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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Teatro/Alice no País das Maravilhas

Arte in Foco recria universo de Lewis Carroll sem sair da zona de conforto

Com altos e baixos, cenário pouco criativo e belo figurino, espetáculo se segura na direção de Marcelo Soares

Crítica  –  23/06/2016 14:27

Publicada: 06/06/2016 (21:19:29) . Atualizada: 23/06/2016 (14:27:03)

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(Foto: Divulgação)

Com erros e acertos: Um espetáculo feito para o momento atual (em todos os sentidos)

O universo criado por Lewis Carroll é muito mais complexo do que a maioria das pessoas imagina. Há inúmeras interpretações para um dos seus clássicos. Uma delas, de que se trata de uma obra de terror - a que mais se aproxima do que eu penso sobre “Alice no País das Maravilhas”. Mas virou regra acreditar que esse mundo repleto de criaturas fantásticas, sarcásticas e cruéis é uma história dividida apenas entre bem/mal. Ao contrário, em “Alice” todos os personagens são ambíguos. Mas a releitura apresentada pela Cia. Teatral Arte in Foco, ontem, 5, em duas sessões no Gacemss (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva), em Volta Redonda, cumpre à risca o que a garotada está acostumada a ver, e espera, quando o assunto é o “País das Maravilhas”. Multicolorida, algumas vezes divertida e um entretenimento saudável para crianças e adultos.

A adaptação assinada por Marcelo Soares e Érico Judice opta por não sair da zona de conforto, o que não é, necessariamente, um defeito. Muito pelo contrário. Às vezes, é melhor não inventar muito, para não correr o risco de estragar tudo.

Nem por isso, o espetáculo está redondinho. É compreensível que no momento atual não seja possível fazer grandes investimentos em um espetáculo. No entanto, isso não justifica o cenário extremamente simples, e que não faz jus ao mundo exuberante visitado por Alice. A impressão que se tem é a de que tudo foi gasto no figurino. Aliás, esse sim, merece destaque, com apenas uma ressalva: a Rainha Branca carece de algo mais impactante, até para encarar de igual para igual o impacto visual da Rainha de Copas. Mas no geral os figurinos são de muito bom gosto.

Por outro lado, se “Alice” versão Arte in Foco derrapa em pecadilhos visuais, o mesmo não acontece na direção assinada por Marcelo Soares. OK, ele mais uma vez opta pela simplicidade, mas funciona. Funciona sim.

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Espetáculo tem um ou outro problema de ritmo, o que dispersa a atenção da garotada em algumas cenas. Nada que não possa ser contornado com ênfase na direção de atores.

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O elenco é o ponto mais heterogêneo do espetáculo. Assim como a história em si, a protagonista é outro aspecto mais do que complexo, muito bem trabalhado pelo autor, que as intérpretes, tanto no cinema quanto no teatro, deixam na superficialidade. Tamires Brito, um talento em potencial, se sai bem nessa tarefa, mas, ao lado de uma Rainha de Copas extremamente bem interpretada por Bruna Marquesin, Alice parece sem brilho.

Outro personagem importantíssimo também não tem a força, a energia e a vivacidade que se espera. O Chapeleiro Maluco de Érico Judice (um ator muito expressivo em outros papéis) carece de uma injeção de anfetamina, assim como Camila Karine (Rainha Branca). Não se pode confundir meiguice e bondade com apatia.

Já Rovany Araújo como a Lebre precisa apenas de uma entrada em cena para roubar todo o espetáculo pra ele. Fazer o quê? É talento puro. Outro destaque: Camila Panêto, que faz uma Ratinha pra lá de espevitada e que conquista o público.

O restante do elenco não compromete: Lucas Correa (Gato); Bruno Andrade (o vilão dele só tem que tomar cuidado com o excesso de caricatura); Matheus Fernandes (Coelho); Patricia Guido (em dois pequenos papéis, Lorena e Baralho); e Ronaldo Alves (Lagarta).

Quando o teatro regional anda tão preocupado com o imediatismo, a Cia. Arte in Foco entrega ao público um “Alice no País das Maravilhas” feito para o momento atual (em todos os sentidos).

Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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