tenho grande paixão por expressionismo abstrato, além também da pop art e geometrismo, gosto muito de cor, e do desenvolvimento que a arte toma a cada ano, e mais, as mudanças hoje acontecem muito rápidas. Procuro nas minhas pesquisas buscar uma sensibilidade tanto nas obras, quando na vida desses mestres inspiradores nas artes plásticas - Pollock, Barnnett Newman, Frida Kahlo, Yves Klein, Hélio Oiticicica, Mondrian. Tenho inspirações também buscadas de filmes, músicas, teatro, dança e fotografias. 

Definições da arte... 

- Difícil, acho mais fácil definir meu nariz - grande, torto e quebrado, ou outra parte do meu corpo, gosto de olhar muito uma pintura ou um objeto que termino, ou uma fotografia que faço. Não procuro definir o belo, gosto de ter uma sensação de que o trabalho está terminado e que me faça capaz de gostar dele. Já reconstrui muitas coisas que criei pelo simples detalhe de uma cor não estar adequada com a síntese toda da arte. Faço releitura muitas vezes das minhas próprias criações, sei lá, talvez por estar num estado de espírito diferente.

É claro que arte tem uma definição, é só procurar no Google, mas nem toda obra tem obrigação de ter um título, gosto quando alguém vem até a mim e define por ele mesmo o que sentiu. Não sei, mas acho minha arte já que preciso ou por ser perguntado o que define é muito simples: Quem vê, julgo eu, precisa ter uma certa sensibilidade. Cara, eu vejo arte num simples brilho de uma bolinha de gude, então fica difícil mesmo definir, uma instalação é pior ainda.

Como foi o processo de escolha para esse trabalho?

- Escolhi como foco principal a fotografia. "Pra não dizer que não falei das flores" são instalações de contexto conceitual onde utilizo materiais diversos como a fotografia, objetos, quadros e textos filosóficos em um único espaço. A intenção é de que cada espectador, ao ver, tenha o seu pensamento como pessoal sem querer causar uma polêmica.

Das fotografias - são cliques de pessoas e lugares por onde estive -, deixo claro que não não sou um fotógrafo, mas sim um observador. Cada fotografia se torna uma poética ou um pensamento filosófico, depende de quem vê, são em preto e branco e mescladas com outras coloridas de eimagens de flores - de onde me veio a idéia do tema.

Das outras obras - são quadros e objetos que representam numa releitura o que o espectador possa ter sentido ao ver as fotografias.

Filosofia nas cores e flores...

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Quadros e objetos representam numa releitura
o que o espectador possa ter sentido ao ver as fotografias

- Quero falar sobre o conceito de liberdade, do racismo e preconceitos, de educação e a importância da leitura como meio de conhecimento, falo de bala perdida e de esperança de tirarmos a venda dos olhos e enxergar o mundo não só como espaço que ocupamos, partindo do principio de que o homem não é uma ilha, querendo acreditar que ainda existem pessoas preocupadas com tudo que vive e existe ao seu redor, a intenção realmente é deixar quem ver tirar suas próprias conclusões. Entendo que, ao pesquisar sobre a arte conceitual, veio me trazer meios simples de expressar minhas inspirações, o difícil é saber como começar e quando parar, porque vem à mente uma mega tempestade de ideias.

Como é sua relação com as críticas?

- Sou um cara que aceito qualquer tipo de crítica, até deboche. Então deixo as pessoas definirem, sentirem o que quiserem. Fiquem à vontade. Uma pintura não tem fim, penso, mas chega uma hora que o artista precisa assinar. Pra terminar cito um depoimento de Pollock a uma crítica de suas obras. "A pintura abstrata é abstrata, entra em confronto consigo. Houve um crítico há algum tempo que escreveu que os meus quadros não tinham nem príncipio nem fim. A sua intenção não era a de tecer um elogio, mas foi o que fez, foi um belo elogio."

Serviço

> Pra não dizer que não falei das flores - Toca do Arigó. Aberta ao público a partir de 8 de janeiro. Rua Crispim Assis Pereira, 67 - ao lado do posto AP da Amaral Peixoto, descida da Colina -, no São Geraldo, Volta Redonda.

Por Elisa Carvalho  –  elisacarvalho.br@gmail.com

3 Comentários

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  • Caetano Barros

    Fui lá na Toca e não vi exposição nenhuma. Favor falar o dia certo.

  • Lélia

    Bastante legal falar da sua tragetória... Muito boa a entrevista.
    Sucesso na exposição.
    Beijos!

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