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Respeito Para Ser Respeitado

Mano CDJ e o hip hop nacional

Músico comenta o cenário cultural brasileiro, discute políticas públicas e representatividade

Entrevistas  –  27/03/2020 19:36

 
Mano CDJ

(Fotos: Divulgação)

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“Creio que o cenário musical do rap é muito amplo para aprisioná-lo em apenas um discurso, um segmento, uma linha de pensamento”

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O rap (ritmo e poesia) venceu preconceitos e quebrou barreiras. Conquistou os grandes centros urbanos e metrópoles. Com batidas rápidas e letras de protestos, conta o cotidiano dos moradores das periferias pobres. Através da cidade de São Paulo, adentrou o Brasil na década de 80. Nos anos 90, tivemos: Racionais Mc´s, DJ Hum, Câmbio Negro, Planet Hemp. Hoje, destacam-se: Djonga, BK, Baco Exu do Blues, Karol Conka, dentre vários outros. Atualmente, o rap é um dos principais estilos motivadores das grandes produções.

Cleubismar de Jesus, conhecido no cenário hip hop como Mano CDJ, é conselheiro estadual da Juventude, ativista e artista underground. Pertencente ao rap goiano, produtor cultural, apresentador do programa “Hip Hop em Cena”, rapper, estuda cinema e audiovisual na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Sua militância defende a representatividade, o combate a preconceitos e à segregação.

Confira a entrevista com Mano CDJ

. Qual o seu envolvimento com o hip hop goiano? Atualmente você está articulando algum projeto em parceria com a Assembleia Legislativa?

O meu envolvimento com o hip hop goiano se deu em meados de 2002, quando organizei um evento de rap, no meu bairro. A minha identificação com a cultura hip hop se dá desde a infância, como morador da periferia, o estilo musical sempre dialogou com a minha realidade. Desde então, acompanhei as rodas de break-dance, e fui amante da arte do graffiti. Sobre parceria com a Assembleia, não tenho nada em andamento. O que existe é um bom relacionamento e trânsito de diálogo com alguns deputados, que tem resultado em apoio para a cultura goiana. A aprovação da Semana Estadual do Hip Hop; a não extinção do Fundo de Cultura de Goiás, e o Requerimento Legislativo ao Governador e Secretaria de Segurança Pública - GO, visando a segurança, e apoio às manifestações de rimas (Batalhas de MCs), que estavam sendo reprimidas, e impedidas de ocorrerem em diversos bairros de Goiânia e cidades do interior do Estado.

. Em 2020, teremos eleições municipais. Quais pautas culturais imprescindíveis para apresentação aos candidatos?

A pauta para a área da cultura é bem simples e muitos candidatos sabem, em Goiânia, e na maioria das cidades do nosso país, o investimento na cultura é quase zero. Na oportunidade vou citar a cultura urbana e cultura popular, que são lembradas apenas em época de campanha eleitoral. Em Goiânia, temos a Lei 9.561 de 7 de maio de 2015, que inclui no calendário oficial do município a Semana do Hip Hop. A pauta da Cultura é lembrada somente na campanha eleitoral, nesse momento a cultura urbana e a cultura popular são importantes, depois de quatro anos de esquecimento, descaso e nenhuma representatividade. Por isso, acredito que, antes de qualquer promessa ou proposta, o eleitor deve avaliar a relação do candidato com a cultura da cidade, e o que ele já fez. É inaceitável que sejamos lembrados somente em período eleitoral.

Mano CDJ.

. Comente a relevância da Viela Cultural. Na Rua do Lazer, setor central em Goiânia, para a arte urbana.

As Vielas da Rua do Lazer são de grande valia, e tendem a valorizar a arte urbana (graffiti) em Goiânia, além de proporcionar espaços gratuitos para prática de esportes e apresentações artístico-culturais no Centro da cidade, possibilitando a inclusão social.

. No mês de fevereiro, em 2020, aconteceu no Galpão Complexo Criativo, o True Floor (um dos maiores eventos de breakdance do Brasil). Qual a sua avaliação referente a esse tipo de festival?

Avalio que todo evento que visa valorizar, fomentar e divulgar o hip hop é importante, e necessita incentivo, principalmente aqueles que são feitos de forma independente.

. Observa-se no rap produzido atualmente a pegada mais melódica. Característica, por exemplo, do trabalho do Baco Exu do Blues. Essa é a nova tendência no hip hop? Como fica o discurso da justiça social, representatividade e protestos?

O rap melódico sempre existiu, e teve o seu destaque, inclusive na voz daqueles que fazem o chamado “rap protesto” como: Ndee Naldinho “Aquela mina é firmeza”, Trilha Sonora do Gueto “Vida loka também ama”, o próprio Sabotage havia escrito um “Love song” que foi lançado com a participação do Mano Brown, em 2018. Desde as antigas, existem letras falando de amor, e boa parte dos ouvintes do rap nacional gosta. O rap é muito amplo para aprisioná-lo em apenas um discurso, um segmento, uma linha de pensamento. Enxergo os rappers como comunicadores essenciais para a transformação dos territórios urbanos marginalizados. Falar de justiça social e protestos é essencial, mas falar de amor também é algo válido no cenário do rap. Djonga é destaque falando de amor, e ao mesmo tempo, tem o protesto enraizado em suas letras. Enfim, cada rapper tem a liberdade de escrita. Tem quem gosta de gangsta rap, underground, gospel, rap mensagem, rap protesto, old-school, new-school e outras vertentes, o público é amplo, importante é respeitar as diferenças e gosto musical, essa é a marca do rap nacional. Respeito para ser respeitado. #SimplesAssim. 

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Por Ronaldo Marinho  –  ronaldomarinhodesousa@gmail.com

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