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Jean Carlos Gomes

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Ricardo Ramos Filho - A literatura como sinônimo de pluralidade

Escritor, professor e orientador literário fala sobre mídias digitais, a função da literatura na sociedade e a importância de ser um leitor obsessivo

Entrevistas  –  21/07/2025 18:33

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“Leiam muito, o escritor precisa antes de qualquer coisa ser um leitor extraordinário. Disciplinem-se para escrever diariamente”.

Ricardo Ramos Filho é escritor, professor de Literatura e orientador literário. Graduado em Matemática pela PUC-SP e doutor em Letras pela USP, ministra cursos e oficinas. É presidente da União Brasileira de Escritores (UBE). Como sócio proprietário da Ricardo Filho Eventos Literários, atua como produtor cultural, tendo sido curador da Flibi (Festival Literário de Birigui-2022), do Prêmio São Paulo de Literatura (2023) e da Flirp (Feira Literária de Ribeirão Pires -2024). Faz parte do Conselho Administrativo da SP Leituras, e do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta. Publicou cerca de 30 títulos infantis e juvenis, como “Computador Sentimental” (1992), vencedor do Prêmio Adolfo Aizen; “O Livro Dentro da Concha” (2011), selecionado para o catálogo FNLIJ para a Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha em 2012; “Feiticeira” (2014); e “Maria Vai Com Poucas” (2018), além de livros adultos, como “Conversa Comigo” (2019); “Cidade Aberta, Cidade Fechada” (2023), de crônicas; “Toda Poeira da Calçada” (2025), romance.

Confira a entrevista com Ricardo Ramos Filho

Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário se desenha para a literatura brasileira?

Sem dúvida, e já vem acontecendo há um tempo, existe um cenário de maior informalidade. Os blogs literários, a possibilidade de autores disponibilizarem textos online de maneira ágil, possibilita que muita gente que estaria presa às dificuldades de editar seus textos, apareça de maneira independente. A boa notícia é que estamos conhecendo escritores, bons, que demorariam mais a aparecer.

A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade?

Nunca. Até porque não escrevo contabilizando o número de leitores que terá acesso ao texto. Precisaria ter uma bola de cristal e infelizmente não tenho. Também não tenho assim tanta certeza relativamente à afirmação. Somos um país, sim, com sérios problemas de educação, mas há um público leitor mais ou menos fiel que lê e celebra os bons livros, comprando-os. Obviamente há espaço para crescimento, mas não sou assim tão pessimista. Alguns escritores vendem muito bem.

O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona?

Venho de uma família de escritores. Ser neto de Graciliano Ramos e filho de Ricardo Ramos, significou crescer em uma casa com muitas estantes, livros para todos os lados, presença de autores amigos. Então a literatura muito cedo se incorporou ao meu mundo. Sou um leitor obsessivo, ler é o meu maior prazer. A literatura, creio, permite que os indivíduos desenvolvam sensibilidade. Ler me faz uma pessoa melhor, aberta para a diversidade, mais sensível.

Qual é a função da literatura na sociedade?

Desenvolver as pessoas, tornando-as capazes de entender que vivem em um mundo plural. Tenho a mais absoluta certeza de que o desastre que tivemos no último governo, a ascensão triste da extrema direita, o recrudescimento do fascismo em todo o mundo, deve-se ao fato de termos permitido que subissem ao poder pessoas que nunca tiveram intimidade com livros. A “piscina está cheia de ratos” que não leram Machado, Rosa, Graciliano, para falarmos apenas do Brasil.

Uma mensagem aos autores iniciantes.

Leiam muito, o escritor precisa antes de qualquer coisa ser um leitor extraordinário. Disciplinem-se para escrever diariamente. Invistam nos concursos. Ser premiado abre muitas portas, torna o autor conhecido, facilita futuras publicações.

O que acha de nossa iniciativa de entrevistar/homenagear renomes de nossa literatura, fazendo, além de uma justa homenagem, um “intercâmbio” entre o autor consagrado e o autor iniciante?

Dar espaço para a cultura, em um país em que tantas vezes ela é esquecida, é fundamental. Os escritores, consagrados e iniciantes, precisam ter espaço de fala, ficarem visíveis. As homenagens, entrevistas, celebrações de toda sorte são bem-vindas. Deveria ser um trabalho mais trilhado pelas autoridades, mas como elas falham, precisamos das iniciativas de quem tem apreço pelo que é realmente importante: o livro, a leitura, os autores. 

 

Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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