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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Teatro/Os Esquecidos

Uma montanha-russa (involuntária) de emoções

Sucesso absoluto de público com direito a sessão extra, espetáculo da Cia. Arte in Foco tem potencial, mas precisa definir a trilha a ser seguida

Crítica  –  03/12/2014 12:09

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(Fotos: Divulgação/Ricardo Du)

Ideia de misturar o elenco da terceira idade com jovens (alguns deles)
mais bem preparados é o que causa estranheza; diretor Marcelo Soares
deu um peso muito grande para os artistas/idosos carregarem
 

Uma das coisas mais delicadas no exercício de escrever uma crítica de arte é ter a capacidade de se distanciar emotivamente de quem está envolvido com a obra em foco. Opiniões todos têm, e é natural dividi-las com outras pessoas, o que foi maximizado com as redes sociais - muitas vezes, com resultados desastrosos. O que deve ser evitado é confundir opinião com crítica. Crítica de teatro, de música, de televisão, de artes plásticas etc. são feitas por profissionais que se qualificaram para isso. Ou seja, estudaram teoria e a coloram em prática. Já ouvi várias vezes que "o crítico é um artista frustrado". Em alguns casos, pode até ser, mas não me enquadro nessa categoria, porque realizei tudo o que quis artisticamente, de forma prazerosa, até agora.

Pra que tudo isso? Para analisar "Os esquecidos", o mais recente espetáculo da Cia. de Teatro Arte in Foco, encenado em outubro no Sest/Senat (Serviço Social do Transporte/Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), em Barra Mansa. Sucesso absoluto de público, com direito a sessão extra. Marcelo Soares, que assina o texto e a direção da peça, se arriscou muito. O resultado são muitos acertos e também alguns erros, embora não goste muito dessa palavra quando o assunto é arte.

O melhor de "Os esquecidos" é o amadurecimento que Soares mostra no palco como diretor. E posso afirmar isso com tranquilidade porque acompanho o trabalho dele desde o início - eu escrevo profissionalmente críticas de arte há mais de 30 anos. Na estreia, são naturais desajustes técnicos, portanto, nem levei isso em conta. O meu olhar se voltou para o todo, que é extremamente irregular.

Ao adaptar para o palco documentários que abordam o tema tráfico humano, Soares não encontrou o tom, a linguagem teatral que seguiria no desenvolver do espetáculo. O que o público vê são momentos extremamente realistas em algumas cenas e outros totalmente fora da realidade, abstratos e com liberdade poética. É preciso definir um caminho e seguir, para que "Os esquecidos" se torne um ótimo espetáculo. Como está, é válido, merece ser prestigiado pelo tema abordado e o fato de manter o fazer teatral vivo.

Os monólogos e cenas de interação dramática são algumas vezes emocionantes, chegando a causar um certo incômodo em quem assiste. Mas tudo numa montanha-russa (involuntária) de altos e baixos, com desempenhos desiguais ao extremo do elenco.

A ideia de misturar o pessoal da terceira idade com jovens (alguns deles) mais bem preparados é o que causa estranheza. Soares deu um peso muito grande para os artistas/idosos carregarem. E eles ainda não conseguem suportar isso. É preciso diminuir essa carga, poupando-os de estar em cena durante tanto tempo. Um monólogo já é, por si só, algo dificílimo até para os mais experientes artistas, imagina para um elenco da terceira idade, que na maioria das vezes nem buscaram o teatro para profissionalização? Cenas inteiras podem ser cortadas, porque são desnecessárias e mera repetição do que já haviam interpretado em suas aparições anteriores.

Do elenco jovem, destacam-se Erico Judice, que tem uma presença cênica muito marcante, tanto na voz quanto na expressão corporal; Rovany Araújo, uma grata surpresa dramática; Tamires Brito, que faz jus a sua indicação ao Prêmio OLHO VIVO; e Binho Soares, tão bem na comédia quanto no drama.

"Os esquecidos" tem potencial, sim. Marcelo Soares só precisa rever algumas coisas e definir a trilha a ser seguida.

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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