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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Constelações

Marcelo Nami: o violão como uma orquestra de um só instrumento

Compositor e violonista natural de Barra do Piraí, e que reside no exterior, em entrevista ao OLHO VIVO falou sobre o seu mais recente CD, sua experiência em Israel, o atual cenário musical no Brasil e no mundo, entre outras coisas

Entrevistas  –  02/08/2015 10:40

Publicada em: 29/07/2015 (15:06:51)
Atualizada em: 02/08/2015 (10:40:55)
  

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Depois do show no Sesc Barra Mansa, Marcelo Nami estará no Centro Cultural Fundação CSN, em Volta Redonda, nesta quinta-feira, 6, às 19h30, com participação especial de Ciron Silva.

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"O show representa o novo momento artístico que vivo agora, no qual mesclo elementos musicais do Oriente Médio, do flamenco e da música venezuelana com a sólida base da música brasileira". Marcelo Nami resumiu assim, em entrevista ao OLHO VIVO, o espetáculo "Constelações", que será apresentado nesta sexta-feira, 31, às 20h30, no Sesc (Serviço Social do Comércio), em Barra Mansa, com entrada franca.

O compositor e violonista natural de Barra do Piraí, e que reside no exterior, também falou ao OV sobre o CD "De volta"; sua experiência em Israel; o atual cenário musical no Brasil e no mundo, entre outras coisas que você confere abaixo.

Nami tem experiência internacional, discos e DVDs gravados, além da bagagem de anos atuando como músico acompanhante no estúdio e no palco com Diogo Nogueira, Martinho da Vila, Daniela Mercury, Chico Buarque, Hamilton de Holanda, Ivan Lins e muitos outros grandes mestres da MPB e da música internacional: Yoni Rechter (Israel), Jorge Glem (Venezuela) e Timna Brauer (Áustria).

O repertório do show inclui "O ovo da mosca" (homenagem de Marcelo ao mestre Jacob do Bandolim); "Liberdade" (baião veloz e suingado que abre espaço a improvisações - ele imita ao violão instrumentos de escolas de samba, cria efeitos percussivos no instrumento e agrega elementos da música do Oriente Médio); "Brinquedo de vento", faixa-título de seu primeiro CD; e "Rumores do Norte", misto de harmonia brasileira com acentuado toque flamenco. 

Confira a entrevista com Marcelo Nami

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(Fotos: Divulgação)

"Israel acolhe uma grande quantidade de diferentes povos e culturas, e é realmente uma
experiência enriquecedora morar naquele país e levar para lá um pouco mais da música brasileira"
 

O que o público encontra no CD "De volta"? Como foi o processo de criação/concepção? O que mudou na sua forma de dialogar com a arte instrumental do primeiro para o segundo disco?

Meu segundo álbum, o "De volta", é um marco artístico em minha carreira. Após vários anos pesquisando uma forma de unir a técnica de palheta (pickstyle) à técnica de dedos livres (fingerstyle), encontrei uma solução que mudou radicalmente minha forma de tocar e de enxergar meu instrumento e a música de uma forma geral, que é a utilização da dedeira modificada. Além dessa grande mudança, o "De volta" traz dez faixas autorais e inéditas que foram gravadas sem dobras (overdubbing), ou seja, no show homônimo reproduzo o disco na íntegra (com exceção dos improvisos, naturalmente), sem recorrer a recursos eletrônicos, e mantendo a formação do álbum, que é o violão solo. O "Brinquedo de vento", meu primeiro trabalho gravado, é bem diferente do "De volta". Naquele álbum inaugural, toquei vários instrumentos e convidei grandes nomes da música instrumental brasileira. Tenho muito orgulho desse projeto de estreia de carreira, que abriu muitas portas à minha arte. Já no segundo disco, sem dúvida, realizei um sonho antigo: registrar minhas novas composições, sozinho no estúdio, fazendo com que meu violão soasse como uma orquestra de um só instrumento. 

Do disco pronto e lançado até o atual show, "Constelação", quanto tempo se passou? Como foi a escolha do repertório? E o resultado final? Está exatamente como você imaginou? É um show com repertório fechado ou ele pode mudar, de acordo com o clima do local e o seu sentimento naquele momento?

O disco "De volta" foi produzido em 2014 e lançado, em show homônimo, no mesmo ano. Em 2015 se deu a estreia do espetáculo "Constelações", no qual apresento novas músicas que farão parte do meu terceiro álbum, além de algumas composições do "De volta", do "Brinquedo de vento", e de alguns arranjos próprios para clássicos da música brasileira. A escolha do repertório do "Constelações" se deu, principalmente, em função deste novo momento artístico que vivo agora, no qual mesclo elementos musicais do Oriente Médio, do flamenco e da música venezuelana com a sólida base da música brasileira. Flexibilizo um pouco o repertório de acordo com a realidade dos países em que apresento esse show, mas o roteiro foi definido com bastante antecedência. A surpresa, no entanto, acontece a cada improviso, que incluo na maioria das músicas do show. Algo como 40% do que se escuta no espetáculo é improvisado, gerando um grande interesse por parte do público, que acompanha, interage e me inspira a criar durante essa experiência musical. 

Você é de Barra do Piraí. Está há quanto tempo morando no exterior? O que o motivou a mudar-se? Como foi esse processo de adaptação? As realidades são muito diferentes do Brasil/exterior. Que análise você faz desses cenários tão distintos?

