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Bate Papo

Victor Gomez, um artista em benefício dos outros

Ideias, conquistas e realizações do ganhador do Prêmio OLHO VIVO 2014 na categoria Livro merecem ser fonte de inspiração para todos

Entrevistas  –  31/07/2015 10:53

Publicada em: 21/07/2015 (12:24:34)
Atualizada em: 31/07/2015 (10:53:17)

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(Foto: Divulgação)

"Quero viver mais e melhor, transformar minha vida e de quem
puder para melhor, ajudar mais, não deixar de ser voluntário"
 

Victor Gomez, ganhador do Prêmio OLHO VIVO 2014 na categoria Livro ("Universo interior"), é um artista com toda a disposição de traduzir as oportunidades que a vida oferece em benefício do outro. Suas ideias, conquistas e realizações merecem ser fonte de inspiração para todos os que pretendem seguir adiante com o objetivo de transcender o presente para iluminar o futuro de quem acredita na força da arte acessível para todos. Conheça um pouco mais de seu rico universo: 

. Você é escritor, artesão, ator, artista plástico e educador social. Qual desses talentos você conheceu primeiro? 

Eu sempre trabalhei com artesanato, mas depois é que chegaram as outras aptidões. Ator ainda jovem no Grupo Lágrimas de Cristal e depois no Garra Suburbana. Educador social quando trabalhei como terceirizado para a Prefeitura do Rio, em um abrigo para crianças e adolescentes em situação de risco social. Acho que em 1998. 

. O primeiro livro. 

Nesse mesmo ano escrevi meu livro, "Universo interior", premiado no OLHO VIVO 2014, em apenas um mês, mas só consegui publicar 15 anos depois, já morando em Valença, pela Editora Patuá, do grande empreendedor literário de São Paulo, Eduardo Lacerda.

Logo depois criei uma ONG quando morava em Seropédica, na baixada Fluminense.O projeto que realizei na cidade mudou minha forma de ver a vida, trouxe para mim e para os voluntários que dele participaram uma experiência das mais enriquecedoras. Nascido da vontade pura e simples de ajudar o próximo, o CECI, foi um trabalho onde todos nós nos doamos por inteiro, para que as crianças e adolescentes daquela comunidade tivessem mais opções de escolha para seu futuro. O carinho e o amor depositados por todos naquele trabalho deixaram marcas em cada criança que frequentou aquela instituição, uma bela lembrança que nunca mais será esquecida. Muitas dessas crianças, hoje jovens e adultos, ainda mantêm contato comigo, o que me deixa muito feliz.

. Você acha que houve uma evolução no mercado editorial? 

Quero sempre acreditar que tudo melhora. Que não vai mais haver roubalheira, corrupção, e outras coisas mais, mas tudo tem ficado mais difícil para tudo, e o mercado editorial também foi afetado. Estou longe dos grandes centros, mas com a internet divulgo meu trabalho com mais facilidade, mas para publicar um livro é complicado. Só tenho a agradecer ao editor Eduardo Lacerda, que por amor ao seu trabalho, vem fazendo um grande incentivo à leitura em nosso país, publicando bons autores, alguns até premiados, depois de conseguirem publicar seus livros pela Editora Patuá.

. Sonhos cumpridos. 

O projeto CECI foi fruto do amor, carinho e dedicação de pessoas que realmente acreditavam no que estavam fazendo. Um trabalho que buscava a melhoria da autoestima de crianças e adolescentes daquela comunidade e que tinha como meta mostrar que todos têm possibilidade de ter um futuro melhor. 

Ter sido fundador do Centro Cultural Criança Cidadã e ter trabalhado com voluntários da melhor qualidade foi a experiência mais enriquecedora da minha vida. Digo isso, por lembrar de um tempo em que fazíamos um trabalho de qualidade com dedicação e desprendimento.

Citar nomes não é o que importa, todos sem exceção sabem o que sinto e o que penso de cada uma das pessoas que dividiram seu tempo e seu amor com um trabalho que tinha o propósito de dar dignidade e cidadania a todas as crianças que frequentavam o CECI. 

Não é difícil criar uma ONG, mas dá muito trabalho geri-la.

No momento faço e vendo artesanato na Feira Hippie de Ipanema. Mas aqui em Valença trabalho com internet, divulgação e criação de sites e blogs e rede sociais, Facebook etc. Também com fotos e filmagens. E sou voluntário na AGFORV (Associação de Grupos de Folias de Reis de Valença).

Nunca esqueça que tudo pode mudar a qualquer momento para melhor, basta apenas que mudemos nossa forma de pensar e se comportar.

Vale a pena lutar pelo que se acredita, mesmo que seja difícil e que vários empecilhos obstruam o caminho.

E por motivos de divergência interna me afastei e fundei o Centro Cultural Criança Cidadã no mesmo local em 2000.

. Essas inquietações são nascedouras da grande vontade do artista em entender o mundo?

