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Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Teatro/Desafinados... Mal Educados... Porém Bem Humorados

Mais um espetáculo de amor/ódio da Stael de Oliveira

O que se perde nas interpretações, ganha-se na direção ágil, com cenários práticos e texto divertido

Crítica  –  17/10/2014 17:29

Publicada em: 30/09/2014 (17:14:49)
Atualizada em: 17/10/2014 (17:29:25)

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(Foto: Divulgação)

O forte da peça é a agilidade, com cenários montados
e desmontados pelos próprios alunos em cena aberta
 

Acompanho (profissionalmente, como jornalista e crítico) os bastidores da arte teatral na região há mais ou menos 30 anos. Já vi, ouvi e participei de muitas coisas relacionadas ao teatro, por isso mesmo fico muito à vontade ao escrever minhas críticas. Dito isso, bora encarar mais uma...

Se tem uma artista que não desperta reações pela metade no público em geral e, principalmente, na classe artística é Stael de Oliveira. Muitos amam o trabalho que ela desenvolve; outros, odeiam. Só isso já torna relevante o que a Cia. Arte em Cena vem mostrando nos palcos há anos. O mais recente espetáculo que vi da garotada da Stael foi "Desafinados... Mal educados... Porém bem humorados", que abriu o projeto Teatro Escola Gacemss 2014. A primeira apresentação foi em 13 de maio, no Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva, em Volta Redonda. Teatro lotado naquela noite, a peça não é uma exceção à regra amor/ódio que envolve o Arte em Cena.

Já escrevi outras vezes que é preciso ter bom senso e coerência ao avaliar uma peça de teatro, um filme, um livro, um programa de TV, um show... Antes de sair por aí "falando mal" (como a maioria define uma crítica), é preciso tentar entender a proposta do autor, do diretor, do grupo, dos artistas. E a partir daí formar a sua opinião sobre o que foi apresentado. Não foram poucas as vezes que vi obras descritas por seus autores de uma forma, sob uma ótica que só eles conseguem entender. Nesses casos, o erro, se é que podemos usar essa palavra quando o assunto é arte, é desastroso, porque não há arte que se sustente se você não consegue alcançar a razão da sua existência: tocar a si mesmo e o maior número possível de pessoas. E nesse aspecto "Desafinados..." cumpre à risca a sua proposta. Ou seja, acerta em cheio o seu alvo.

É um espetáculo irretocável? Não. É um trabalho com artistas profissionais em cena? De jeito nenhum. Mas Stael nunca "vendeu" seus espetáculos assim. Quem vai ver "Desafinados...", por exemplo, sabe perfeitamente que não encontrará no palco interpretações dignas de prêmio num festival de teatro. E esse é o grande trunfo da maioria das peças do Arte em Cena, ser honesto com o público, preparando-o para o que estar por vir.

"Desafinados... Mal educados... Porém bem humorados", escrita por Stael de Oliveira e Nei Rafael, dirigida por ela, tem texto que nasceu sugerido pelo grupo. O laboratório para a montagem de cena foram os próprios alunos, que falaram de suas indagações frente ao universo adolescente, fazendo uma crítica à falta de diálogo em família e à dificuldade do jovem em discutir seus problemas no dia a dia. De maneira bem superficial, diga-se, e mergulhada no humor, coloca-se em discussão temas como sexualidade, relacionamento, cotidiano.

O forte da peça é a agilidade, com cenários montados e desmontados pelos próprios alunos em cena aberta. O que se perde nas interpretações (que são de alunos de teatro e não de atores profissionais) ganha-se na direção, que não dá tempo ao público de se ressentir de um texto mais complexo e interpretações de personagens mais bem construídos.

No Teatro Escola Gacemss, todas as peças abordam temas educativos, como sexualidade, drogas, valorização da mulher, autoestima, propondo uma espécie de reeducação sociocultural, artística e emocional. A escolha da Companhia de Teatro Arte em Cena, fundada em 1989 e atualmente conta com mais de 200 alunos, para o projeto foi perfeita. Não à toa, muitos artistas começaram com Stael e hoje são profissionais nas capitais do Brasil.

Então, minha gente, é melhor encarar a proposta da Stael com o mesmo bom humor que ela enfrenta o desafio que é fazer teatro sem medo de dividir opiniões. Porque, se for para agradar a todos, é melhor ficar em casa. Ou não.

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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