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Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Teatro/O Incansável Dom Quixote

Bem longe de ser uma triste figura

Maksin Oliveira mostra coragem ao brincar com a obra de Miguel de Cervantes; interpretação, figurino, cenário e iluminação compensam mão pesada no humor

Crítica  –  14/08/2014 19:37

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(Foto: Divulgação) 

Entrega total: Em "O incansável Dom Quixote", Maksin
mostra muita técnica no uso de todos os instrumentos (voz, corpo,
musicalidade, preparo físico e emoção) que o ator tem à sua disposição
 

Mais do que talento, é preciso coragem para encarar a difícil tarefa de levar para o palco uma obra de Miguel de Cervantes. Vendo "O incansável Dom Quixote", não há dúvidas de que Maksin Oliveira não teme desafios. Antigo conhecido deste crítico (mais de dez anos se passaram quando vi o rapaz atuando pela primeira vez), o ator amadureceu muito bem, obrigado. E mostrou isso no espetáculo encenado no Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva, em Volta Redonda, em junho. A peça foi a escolhida para ser a atração do Projeto Cena Papagoiaba (parceria do Coletivo Teatral Sala Preta, de Barra Mansa, e o Gacemss). O que Maksin oferece ao público está longe de ser uma triste figura. 

"O incansável Dom Quixote", que já foi encenado no Sesc (leia aqui a reportagem) e no Sest/Senat (o OLHO VIVO também registrou), ganha mais pontos positivos, pelo fato de a adaptação do clássico levar a assinatura do próprio ator. Não espere encontrar aquela construção textual irretocável do autor, mas a essência da fábula e dos personagens está lá. OK, algumas vezes fica a impressão de que Maksin pesou a mão nas doses de humor, e que tudo poderia ser mais sutil. Mas é uma questão de paladar teatral, e não um problema em si. 

Para aplacar a possível ira de alguns que, como eu, se sentem meio desconfortáveis em ouvir o texto original mexido e remexido quantas vezes a adaptação se fez necessária, algumas frases foram mantidas literariamente iguais. Mas não muitas, como o próprio Maksin faz questão de frisar. Há também, segundo o ator, a colagem de trechos de textos de outros autores, como Drummond, José Lins do Rego e Mário Quintana. Só que a opção pela mão pesada no humor, digamos, escrachado dificulta esse entendimento. 

Para compensar tudo isso, a interpretação do ator beira a perfeição, embora ele tenha escorregado uma ou duas vezes no texto na apresentação no Gacemss. Nada que comprometa o resultado final, que exige não só muita técnica no uso de todos os instrumentos (voz, corpo, musicalidade, preparo físico e emoção) que o ator tem à sua disposição, como também entrega total. 

Aí chegamos na direção de Reynaldo Dutra. Ele opta por reduzir, ou limitar, o espaço cênico, o que por um lado leva o público para quase dentro do espetáculo. Mas, por outro, soa meio repetitivo nas soluções encontradas. Por sorte, o espetáculo tem curta duração, caso contrário, essa opção do diretor poderia se transformar num moinho de vento no caminho de "O incansável Dom Quixote". Já o figurino de Leonam Thurler é de um bom gosto, uma simplicidade e praticidade a toda prova. Assim como o cenário da Magnífica Trupe de Variedades. O toque final fica por conta da iluminação de Pedro Struchiner, bela e delicada como é o Cavaleiro da Triste Figura. 

Na matemática da arte, "noves fora", aplausos merecidos para Maksin. 

> Acompanhe as novidades sobre Maksin Oliveira no Facebook do artista e também na página do espetáculo.

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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