Acho que sim. Uma busca, uma vontade imensa de participar, de ajudar mais, e com isso se ajudar mais. Agora mesmo escrevi uma frase minha no Facebook: Todo dia é um bem que recebemos, devemos utilizá-lo da melhor maneira possível, distribuindo mais amor, compartilhando nosso conhecimento, espalhando cidadania para todos. Sempre senti isso, as inquietações, só não sabia como canalizar esse potencial. Aos poucos nos descobrimos, aos poucos a vida vai ensinando o caminho. É um fazer e refazer constante, caindo e levantando, buscando o errar menos e ajudar mais.

. O próximo livro.

"A Semente" surge de um tempo imemorial, de recantos escondidos da mente, de lugares onde nem sempre estivemos. Quem sabe até percorremos esses lugares, mas tantas são as lembranças, e de serem tantas, nem todas conseguimos nos lembrar.

Visões que podem ser apenas imagens holográficas, películas de um filme encostado no fim do universo. Que se repetem infinitamente, para a frente e para trás. Visões tão imensamente difíceis de imaginar, que nos deixamos levar nessa viagem fantástica, por lugares e caminhos que às vezes até escolhemos, mas nem sempre percebemos se são os certos.

A mente esquadrinha o espaço e o tempo, pode ser nessa vida, ou em outras, mas ao mesmo tempo em tantas outras. Sementes do medo, da incerteza, da alegria, do amor; de uma infinidade de sentimentos, que se estendem para sempre, num infinito de mundos, todos nossos, íntimos, mas ao mesmo tempo um imenso desconhecido.

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De A a Z
  

Admirações - Admiro a atitude de pessoas que começam do zero e alcançam seus objetivos, mesmo quando dizem ser impossível, elas seguem em frente e chegam lá.

Buscas - Busco sempre fazer o melhor possível, mesmo que eu erre, eu tento. Assim vou aprendendo todos os dias. Com meus tropeços, aprendo, e procuro não errar mais. Acho que todo ser humano está em uma busca constante, por saber, por aprendizado, só lhe falta que lhe apresentem as ferramentas corretas. Uma oportunidade é tudo.

Cultura brasileira - Vai mal das pernas, mas deixo aos críticos o trabalho de falar da arte alheia. Às vezes o que eu não gosto pode agradar a outros. Muita coisa tem de ser feita, educação e cultura são essenciais para que o nível cultural aumente. Mas tem novos artistas surgindo, o Brasil é rico em talentos. Aqui em Valença tem tanta gente criativa, poetas, músicos, pintores, escritores. A união desses grupos pode ajudar e muito na melhora desse cenário. Afliva (Feira de Livros de Valença) que acontece aqui em Valença, o Grupo Palavras ao Vento, que vem distribuindo cultura e cidadania, a Fundação Lea Pentagna, e outros tantos movimentos, são transformadores e merecem um olhar mais carinhoso e participativo de todos.

Detalhes - Virginiano preza isso, os detalhes, mas não chego a ser obsessivo. Me policio bastante, observo e ouço muito, para só depois colocar o que penso, então cuido dos detalhes, da organização. As grandes obras são feitas de pequenos detalhes.

Ética - Anda meio sumida do cenário brasileiro, mas acredito em mudanças. Mas as mudanças são feitas por nós, elas não caem do céu. Participar mais para crescer mais, tenho até um grupo sobre isso no Facebook, "Valença Cresce Mais se Você Participar Mais", mas a participação ainda é mínima. Todos têm de aprender que só conseguiremos mudar algo se mudarmos nosso pensamento, uma mudança de consciência é primordial para que isso aconteça. Se as pessoas entenderem que unidos somos mais fortes, tudo é possível, mas sem anarquia, pelas vias legais. Você não está satisfeito com o que está acontecendo, tente mudar o que está aí. A democracia não é relativa, ela é participativa. Participe mais para mudar mais.

Folia de Reis - Sou voluntário da AGFORV (Associação dos Grupos de Folias de Reis de Valença), exercendo a atividade de fotografia, filmagem e divulgação na internet. Um trabalho admirável de Francisco José Figueira Ferreira, o Chico da Folia, um abnegado cidadão valenciano, que luta para que as tradições da cultura das Folias de Reis continuem existindo. Preservar essa cultura não é somente um ato de cidadania, mas é também preservar a arte e a dignidade de um povo, que luta em condições muito difíceis, para manter essa tradição que atravessa o tempo.

Gente interessante - São tantas que não dá para enumerar aqui e se esqueço alguém fica complicado, mas tem dois que não dá pra deixar de falar: Meu pai e minha mãe, seu Victor e Dona Therezinha, sem eles eu não estaria dando essa entrevista, eles são os responsáveis por grande parte de tudo que sei. 

