
(Fotos: Arquivo Pessoal)
1: Com Eucanaã Ferraz; 2: Com Claudia Roquette-Pinto; 3: Com Berthold Zilly
Paulo Henriques Britto nasceu no Rio de Janeiro, em 1951. Entre 1962 e 1964 sua família morou em Washington, D.C., onde ele aprendeu inglês; de 1972 a 1973 morou em Los Angeles e San Francisco, Califórnia, onde estudou cinema. Abandonou os estudos e começou a atuar como professor de inglês e tradutor. Em 1975, começou o curso de licenciatura em português e inglês na PUC-Rio, onde concluiu o mestrado em língua portuguesa em 1982. Desde 1978 leciona nessa instituição, atuando nas áreas de linguística, tradução, literatura e criação literária; a partir de 2002, quando a universidade lhe concedeu o título de Notório Saber, passou a trabalhar também na pós-graduação, onde desenvolve projetos de pesquisa em poesia brasileira contemporânea e tradução de poesia. Já traduziu mais de 130 livros, em sua maioria de ficção, mas também não-ficção e poesia. Recebeu muitos prêmios literários por sua atuação como escritor e tradutor.
Confira a entrevista com Paulo Henriques Britto
A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade?
Na verdade, não - eu escrevo e traduzo para os leitores que há, mesmo sabendo que são poucos ou, com referência à poesia em particular, pouquíssimos.
O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona?
Acima de tudo, o prazer estético que vem de ler um texto bem concebido e bem realizado, em prosa ou poesia. Mas é claro que a literatura também influi na própria formação intelectual e moral. Aprendemos muito com os livros bons que lemos.
Qual é a função da literatura na sociedade?
A rigor, a única função da literatura é proporcionar prazer estético. Basta isso para justificar sua existência. Mas é claro que o escritor também é um cidadão, e ele não está isento das obrigações impostas por essa condição. De qualquer modo, é preciso separar as duas coisas. Se um escritor consegue fazer uma literatura de qualidade que além disso dê uma contribuição positiva à sociedade em que vive, como crítica, denúncia, proposta ou algo assim, muito bem. Mas não se deve achar que o artista é obrigado, enquanto artista, a pôr sua arte a serviço de uma determinada causa ideológica. Podemos estimar o trabalho do artista enquanto tal e ao mesmo tempo lamentar sua indiferença aos problemas graves vividos por seu país e o mundo em geral, e até mesmo condená-lo por posições indefensáveis por ele assumidas, mas isso não deve influir na avaliação de seu trabalho no plano estritamente estético.
Como se sentiu ao receber a notícia de sua eleição para a ABL? Já tem data a sua posse?
Senti uma grande satisfação, é claro. Minha posse será no dia 12 de setembro. Ocuparei a cadeira número 30, sucedendo a escritora Heloísa Teixeira.
Uma mensagem aos autores iniciantes.
Leia muito, sempre leia muito. Para se conseguir começar a escrever bem, é preciso antes ter lido uma quantidade enorme de boa literatura.
Bálsamo
Paulo Henriques Britto
Seja hoje um dia igual a qualquer outro,
um dia besta, esvaziado e amorfo,
o tipo de data que é esquecida
antes mesmo de virada a folhinha,
e esteja você completamente imerso
neste dia, como um peixe dessas espécies
das regiões abissais, isentas de luz,
longe do ar e seus azuis,
que nas funduras de silêncio e noite
falta não sente do que nunca soube -
pois nesse dia insosso e timorato
esteja você, absorto, atarefado,
imune a tudo que é êxtase ou angústia.
Seja isso a sua vida. O seu mundo.
Vers de circonstance
(Brasil, 2020)