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Consumo Cultural

A cultura alternativa da região é fazer a sua arte

Escrever para um veículo como este é uma missão desafiadora; depois que inventaram a democracia, a vontade da maioria (e não de todos) dita as regras da casa

Indicados ao Prêmio OLHO VIVO  –  26/09/2012 20:58

Tarsila

(Foto: Reprodução) 

“Os operários”, de Tarsila do Amaral

Primeiro, percebo que temos um público aqui no site que tem uma opinião e um interesse em consumo cultural amplo, atende a diversas camadas da sociedade, desde as socialites ricaças até ao público de poder aquisitivo mais baixo. Vemos aqui os que gostam (e não gostam) do Naldo, do funk, do teatro popular, de moda, da alta costura, de gastronomia requintada, de rock pesado, samba de raiz, artesanato reciclável, novelas, poesias, da política etc. 

Segundo, não sei se todos nossos leitores têm bem esclarecido o que vem a ser Arte e Cultura. Mas as discussões, debates e opiniões postadas no OLHO VIVO têm algo em comum: todas expressam a Cultura da nossa região.

Alguns mestres em filosofia descreveriam a Arte como sendo algo inútil. Quanto mais valor tem, pra menos coisa serve. Esses veem a Arte como o fato consumado pronto para ser consumido nos cadernos de cultura. Alguns mestres populares entendem seu fazer cultural como uma arte nata, como os griôs contadores de histórias, mas que não necessariamente são vorazmente consumidas tão pouco estão no hall das mais belas artes do Louvre.

A percepção do fazer artístico e cultural

Desde que Gilberto Gil assumiu o ministério da Cultura em 2003, grandes mudanças começaram a ocorrer na percepção do fazer artístico e no fazer cultural no país e, obviamente, no Estado do Rio. Primeiro, Gil definiu que o Ministério da Cultura não deveria trabalhar apenas pelas artes, se não pela valorização dos hábitos e costumes, ou seja a Cultura. As artes estão incluídas nesse bolo e não apenas como uma cereja, e sim uma grande fatia. Mas a Cultura tem a ver com cultivo, tudo aquilo que pode ser semeado e gera frutos, e não necessariamente está atrelado a um valor estético, a uma percepção de bom ou ruim, e sim do fazer, do como fazer as coisas, do comportamento.

Ora, como se faz o bem cultural nesses municípios do Sul Fluminense? Como se manifestou a Fundação de Cultura de Barra Mansa recentemente “como dá”. É assim que eles pensam... Mas já volto ao nosso rincão e às reflexões sobre ele. Outro grande fator que distinguiu a gestão Gil dessa última que tivemos (tenebrosa) é que o Ministério da Cultura jamais deveria trabalhar para os artistas. Pensar dessa forma é quase um absurdo. É como a especialista em Economia Criativa e Desenvolvimento Lala Deheinzelin diz “o Ministério da Saúde não trabalha para os médicos, ele trabalha para a comunidade”.

Ministérios devem trabalhar para a comunidade

Nos cinco anos e meio que assumiu a pasta, Gil esclareceu que o Ministério da Cultura, assim como qualquer outro ministério, deve trabalhar para a comunidade, ou seja, as unidades comuns que produzem a riqueza deste país; e o que vai continuar gerando riqueza neste país é tudo aquilo que se produz baseado em materiais que não se acabam, como a criatividade, o conhecimento, as formas de viver e se relacionar, ou seja, bens intangíveis e aqui falamos de ecologia e economia dentro da arte e cultura.

Nossa, agora demos um volta? Não, voltemos ao ponto de partida. Voltemos à reflexão do que se trata esta coluna: Arte e Cultura na região. Arte e/ou Cultura, podemos deixar mais claro dessa forma. Colocar numa bandeja a Arte e a Cultura da nossa região é tecer uma colcha de retalhos que começa desde os conselhos municipais de políticas culturais (que em alguns municípios existem, em outros não e em outros fingem que existem), passa pelos quilombos, pelas produtoras de doces em compotas, pelas feiras da roça e pelos seresteiros; costura nessa colcha os foliões, as tecelãs, as escolas de samba e ainda alinhava os músicos, atores e pintores. Ora, se temos uma gama de fazeres culturais tão amplos e que não estão necessariamente fundidos com a ideia de Arte, como são elaboradas as políticas culturais para esse setor? Quais são as estratégias de desenvolvimento por meio da cultura dentro das secretarias? O que entendemos por desenvolvimento? Para que raios serve uma Secretaria de Cultura?

A cultura é um negócio lucrativo?

Se há um consumo amplo do funk carioca ou do pagode nas boates de Volta Redonda isso quer dizer que há toda uma indústria que está lucrando com isso. Esse é o grande foco da indústria, lucrar. Mas e o da cultura? A cultura é um negócio lucrativo? Ora, para a Secretaria de Cultura de Volta Redonda talvez sim, afinal possui um secretário que acredita em plano de carreira para secretário (!!!), investe tudo o que pode e não pode na política de eventos de caráter popular e abrangência midiática. O que se pode esperar do foco de consumo dessa população, a não ser as alternativas que lhes são oferecidas, como as casas noturnas e o Música Para Todos? Mas espera aí, isso tudo não é Cultura? Não é arte? Depois que inventaram a democracia, a vontade da maioria (e não de todos) dita as regras da casa, ou seja, a nossa economia dentro da nossa eco-logia. Se Volta Redonda age assim, essa é uma das culturas desse povo.

No fim de semana, 22, foi realizada uma festa para arrecadação de verba para um projeto social com base no fazer teatral de rua, a Festa do Tomada Urbana Ato IV. O evento foi realizado na sede do ECFA (Espaço Cultural Francisco de Assis França), na Vila Mury, em Volta Redonda, em parceria com o Coletivo Teatral Sala Preta. A programação da festa estava repleta de atrações locais, de artistas que são sangue do nosso sangue, além de ser realizada por instituições que não visam o lucro, se articulam com camadas da sociedade extremamente abandonadas por essas mesmas secretarias e têm a cultura como prática de suas vidas. Nas primeiras horas da festa, enquanto o público estava morno, chegando de leve, um dos músicos comenta: “Ae, sabe o que ia fazer esta festa bombar? Colocar a luta do Berfort aqui neste telão!”. Daí a questão: hã?! Então qual seria a alternativa para aqueles que não se interessam pela luta, pelo funk, pelo pagode, nessa noite?

Fazerem sua Arte.

Por Rafael Crooz  –  rafaelcrooz@hotmail.com

2 Comentários

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  • luisinho ribeiro

    este cara tá falando de cultura dou ta fazendo propaganda da sala preta?

  • Angelo Hottz

    Parabéns pelo texto Rafael! A Região precisa desse impacto de boas manifestações culturais! Abraço.