Homenagens - Uma pessoa que transformou minha vida e que me ajuda em tudo: minha esposa Bete, pela sua paciência, pelas suas atitudes corretas, e pela sua vontade de ajudar a todos, sempre se doando de forma altruísta.

Indagações - São muitas indagações, mas a principal é: Conseguiremos melhorar nosso meio ambiente? O ser humano pode desaparecer da Terra, mas o planeta fica, lembre-se disso e seja mais consciente, cuide do que é seu e continuaremos aqui ainda por muito tempo.

Justiça brasileira - Falha. Muita coisa precisa ser mudada, mas só depende da nossa atitude, de lutarmos por um futuro melhor para todos. De tentar fazer um trabalho sério de conscientização com nossas crianças e adolescentes, pois serão elas que poderão mudar esse quadro, porque com essa turma que está na política agora é praticamente impossível.

Liberdade - É um direito seu, que se conquista, mas que não deve ser confundida com libertinagem, respeitar o direito do outro é respeitar a si mesmo.

Mídia marrom - Agora está demais, na internet principalmente. Falar o que se quer, ferindo o outro, não é algo bom. E a internet não é uma terra de ninguém, quem escreve e ofende outras pessoas pode ser encontrado.

Nostalgia - O Rio de Janeiro da minha adolescência era diferente. Eu frequentava o Super Bruni 70 em Ipanema e o MAM. Uma vez entrei para assistir a um show dos Novos Baianos levando a guitarra do Pepeu Gomes, então não paguei a entrada. Eu gostava também de ir até o Pier de Ipanema, olhar o mar e os primeiros surfistas deslizando pelas ondas. Ali nós nos esquecíamos da repressão, num território livre da ditadura militar, onde os grupos se misturavam, apenas curtir o que a natureza nos proporcionava, o belo mar de Ipanema. No ano de 1972 foi realizado ali o primeiro campeonato de surf brasileiro. E não me esquecer de passar na Feira Hippie de Ipanema, que naquele ano fervilhava de turistas e admiradores do artesanato e das artes do povo brasileiro. Assistir ao grupo Módulo Mil, abrindo o show da Gal Costa no Teatro da Praia, em Copacabana, em 1972, foi inesquecível. O Rio de Janeiro me parecia mais bonito e seguro naquela época, mas não era, havia muita repressão que o estado tentava esconder por baixo do tapete.

Ontem - "Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo muda o tempo todo no mundo". Lulu Santos. Adoro essa música e explica bastante sobre a vida, totalmente poética e filosófica.

Prioridades - Viver mais e melhor, transformar minha vida e de quem puder para melhor, ajudar mais, não deixar de ser voluntário, continuar acreditando nas pessoas, ter mais tempo, incentivar a leitura cada vez mais e mais e mais.

Quase lá - Tudo acontece no seu momento. Às vezes sou muito ansioso, mas é assim mesmo, tudo na vida tem seu tempo. Projetos tenho vários, e estão andando, todos, pois não desisto, acredito sempre.

Rebeldias - Corrupção, não gosto, nem um pouco. Muitas pessoas me diziam que era muito difícil criar uma ONG, então fui lá e criei uma. Tive problemas com isso quando fundei uma ONG em Seropédica, outros diretores queriam tirar dinheiro irregularmente dela, então acabei com ela e fundei outra.

Saudades - Sou saudosista, tenho saudades dos meus familiares, meus filhos, das crianças que frequentavam a ONG que criei, tenho saudades de tudo de bom que aconteceu na minha vida.

Travessia - Tudo o que é bom na sua vida vale a pena. O que foi ruim nós viramos a página.

Urgências - Ter mais amor no que se faz. O mais importante é o amor que você emprega no que faz. Quando se faz algo com amor, sua atitude fica impregnada, tudo fica mais fácil e prazeroso.

Vozes - São muitos os artistas que gosto. Mas Caetano Veloso e Marisa Monte são demais. Além de Bob Dylan e outros.

Xícara de café - Não sei, não gosto de inventar muito, só para que digam: Pow, o cara é assim, o cara é assado, quer tomar café com fulano (risos). Vou tomar esse café comigo mesmo, ou com o primeiro amigo que encontrar pela rua, e tentar compartilhar meus pensamentos, e me enriquecer com uma boa conversa.

Zzzzz - Pessoas que não fazem autocrítica, que não reconhecem seus erros, que culpam os outros por sua incompetência.

> Contato: Facebook

Por Elisa Carvalho  –  elisacarvalho.br@gmail.com

4 Comentários

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  • Luis Felipe

    A entrevista é excelente. Conheço o Victor desde 2008 quando ainda trabalhava como voluntário na AGFORV e ele como voluntário em uma ONG do Meio Ambiente. Realmente uma pessoa de caráter. Sempre preocupado com o mundo que o cerca. Gostaria muito de tomar um café em sua companhia.

  • Victor

    Obrigado pelo comentário amigo Luis Felipe. Abraços

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