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Expressão da Vida

Rapper VH, O Escrivão

Músico fala sobre processo criativo, discute representatividade e construção do conhecimento via arte pública e inclusiva

Entrevistas  –  26/01/2020 19:01

 

Foto

(Foto: Divulgação)

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“É essencial a ocupação criativa e ousada dos espaços públicos”

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Atualmente, o rap superou barreiras periféricas. Conquistou grandes centros urbanos, pluralizando o seu posicionamento. A cena goiana carrega a marca da produção independente. A expressão artística tem ganhado reconhecimento pautada na qualidade das criações. Em Goiânia, não só o graffiti, não só o disc jockey, mas as batalhas de dança, os festivais e saraus impulsionam a cultura hip hop.
Vitor Hugo Lemes, conhecido no cenário hip hop como VH, O Escrivão, pertencente ao grupo Rap Caseiro, é compositor, rapper, poeta, escritor, e graduado em filosofia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Sua concepção aborda a representatividade, combate ao preconceito racial e segregação. Apostando na confluência de linguagens artísticas. 

Confira a entrevista com O Escrivão

. Sabe-se de seu apreço pela escrita, e pela busca da elaboração de saberes. Por que o apelido VH, O Escrivão?

“VH” vem das iniciais do meu nome e foi como eu assinei meus primeiros trabalhos com o rap. Porém, com a possibilidade de subir o som para plataformas digitais, surgiu a necessidade de criar um nome artístico. Nessa, começou todo um caótico processo de busca por “identidade”. Depois de cogitar bastante, acabei aderindo a alcunha de "Escrivão". Outra referência é um livro do Melville, chamado "Bartleby, O Escrivão".

. Tanto as ciências quanto as artes apresentam modalidades de expressão da vida na comunidade e suas demandas. O que é o rap?

Originalmente, um dos quatro elementos do Hip Hop. Etimologicamente: “Ritmo e Poesia”. Durante muito tempo “a voz daqueles que nunca tiveram voz”. Um grito que emerge das margens e resiste, enquanto expressão artística marginal por excelência. Mas acredito que hoje, mais do que nunca, é todo um universo de possibilidades. Sei lá, definições por vezes aprisionam, e enquanto movimento, o rap é um organismo vivo que fala por si.

. Como começou o envolvimento com a arte musical? Quais as suas influências?

A paixão pela música sempre fez parte da minha vida. Cheguei a tocar percussão e trompete na infância, mas nunca estudei teoria. Acredito que o envolvimento genuíno se deu a partir da identificação mesmo. Ouvi bastante rock durante a adolescência, rap também. Depois fui descobrindo a MPB, o samba, o reggae, o jazz, o soul, o R&B e afins. Ultimamente ando me enveredando muito pelos “alternativos” também. No fim, amo a música negra, não só no quesito sonoridade. Mas sem dúvida o que eu mais ouço é rap, muito rap nacional, muito rap goiano. E talvez, por ouvir tanto e me identificar continuamente, eu tenha descoberto que podia fazer também.

. Comente as novidades para 2020. Lançamentos, projetos, parcerias.

Vish, 2020 é o ano, vem muita coisa por aí. Tudo isso fruto de muito trabalho em 2019. Pra começar, tem a primeira Mixtape do Caseiro, meu grupo com o Dam, que chega explorando a vertente do lo-fi. Vem um EP solo meu por aí, representando uma vibe bem diferente de tudo que eu já fiz até agora, mas que dialoga bastante com a ambiência do jazz. Tem também um curta independente unindo dois sons meus com a Carol (Carolina Isleide), que tá prestes a ser lançado. Tem um EP com o PKN. Fora as inúmeras parcerias e singles em processo de produção e finalização. Só pra citar alguns nomes, Vant, Guilherme Eurípedes, Gabriel Mota, Muralha, Laiko, Gabryell Eduardo, Kep, Akin, Afrodite, ATDJ, K´Ment, Hazer, Ju Sade. Tem também os lançamentos da Beckstage, cyphers.

. O que você diz sobre a repercussão do mixtape “Pele Negra, Máscaras Brancas”?

"Pele Negra, Máscaras Brancas" é minha primeira mixtape né, meu primeiro trampo mais “sólido” na rua. O título vem de uma obra do Franz Fanon, filósofo negro do século XX e é um trabalho que se propõe a discutir racismo, resistência e marginalidade. Sem dúvida, um trabalho do qual eu tenho muito orgulho. Acredito que a maior conquista tenha sido retomar e de certa forma contribuir pra essa discussão dentro desse microcosmos do rap goiano.

. Recentemente, na Rua do Lazer, setor Central de Goiânia, houve a implantação do projeto Viela Cultural. Em quais lugares ocorrem suas apresentações?

Já tocamos em diversos espaços. Batalhas de rap, eventos, casas de show, saraus, eventos acadêmicos, ocupações, escolas, bares, programas de rádio, TV, entrevista.

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"Acredito que pra além de todos os recortes a principal temática é a vida, vida que por vezes flerta com a morte, mas que merece ser experenciada e vivida". 

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. Em 2019, nos âmbitos dos governos estadual e federal, ocorreram cortes de verbas para a produção artística. Você é beneficiado pela Lei de Incentivo à Cultura?

Ainda não. Tenho o projeto de talvez fazer uso da Lei de Incentivo pra custear a publicação de um livro no qual venho trabalhando já há algum tempo.

. Gostaria que você comentasse sobre o trampo “Habitat” (faixa pertencente ao EP “O frágil exercício de ser”).

“Habitat” foi meu último lançamento e é também a faixa que abre o EP “O frágil exercício de ser”, uma espécie de “intro” pra esse trabalho que vai ser lançado agora em 2020. O clipe foi feito por nós mesmos, com as imagens e edição do João Pedro Camargo, lá na VHS, um espaço bem legal lá na Rua 8. Quanto ao som, bom, acredito que é bem orgânico no melhor sentido do termo.  

. No hip hop, a luta contrária ao preconceito racial e às injustiças são evidentes. Qual o foco maior (a ponta de lança) de sua resistência artística?

Acredito que não podemos perder de vista essa dimensão política que tá meio que imersa no rap e na música negra em geral. Fazer arte, dizer, se expressar quando se foi historicamente silenciado é um puta ato de resistência. Ou seja, essa “resistência” é existencial, não se separa da vida. Acredito que pra além de todos os recortes a principal temática é a vida, vida que por vezes flerta com a morte, mas que merece ser “experenciada” e vivida. 

. Em quais plataformas digitais podemos encontrar os trabalhos?

Todas elas, Dizzer, Spotify, YouTube etc.

. Deixe uma mensagem especial para seus seguidores.

Possivelmente há algo que você ama nessa vida, um sonho, talvez. Embora esse amor não te isente das frustrações nem das dificuldades, dizem por aí que nos arrependemos bem mais pelo que deixamos de fazer do que pelo o que efetivamente fazemos. Muita força e um grande obrigado a todo mundo que acompanha e fortalece o trampo. Tamo junto! Valorizem o corre dos artistas independentes! 

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Por Ronaldo Marinho  –  ronaldomarinhodesousa@gmail.com

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