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Crônicas de Humor e Entrevistas Poéticas

Isabel Furini

isabelfurini@hotmail.com

Vivências Cotidianas

Francine Cruz - Vida transformada em literatura

Professora e escritora que tem livro traduzido para o espanhol, em Buenos Aires, fala sobre a sua trajetória e a arte de escrever também para o público infantil

Entrevistas  –  23/09/2023 17:35

Francine
 
(Foto: Divulgação)

“Qualquer assunto pode ser abordado por qualquer pessoa, e já foi o tempo de se falar em literatura feminina de forma pejorativa, como uma literatura menor, que fala de temas menores. Opto pelo termo literatura de autoria de mulheres e não literatura feminina”.

A nossa entrevistada é Francine Cruz.
Nasceu em Curitiba (PR), é professora e escritora, licenciada em Educação Física e Letras Português-Inglês, mestre e doutoranda em Educação (UFPR). É autora, entre outros, dos livros “Amor, Maybe” (Ícone, 2011), “A Casa dos Dois Amores” (Audiolivro, 2014, Donizela, 2022) e “La Obra Poética de Ana Cristina Cesar: Resignificación del Biografismo” (Caravana, 2023), livro que foi traduzido para o espanhol e lançado na Argentina em 2023. Em 2012 recebeu o Prêmio Agente Jovem de Cultura do Ministério da Cultura. Integrante de coletivos literários, da AVIPAF e do Centro de Letras do Paraná. Criadora e apresentadora do canal “Senhora Literatura” no YouTube. Tem textos publicados em revistas do Brasil, de Portugal, da Argentina e da Espanha. 

Confira a entrevista com Francine Cruz

> Como surge a poesia no meio das atividades que realiza?

Sou uma grande leitora de poesia e quanto mais leio, mais me nutro dessa paixão chamada poesia. Costumo dizer que tudo na minha vida vira literatura e a poesia surge exatamente assim, de minhas vivências cotidianas, e das coisas que eu faço. Assim as duas coisas não estão dissociadas, elas caminham juntas.

> Francine, você pensa que existem temas femininos na poesia ou que qualquer assunto pode ser abordado por homens e mulheres?

Penso que qualquer assunto pode ser abordado por qualquer pessoa e já foi o tempo de se falar em literatura feminina de forma pejorativa, como uma literatura menor, que fala de temas menores. Por isso, hoje em dia, opto pelo termo literatura de autoria de mulheres e não literatura feminina.

> No mês de agosto você viajou para Buenos Aires (Argentina), para lançar um livro na capital portenha. Conte quais eram suas expectativas e como foi o lançamento.

Sim, foi um evento muito representativo, pois viajamos em uma caravana de mais de 50 autores brasileiros para lançar nossas obras traduzidas para o espanhol. Minha expectativa era expandir meu público leitor, o que se torna possível a partir da tradução, além de fazer networking com autores de outras regiões do Brasil. O lançamento aconteceu na Livraria Caburé, a maior livraria independente de Buenos Aires, no dia 19 de agosto e, durante os dias da caravana, houve diversas mesas de debate literário na livraria, sendo que eu participei de uma mesa sobre autoria de mulheres no Brasil. O público esteve presente e prestigiou os eventos, que sempre tiveram a casa cheia.

> Fale um pouco da sua relação com a obra da admirável e inesquecível Ana Cristina Cesar.

Meu avô era primo da Maria Luíza, mãe da Ana, assim, desde criança, dentro da minha casa, eu ouvia falar dela e de sua história trágica, mas sem saber que era poeta. Descobri isso apenas em 2013, quando a Companhia das Letras publicou “Poética”, reunindo a obra poética da Ana, e um outro primo me avisou. Na época, eu estava cursando a faculdade de Letras e, quase como uma dívida minha perante ela, passei a estudar sua obra e me apaixonei. A partir dessa pesquisa surgiu meu livro “A Obra Poética de Ana Cristina: Ressignificação do Biografismo” lançado em 2022 pela editora Donizela e com tradução para o espanhol em 2023 pela editora Caravana.

> Você também escreve livros para crianças. Fale um pouco de seu trabalho na área da literatura infantil.

Lancei meu primeiro livro infantil chamado “Vovô Foi Embora, Mas Deixou Muita História” neste ano de 2023, muito influenciada pela minha filha de 6 anos que é uma ávida leitora. Como eu disse na primeira pergunta, tudo na minha vida acaba virando livro e o fato de ler para ela todas as noites livros infantis me fez ter esse contato diário com esse universo e, consequentemente, a vontade de escrever neste gênero. O retorno tem sido muito positivo, tanto das crianças quanto das famílias, o que me deixa entusiasmada para seguir nessa área. 

> Alguns autores de livros infantis fogem de assuntos profundos. A morte é um tema que, para algumas pessoas, provoca medo e incômodo. Porém, você aborda o assunto no seu novo livro “Vovô Foi Embora, Mas Deixou Muita História”. Como surgiu a ideia do livro?

A ideia surgiu da minha própria experiência de perder o meu avô. Esse livro é uma maneira de homenageá-lo, mas também homenagear a todos os avós e entes queridos que já partiram e deixaram saudade no coração dos familiares. Meu avô sempre foi uma grande referência para mim, ele era um grande contador de histórias e faleceu com 85 anos, quando minha filha tinha apenas 5 meses. Entretanto, as histórias ficaram e passei a contá-las para ela, como meu avô fazia comigo. Assim percebi que, apesar de ele ter ido embora, tinha deixado muitas histórias, não só as ficcionais, mas as histórias de vida que compartilhamos e que deixaram muitas saudades e lembranças boas, e foi assim que nasceu esse livro.

> Conte um pouco sobre sua abordagem e como o público-alvo (infantil), os pais e os professores, estão reagindo a um livro que foca a ausência do vovô, ou seja, a morte.

Optei por uma abordagem lúdica e sensível, de ressignificação do luto. A partir da obra, tanto pelo texto escrito quanto pelas imagens, os leitores - sejam eles crianças ou adultos - recebem a mensagem que é natural sentirmos saudade, mas que podemos transformar essa saudade num sentimento de gratidão e alegria pelo tempo em que vivemos juntos, que a perda não precisa ser sempre triste, pois as pessoas se vão, mas deixam lembranças e marcas em nossa vida que vamos guardar para sempre no coração. Dessa maneira, a recepção da obra tem sido muito positiva e várias escolas já têm feito um trabalho com as crianças utilizando o livro.

> A partir de que idade a criança pode entender a mensagem do livro?

Isso é algo muito subjetivo, as crianças estão sempre nos surpreendendo, pois temos a tendência de subestimá-las. Mesmo crianças que ainda não leem podem entender a mensagem do livro a partir da leitura de adultos ou da leitura das imagens. 

> Você pensa levar esse livro para o teatro?

Ele está aberto para todas as possibilidades, cinema, teatro, audiobook...

> Fale de seus projetos para 2024.

Para 2024 pretendo lançar um novo romance e a segunda edição do livro de haicais “Poemas Para Brincar nas Quatro Estações”. 

> Confira todas as crônicas e entrevistas da Isabel Furini  

 

Por Isabel Furini  –  isabelfurini@hotmail.com

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