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Nova Era

Ministra nova, vida nova para a Cultura?

Marta Suplicy inicia mandato à frente do Ministério da Cultura; o castelinho de areia de Anna de Holanda caiu

Indicados ao Prêmio OLHO VIVO  –  15/09/2012 20:22

Martha

(Foto: Divulgação)
Expectativa: Marta afirmou em seu discurso o incentivo à internet e seus processos criativos

Enfim, uma era curta porém devastadora deu ares de que já era. Juntamente com o aniversário de 11 anos do 11 de setembro, outra torre caiu, o castelinho de areia de Anna de Holanda. Na quinta-feira, 13, iniciou-se o mandato de Marta Suplicy à frente do Ministério da Cultura. A era, e podemos chamar assim, de Anna de Holanda foi o período mais turbulento, controverso, retrocedido da pasta da Cultura dos dez anos de poder do Partido dos Trabalhadores.

As excelentes ações fortemente idealizadas na gestão Gil, os projetos desenvolvidos no período Juca, transformaram o cenário cultural brasileiro numa potência econômica não mercadológica. Ou seja, “economia” no sentido humano, a ciência humana que sempre foi, o desenvolvimento das “regras da casa”, oikos (do grego “casa”) + nomos (costume ou lei) e “não mercadológica”, pois desenvolvemos um modo de valorização das culturas não centralizadas no eixo Rio-Sampa, que transcendem o interesse das grandes marcas, o “brandilismo”, apesar dessa ser uma estratégia ainda em transição.

A verdadeira partilha

Não sou ingênuo de pensar que “A Partilha”, peça de Miguel Falabella que traz entre as estrelas “chamuscadas” como Suzana Vieira e com “grandes” nomes, foi uma produção independente. Mas a verdadeira partilha vem aparecendo nos editais públicos. Aos poucos, estamos percebendo os planos de trabalhos sendo executados. O Prêmio Petrobras Cultural, os editais do MinC, obrigam as verbas circularem pelo nordeste do país, os projetos inscritos por lá já figuram com 2 pontos à frente de qualquer proposta do Rio ou São Paulo.

A PEC da Cultura aprovada em tempo e volume recordes, um dia antes da posse da nova ministra Marta, reascende a esperança da correção do sistema Ruanet. Não somente isso, como demonstra que alguma coisa mudou. E mudou radicalmente. Está mudando. Organizar as regras da casa foi a ação número zero da nova ministra. Com 54 votos a favor, em primeiro turno, três sessões de discussões e votações em segundo turno numa mesma noite, fez com que a ministra Suplicy agradecesse o empenho dos senadores. Empenho de véspera. Empenho chave que abre as portas da economia cultural brasileira para uma bem definida nova era. A era Holanda já era!

Costuras bem amarradas

A nova saia do ministério já está bordada de rendas e costuras bem amarradas. Em que território Marta Suplicy vai rodar a baiana? Tendo os alinhavos cooperativos entre os entes federados (União, estados e municípios) com a obrigatoriedade de repasse de recursos de forma progressiva, a PEC da Cultura estabelece as matrizes do Sistema Nacional de Cultura. Batalha travada arduamente pelas principais redes artísticas do país.

No discurso de despedida, Anna de Holanda delira ao dizer que sua gestão foi de continuidade. A única coisa que ela não fez foi dar continuidade às estratégias dos seus antecessores. Após esse vácuo gestatório, podemos ver uma nuvem negra se dissipando, o céu se abrindo (juntamente com novos editais). E que roguemos para que sejam pagos! Ainda há milhares de reais não pagos de editais como o Prêmio Areté, que o MinC insiste em calar a voz daqueles que reclamam o pagamento!

A relação com as instituições do terceiro setor

Outro desafio que a nova ministra deverá superar é o da relação com as instituições do terceiro setor. Esse é o setor que mais cresce no Brasil e no mundo. As estatais e a própria máquina de governo, que deveriam realizar a prestação dos serviços públicos, ficam cada vez mais, nesta segunda década do terceiro milênio, à deriva das coorporações que representam o segundo setor. As corporações estão dominando tudo! Ou seja, muito em breve o próprio Estado não terá função executiva, se não a administrativa, apenas de repasse de verba. Então ficaremos com a pergunta: cadê o governo?

O terceiro setor, as ONGs, associações, fundações, levaram um gelo da presidenta Dilma no ano passado, sofrendo consequências sérias em suas estruturas financeiras. Marta deverá coordenar não apenas a fiscalização do repasse dessas verbas públicas, provindas das isenções de impostos das empresas, repassadas para as pessoas jurídicas sem finalidades de lucro, como também criar caminhos para o fortalecimento desse setor. No fim de seu mandato, a ex-ministra Anna de Holanda (que felicidade poder dizer “ex”) criou a Secretaria de Economia Criativa. Atividades ligadas à moda, arquitetura, desing e novas mídias terão uma concentração da atenção da mesma maneira que as manifestações folclóricas, que as ações dos quilombos, o samba de roda do Recôncavo.

Em seu discurso de posse, a ex-vice-presidente do Senado, agora ministra da Cultura, afirma o incentivo à internet e seus processos criativos, esperando entender melhor esses caminhos. Esse alento vem de encontro a tudo que esperamos de qualquer gestão da pasta Cultura.

Então, você, caro amigo leitor, o que espera desta nova cara do Ministério da Cultura?

Por Rafael Crooz  –  rafaelcrooz@hotmail.com

3 Comentários

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  • Kika Monnteiro

    Muito boa a matéria! Parabéns Rafael...Tenho gostado muito dos seus textos!

  • Felipe Branco Cruz

    Quero ler novas colunas. Rafael, vamos atualizar esse espaço com mais frequência!

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