Acredito que uma mudança de cidade ou país possa ser positiva para o artista, desde que ele saiba aproveitar e aprender o que há de diferente e interessante na nova cultura. Há quase cinco anos mudei-me para Israel e foi exatamente isto que procurei fazer: aprender tudo o que fosse ligado a arte, cultura, costumes, idioma etc. Israel acolhe uma grande quantidade de diferentes povos e culturas, e é realmente uma experiência enriquecedora morar naquele país e levar para lá um pouco mais da música brasileira.

Viver de arte/música no Brasil é muito complexo. Música instrumental, ainda mais. Esse foi um dos fatores que pesaram para a sua mudança? Quais os pontos positivos você destaca no Brasil, no que se refere à música?

O Brasil é um país extremamente musical, riquíssimo culturalmente. Nossa música é cultuada nos quatro cantos do mundo. Os desafios que os artistas da música instrumental enfrentam são, em minha opinião, os mesmos em qualquer país. Há muitas possibilidades no Brasil para o músico instrumentista, vários espaços para apresentar seu trabalho, festivais espalhados em inúmeras cidades e principalmente um público com ouvidos atentos e coração aberto à boa música. 

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"Nosso país é realmente privilegiado artisticamente; com certeza, com mais espaço
na mídia, pode-se ainda potencializar a música instrumental, um nicho tão importante" 

Barra do Piraí, especificamente. Mesmo de longe, você acompanha o que acontece na sua cidade, em termos musicais? Sente que houve uma evolução? O tempo em que viveu em Barra, quais as lembranças positivas? E quais as maiores dificuldades enfrentadas para a sua formação?

Em 1998 me mudei para a capital do estado para me desenvolver musicalmente e abrir novos horizontes em minha carreira. Conheço grandes músicos nascidos em Barra do Piraí ou em outras pequenas cidades que fizeram o mesmo. Há um momento na vida do músico em que ele naturalmente procura os grandes centros para seguir em frente. O lamentável é que as escolas de música, em sua grande maioria, não priorizam ou até mesmo praticamente não abordam em seus programas de ensino a música brasileira, dando preferência a estilos que não são originalmente de nosso país. 

Arte não se define, não se enquadra. Mas como você racionaliza sua maneira de tocar violão, quando a pergunta é sobre seu estilo e técnica?

O maior desafio para mim era fundir os estilos e instrumentos que toquei nos 25 anos de carreira e criar algo novo. Procuro, em vários momentos, fazer com que meu violão soe parecido com um oud, piano, oboé, cuíca ou tamborim. Além disso, mesmo na formação solo, a improvisação sempre foi parte fundamental de meu estilo e, após a introdução da utilização da dedeira modificada no violão, abriu-se um leque de possibilidades musicais de forma abrangente e definitiva, mudando completamente minha maneira de tocar e consolidando meu estilo musical: brasileiro e universal ao mesmo tempo 

Para chegar a essa forma tão pessoal de tocar, quais foram suas influências? No Brasil e no mundo.

Paco de Lucia sempre foi minha maior influência; seu respeito pelo violão e pelo flamenco era algo indescritível. No Brasil, sem dúvida, Raphael Rabello foi minha grande inspiração. Toninho Horta e suas divinas harmonias estão sempre comigo. Sem falar em Hermeto Pascoal, Nelson Freire, Armando Macedo, Jacob do Bandolim, Ivan Lins, Elis Regina - enfim, nosso país é mesmo privilegiado musicalmente! 

Há músicos regionais que você tem um carinho especial e admira? Quais?

Aprendi muito com o amigo e baterista barrense Cesar Machado nos vários anos em que juntos tocamos no Rio de Janeiro. Rogério Valente foi meu professor de harmonia e guitarra, em Volta Redonda, e me apresentou a harmonia funcional, universo amplo que abriu as portas para a improvisação e para o crescimento de minha arte. Na infância, com meu primo André Conforte, de Mendes, aprendi os primeiros "truques" na guitarra e a desenvolver meu ouvido musical. 

Público existe para todo tipo de arte. Para a música instrumental no Brasil, o que poderia ser feito para ampliar essa convivência, esse hábito de ouvir mais essa manifestação artística?

Há, como disse anteriormente, um público de qualidade que gosta, ama e entende do assunto. Nosso país é realmente privilegiado artisticamente. Com certeza, com mais espaço na mídia, pode-se ainda potencializar esse nicho tão importante. 

Você segue em turnê com o atual show até quando? Depois disso. Projetos. O que vem por aí?

A estreia do "Constelações" foi em Israel e agora, no Brasil, será o fim dessa temporada. Depois de uma breve passagem pela Europa (Eslovênia) em setembro próximo, retomo, em Israel, as apresentações com o projeto Marcelo Nami Duo, que conta com o talento e a competência do baterista israelense Noam Landsman, no show "O sétimo dia". 

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Serviço

> Constelações - Marcelo Nami. Violão. Data: 31 de julho (sexta-feira). Horário: 20h30. Entrada franca. Local: Sesc Barra Mansa. Endereço: Avenida Tenente José Eduardo, 560, Ano Bom. Informações: (24) 3324-2807. Realização: Sesc Rio. Apoio: Rádio Nova Sulfluminense. Acompanhe as novidades sobre Marcelo Nami no site oficial do artista e em seu canal no YouTube.

Edição impressa

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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