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Literatura & Cia.

Jean Carlos Gomes

poearteditora@gmail.com

Alimento da Palavra

Márcio Catunda - Arte como um veículo de confraternização

Diplomata, poeta, romancista e ensaísta será homenageado na XVI Coletânea Século XX

Entrevistas  –  11/06/2025 11:44

 

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(Fotos: Arquivo Pessoal)

“A literatura serve para educar o homem. Serve para humanizá-lo e espiritualizá-lo, na luta da degeneração com a evolução. A literatura, como todas as artes e ciências, é um dom do Ser Supremo para exorcizar os estigmas satânicos da estirpe humana”.

Márcio Catunda, nascido em Fortaleza, em 1957, é diplomata, poeta, romancista e ensaísta. Publicou 50 livros, alguns dos quais no idioma espanhol. Produziu, também, dez CDs de poemas musicados e cantados por parceiros e DVDs-documentários, com suas apresentações em teatros e outros centros de cultura. Foi presidente do Clube dos Poetas Cearenses em 1975 e fundador do Grupo Siriará em 1981, ambos em Fortaleza. Participou das reuniões do denominado “Sabadoyle”, de 1982 a 1985, no Rio de Janeiro, onde conheceu Carlos Drummond de Andrade, com quem manteve intercâmbio.

Catunda será homenageado na “XVI Coletânea Século XXI”, da PoeArt editora. A obra trará um Capítulo Especial com entrevista, dados bibliográficos, poemas e comentarios inéditos (sobre o homenageado) de escritores notáveis, tais como: Adriano Espínola, Aleilton Fonseca, Alexei Bueno, Anderson Braga Horta, Antônio Torres, Christovam de Chevalier, Edir Meirelles, Lêda Selma, Luiz Otávio Oliani, Mano Melo, Raquel Naveira, Rogério Salgado, Salgado Maranhão, Tanussi Cardoso e Vieira Vivo

Confira a entrevista com Márcio Catunda

Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário se desenha para a literatura brasileira?

As mudanças de paradigma nos veículos de difusão das expressões artísticas alteram a realidade apenas no plano superficial. O  livro de papel sofre a concorrência da máquina eletrônica. A essência da literatura, que é o humanismo, permanece e terá sempre voz, seja através da linguagem oral, virtual ou escrita. O problema da dita "nuvem" das mídias e plataformas cibernéticas é o mesmo da transitoriedade geral de tudo. Nuvem é uma excelente metáfora. Nuvem, vento, água, tudo quanto flui é matéria-prima do código verbal, que traduz o sentimento humano diante enigma de tudo. Essa verdade essencial, que constitui, efetivamente, o teor da arte, não muda.

A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade?

O ambiente cultural de um país é mais ou menos favorável a um escritor,  conforme a realidade social, política e econômica desse país. Poucos leitores significa pouca recompensa para os escritores. Escrever em português, conquanto seja esta quinta língua mais falada no mundo, significa ter poucos leitores, já que o nível intelectual médio da população determina o número de leitores e, portanto,  a condição de projeção da obra de um escritor. Minha atividade, no entanto, é uma predestinação genética, um decreto dos deuses, uma ordem que vem do Alto. Não posso parar de escrever, sob pena de minha vida não ter pra mim o menor sentido.

O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona?

A literatura me salva do desespero e da depressão. É o fio condutor, o cordão de Ariadne da minha existência.  Proporciona-me  a própria vida, porque a vida se alimenta de paixões e a literatura, para mim, é a mais sublime das paixões.

Qual é a função da literatura na sociedade?

A literatura serve para educar o homem. Serve para humanizá-lo e espiritualizá-lo, na luta da degeneração com a evolução. A literatura, como todas as artes e ciências, é um dom do Ser Supremo para exorcizar os estigmas satânicos da estirpe humana.

Um crítico literário deve analisar apenas um poema ou a obra como um todo?

O trabalho criterioso no estudo literário impõe um empenho profundo, por parte do pesquisador. Quanto mais funda a prospecção, mais chances terá ele de descobrir os tesouros polissêmicos e desvendar os horizontes do espírito criativo. Um único poema não revela a dimensão humana de um  poeta. É preciso partir do um, na direção do infinito, para o qual tende a expansão da criatividade.

Uma mensagem aos autores iniciantes.

No liceu da humildade, forja-te artista quando cão amestrado. Consagra-te à epifania de Dédalo,  moldando o teu próprio labirinto. Oferece exvotos ao manancial dos oráculos, porque o culto da palavra é um rito de vertiginosa magia. É necessário peregrinar por uma via de esperança e medo, em nove jornadas, até à pedra que as águias sobrevoam. 
Rompe a tessitura dos cânones como um resgate das origens. Reverencia quem te manda preencher o vazio com fogo.
Busca Eurídice no Inferno.
Escuta a garganta de cristal das Sibilas de Castalia, onde um deus receptivo interpretará o teu sonho. 

O que acha de nossa iniciativa de entrevistar/homenagear renomes de nossa literatura, fazendo, além de uma justa homenagem, um “intercâmbio” entre o autor consagrado e o autor iniciante?

Toda iniciativa de difusão da arte e do intercâmbio entre os colegas é da maior magnificência. Sobrevivemos à custa do incentivo dos amigos leitores. Acredito na arte como um veículo de confraternização. Entrevistar e publicar as ideias dos outros significa o mais alto grau do exercício civilizatório. O  universo é uma estrutura fluida, montada num esquema de interconexão e reciprocidade. Louvemos a generosidade, virtude divina.  Celebremos a cultura. Literatura é a expressão do sentimento, que é o alimento da palavra, sendo  assim, um dos principais componentes da própria vida dos seres humanos. Conhecimento é luz. 

 

Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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