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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

A Arte da Improvisação

A magia instrumental de Vitor Karyello

Músico lança o CD - Foto síntese - com seis faixas autorais, naturalmente influenciadas por Tom Jobim, Michel Leme, Nelson Faria, Miles Davis, Pat Metheny e Joe Pass

Entrevistas  –  09/09/2017 01:38

Publicada: 23/07/2017 (17:36:25) . Atualizada: 09/09/2017 (01:38:45)

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(Fotos: Divulgação)

Gravado no EME Estúdio, no Rio: Instrumentista é de Barra do Piraí e mora em Volta Redonda 

Vitor Karyello resolveu mudar o seu próprio cenário musical. Cansou de apenas reclamar e juntou alguns amigos que também acreditavam num projeto de música instrumental. O resultado surpreendeu muita gente e abriu portas para mais instrumentistas na região. Uma das consequências naturais desse projeto é o CD “Foto síntese”, gravado em 8 de janeiro deste ano, no EME Estúdio, na Barra da Tijuca (RJ), e lançado oficialmente em 20 de julho, no Jazz Village, em Penedo. 

Nascido em Barra do Piraí, Karyello começou seu estudo musical aos 17 anos e aos 21 se profissionalizou. Atualmente mora em Volta Redonda e exerce a função de professor de violão e guitarra na Sonatta Escola de Música (VR) e na Starling Academy of Music, na Barra da Tijuca (RJ). É guitarrista e explora diversos ritmos, além de atuar como músico freelancer. 

Confira a entrevista com Vitor Kayello 

Por que o nome do CD, “Foto síntese”? 

Nomear as coisas pra mim sempre foi um problema. Eu, de certa forma, sempre associo o nome dado a algo que estou pensando, mas é uma coisa que só eu saberei, já pra outra pessoa, pode significar outra coisa, e acho isso divertido. O nome do disco surgiu por último, depois de gravado. Foto quer dizer um registro do momento e síntese são todas as coisas que passamos até agora, não só musicalmente, mas toda bagagem que cada músico traz consigo em sua existência com todas as virtudes e defeitos. 

No encarte do CD, você cita a filosofia do jazz. Quais as influências para chegar às seis músicas do disco? 

Nos shows as pessoas chegam até mim dizendo que gostam de jazz, e acham muito importante alguém fazer esse tipo de som pela nossa região. Definir Jazz é muito complexo. Costumo dizer que não sou um guitarrista de jazz, e nem tenho pretensão de ser, apenas uso a liberdade que o estilo dá para a improvisação. Quando comento com as pessoas como funciona o procedimento quando estamos tocando, elas se espantam, pois acham que tudo era ensaiado, e apenas o “tema” principal de cada canção é ensaiado, mas nem sempre, ou quase nunca, mas é a arte que as pessoas conseguem identificar, que acontece no início e no fim de cada música. Sou muito influenciado pela música de Tom Jobim, Michel Leme, Nelson Faria, Miles Davis, Pat Metheny, Joe Pass, entre outros grandes músicos que usam a liberdade da improvisação em sua música, isso com certeza refletiu naturalmente para que as composições do meu primeiro álbum tivessem essas influências. 

Fale sobre os músicos que participaram do disco... 

Esse disco jamais aconteceria dessa forma, se não fosse Albert Batista (baixo) e Helbert Santos (bateria) comigo. Helbert esteve comigo em todo processo que se iniciou há dois anos. Ele é um baterista espetacular que não pensa apenas como baterista, e sim como um músico completo, se ligando nas melodias e harmonias. Detalhes harmônicos que acontecem e ele sempre ligado colocando uma pitada ácida a mais. Albert é o caçula do trio, tanto na idade quanto no meio instrumental. Ele entrou no time faz pouco mais de um ano e teve uma evolução surpreendente no sentido de “viver” o som e conseguir externar o que está sentindo, é um músico que traz uma emoção consigo muito grande e sem contar que é um relógio suíço nas levadas. Tenho uma cozinha privilegiada e bem bazuca. 

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Plena sintonia: Albert Batista (baixo) e Helbert Santos (bateria) tem papel importante no disco

Como foi o processo de criação do CD? Você fala no encarte que as músicas (composições próprias) foram ganhando forma em apresentações ao vivo nas casas de show da região. Mas como elas foram criadas? Em momentos especiais? 

Seriam oito no total, mas, como fizemos essa gravação ao vivo em um único dia, duas ficaram de fora, pois realmente foi muito cansativo gravarmos dessa forma, experiência incrível, mas cansativa. Nunca marquei hora pra compor e não tenho essa disciplina, mas gostaria muito de ter. Esses temas surgiram sempre quando menos esperava e vieram praticamente todos prontos com exceção de “Leme”, que é uma parceria com o Helbert, e “Cumé cumpade”, que é de 2009. Eu mandava o rascunho para o Helbert e o Albert e em nossas apresentações ao vivo elas iam ganhando forma. Achei mais interessante amadurecer cada composição de forma natural, e nada mais natural e espontânea do que tocando ao vivo. Começo a compor com uma determinada levada ou pela melodia.

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"Nunca compus uma música a partir de uma harmonia. Acredito que composição é prática, mas antes de tudo é a manifestação de tudo que você vive, ouve e toca. Quanto mais informação você detém, maior é seu vocabulário para conseguir expressar o que sente através de sua música".

