
(Fotos: Divulgação)
Clipe da canção “Submundo Blues (Um Coração Vazio, a Cara Cheia e na Cabeça Muito Blues)” foi o primeiro a ganhar vida
Híbrido. A linguagem principal é a literatura. Contos, poemas, frases de efeito. Música, fotografia, poema musicado se agregam ao projeto. Assim é Cidade Cinza do Céu Vermelho, de Alexandre Braz, o Xan. Dois vídeos já estão disponíveis na internet: a canção “Submundo Blues (Um Coração Vazio, a Cara Cheia e na Cabeça Muito Blues)” e o poema musicado “Gosto da Noite”. A ideia é um dia lançar um livro físico com uma série de contos ilustrados por fotografias (confira as fotos no Instagram @cidadecinzadoceuvermelho).
- Embora o primeiro vídeo seja um blues, não se trata de uma banda. No momento a “banda”, se é que podemos chamar assim, se resume a essa produção. Cidade Cinza do Céu Vermelho nasceu em 2014, quando comecei a escrever uma série de contos, que é a espinha dorsal do projeto - explica Xan, produtor cultural desde 1992, quando organizou de forma independente o seu primeiro evento; começou a trabalhar com cultura no início dos anos 2000, passando pelo Sesc (Serviço Social do Comércio), Cinemúsica, Projeto Dança & Magia, Gacemss (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva), Secretaria de Cultura de Volta Redonda, além de desenvolver projetos por meio da sua produtora, a Submundo Produções.
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Jefferson Gonçalves, Marcus Balbi, Jeffin Rodegheri e Xan
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A música foi gravada durante a quarentena por Marcus Balbi (guitarra e cigar box), Jeffin Rodegheri (baixo acústico) e Jefferson Gonçalves (gaita). Mixagem de áudio e edição de vídeo levam a assinatura do Jeffin Rodegheri. A canção, segundo Xan, quer mostrar o lado sujo da noite.
- É uma compilação de contos que abordam sexo, drogas, bebidas e violência, e se passam em botecos sujos, motéis de beira de estrada, puteiros, pontos de prostituição etc. Tudo sob a ótica de um personagem-narrador, solitário, frio, libertino, que é apaixonado pela noite e pelo lado obscuro da vida noturna. Citações musicais são uma constante nos textos que ajudam a criar um clima e a ambientar melhor as histórias.
Marcus Balbi conta que o clipe foi gravado em abril deste ano, em meio ao caos provocado pela pandemia do coronavírus (Covid-19).
- Foi de casa mesmo, cada um na sua toca, com o que tinha de ferramentas disponível. O Xan plantou a semente, disse “tenho um blues aqui, vamos?”. Os vídeos foram feitos com celulares, e o áudio foi gravado com sistemas simples de captação. Tudo de casa, sem ensaio, sem combinar nada, sem modificar muito cada camada das versões. Cada músico deixou sua impressão do Submundo e traduziu em sonoridade. Foi um compilado bruto de sonoridades submundanas que o Jeffin lapidou, fez toda a magia da mixagem de áudio e edição de vídeo pra chegar ao que foi lançado.
De acordo com o guitarrista, foram duas semanas para chegar à versão final da música base, e mais uma semana de gravação dos vídeos, mais ou menos.
- Fiz uma a primeira versão, mais "high", que não era muito a ideia do Xan. Ele foi dando um clima submundano e chegamos então a uma versão base. Gravei as guitarras, voz e cigar box.
Xan lembra que já tinha escrito essa letra há algum tempo e tinha a melodia na cabeça, cantarolou para o Marcus Balbi e aí foram acertando os detalhes.
- Já tinha ideia de quem convidar para gravar. Para o baixo pensei no Jeffin, pra colocar um baixo acústico, e como um bom blues não pode faltar uma gaita convidei nada mais, nada menos que o Jefferson Gonçalves, um dos principais gaitistas do gênero do país. O mais interessante é que nenhum deles se conhece.
Veja o vídeo de “Submundo Blues”
Isolamento que aflora a criatividade
O isolamento social acabou unindo os artistas de forma diferente e aflorando ainda mais a criatividade. Xan acredita que conseguiu passar todo o conceito e a atmosfera dos contos que o personagem vivia e de como a música deveria ser.
- O Marcus rapidamente captou a ideia e a essência da parada. Talvez essa música só tenha existido por estarmos isolados em casa. Afinal, tenho essa letra há alguns anos já, e nunca consegui gravá-la. Acredito que os piores momentos sempre trazem boas inspirações.
Balbi concorda que a experiência de gravar isolados foi interessante, mas observa que o processo não tem aquela energia coletiva que empurra a música para um caminho único.
- É uma pegada de você com você mesmo, e com a energia singular que você quer transmitir. E o seu companheiro faz a leitura dele, e coloca a energia sob a ótica dele. Nesse caso o tema central era um blues, noturno, e a própria letra da música foi talvez o principal fio condutor. Tinha um personagem ali que dialogava com o músico, e que para mim foi a energia pra gente seguir. Um processo diferente. Não sei explicar se limitante, pois não conhecemos o “Submundo Blues” tocando juntos. O resultado final é esse, sem sabermos como teria sido se fosse feito à maneira "tradicional". Esse diferente é legal também.
Embora isolados, o processo criativo foi compartilhado. Balbi diz que a tecnologia colaborou, afinal, hoje temos bons meios de comunicação, videochamadas, grupos de áudio.
- Ao final, o processo fluiu. Talvez, mesmo sem isolamento social, imagino que o processo teria sido similar. Cada um com sua rotina, seus horários diferentes. A conexão digital torna as coisas meio atemporais. Um trabalha de madrugada, compartilha; outro comenta de manhã; o outro à tarde; e depois de algumas boas interações a coisa acontece.
O guitarrista destaca que Xan apresentou a letra e a música praticamente prontas, e que os músicos traduziram em sonoridade.
- Estar lado a lado nos traria algumas ideias complementares, arranjos diferentes, talvez até mais elaborados. Todavia, pela melancolia que a música traz, o "estar só" colaborou para um arranjo mais simples, seco, mais "só" de fato. Arte tem dessas coisas, o resultado final é o conjunto das ideias, somado a todas as influências do processo, e o processo passa a ser mais um elemento daquele produto final. Essa integração é demais! Até hoje não pudemos fazer um brinde pra comemorar o lançamento da música.
Poema musicado - A voz da consciência
A outra produção do projeto Cidade Cinza do Céu Vermelho é o video poema "Gosto da Noite", texto que resume o universo do personagem e que introduz a série de contos. Produzido por Pablo Duca e Raphael Garcêz, do Beatbass High Tech, em parceria com Xan. O idealizador do projeto conta que queria um clima bem tenso e obscuro para essa trilha, e interpretado por Daiana Damião. A edição do video também ficou a cargo do Jeffin Rodegheri.
- Apesar do personagem ser masculino, a voz da Daiana caiu muito bem e funciona como a voz da consciência dele.
Veja também o vídeo de “Gosto da Noite”