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O mercado para quem faz música instrumental (não comercial) melhorou na região, como você mencionou certa vez em conversa comigo. Mas ainda falta muito a crescer. Quais seriam os caminhos para melhorar esse cenário e dar oportunidades a mais instrumentistas? 

Esse cenário começou a mudar quando eu resolvi mudar o meu cenário. Cansei de apenas reclamar e juntei alguns amigos que também acreditavam nesse projeto. O Duo Instrumental, dos amigos Giliade Lima e Gilson Oliveira, são guerreiros nessa luta também e estão fazendo um trabalho lindo por toda região. Gostaria que mais músicos tivessem projetos assim, não apenas de música instrumental, mas da música que eles acreditam. No rock, um grande incentivador do projeto é o Carlos Magno, nosso querido Magão. Ele tem feito um trabalho lindo com o Clube Rock e Blues em Barra Mansa, movimentando muito a cena autoral de bandas da região. 

O disco foi gravado em 8 de janeiro de 2017, no EME Estúdio, na Barra da Tijuca (RJ) e não aqui na região. A que se deveu essa opção? 

Antes de tudo, escolhi pela afinidade que tenho com os irmãos Lucas Macedo e Diogo Macedo, que são de Volta Redonda. Eles começaram o estúdio em Volta Redonda, mas há anos estão no Rio. Eles já gravaram artistas como Roberto Menescal, Marcelo Nami, Marcio Bahia, entre outros grandes músicos da cena instrumental, e isso também pesou na escolha do EME. Além disso, o Diogo é muito meu amigo e sempre está nas minhas apresentações e isso faz toda diferença, pois ele sabia exatamente o sentimento que queríamos passar para as pessoas. Acredito que chegamos bem próximo. 

Como foi a experiência de tocar no Jazz Village, em Penedo, uma casa que já foi e é palco para diversos artistas nacionais e internacionais? 

Tocar lá foi a realização de um sonho. Quando o disco chegou da fábrica, desejava fazer o lançamento no Jazz Village. Quando recebi o convite do Gustavo Holanda para participar do Penedo Winter Jazz de 2017, fiquei muito feliz. E começamos com pé direito. Foi uma noite linda em que as pessoas estavam totalmente receptivas a um som novo. Praticamente todos que estavam lá adquiriram o CD e fizeram questão de conversar conosco após o show. Ainda tive a felicidade de conhecer o Hudson Bochard, um saxofonista talentosíssimo que abrilhantou o show. A música nos proporciona momentos como esse. Eu nunca havia tocado com ele, não nos conhecíamos, e foi mágico. O jazz é isso: doação máxima dos músicos pela música. 

Quais os seus projetos para divulgar o disco além da nossa região. 

Vem acontecendo muita coisa legal. Amigos que tenho feito, principalmente em São Paulo, estão dando a maior força para que o disco caia na estrada. Tocamos recentemente no Festival BDG na Linha da CPTM na Estação Bras. Estou dando bastante entrevistas sobre o lançamento do CD, principalmente para sites especializados e canais do YouTube. Breve estarão disponíveis no canal Samurai Guitar e Venegas Music TV. 

Faixa a faixa (por Vitor Karyello) 

1 - Bora lá - “Fiz antes de sair para um show, eu estava atrasado e a música surgindo, eu falava pra mim: Bora lá, bora lá. Agora não sei se eu falava isso para me apressar para o show ou para terminar a composição”. 

2 - Leme - “É curiosa. Essa música é uma homenagem ao grande Michel Leme, pessoa que sou muito grato pela sua generosidade e pela música que faz um dos maiores músicos e caras do Brasil. O interessante é que essa música foi uma homenagem involuntária, explico. Fiz a parte ‘A’ e mostrei ao Helbert, sem ele saber que era minha.
- Vitor, bacana. Essa música é a ‘Bom dia’, do Michel, né?
Nossa, copiei descaradamente. Embora houvesse elementos diferentes, lembrava muito. Então mudei um pouco a rítmica da melodia e pedi ao Helbert que fizesse o ‘B’, aí então ficou um pouco menos parecida. (risos) Em uma das aulas com Michel, mostrei o tema e contei essa história, ele ficou bem contente com a homenagem”. 

3 - Laura - “Fiz pra minha sobrinha de 5 anos, é uma balada jazz que gosto muito. Essa é um exemplo de composição em que harmonia e melodia vieram juntas e de uma só vez”. 

4 - Sol in mérrico - “Esse tema é curioso, eu tava em casa estudando num sábado de verão, aquele calor do cão. Fui ao mercado e comprei aquela cerveja ‘Sol’, que nunca havia tomado. Acho que tomei um pouco demais no dia e saiu esse tema, por isso esse nome”. 

5 - Cumé cumpade - “É de 2009, quando comecei a compor música instrumental. Ela se chamava ‘Salsa nova’, depois que descobri que de salsa não tinha nada, embora eu tentasse tocar, ela passou por umas modificações e ficou sem nome, até um belo dia num som em que fomos tocar ela e o Albert disse:
- Cumé cumpadi? Qual é a próxima? Era a então finada ‘Salsa nova’”. 

6 - Ayres - “Gosto muito desse tema. Coloquei esse nome, pois estava me lembrando de uma viagem que fiz para Buenos Aires, e de certa forma a melodia foi me remetendo às lembranças de 2012, naquela cidade”. 

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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