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Olhar Pop

Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

À Beira do Abismo

A arte provocativa de Alexandre Pinheiro

Novo projeto do artista, - Absente - faz uma espécie de simbiose entre fotografias e poemas, remetendo à reflexão sobre o mundo atual

Crítica  –  16/08/2017 14:01

Publicada: 03/07/2017 (21:24:32) . Atualizada: 16/08/2017 (14:01:49)

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“Absente” causa um certo incômodo à primeira vista. Não pela estética ou plasticidade. E isso não é, necessariamente, ruim. Pelo contrário. Sentir-se incomodado remete à reflexão, a pensar e repensar conceitos. A redescobrir formas de dialogar com o mundo ao seu redor. Com o mundo. Todo. 

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“A tragédia é não existir senso de tragédia; o corpo, monumento mínimo, não se deixa formatar, sofre com todas as falas externas, enclausurado, dilacerado, um corpo de criação, memória-invenção. A sociedade desce ao nível da barbárie, e a violência original readquire seus velhos direitos. A indiferença da maior parte da perturbação do sistema terrestre pode ser atribuída a uma falha da razão ou fraquezas psicológicas; como uma síndrome de variadas vertentes patológicas, mas esses parecem inadequados para explicar por que nos encontramos à beira do abismo”. 

(Alexandre Pinheiro) 

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O novo projeto de Alexandre Pinheiro faz uma espécie de simbiose entre fotografias e poemas. O que nasce é uma forma de arte que salta aos olhos, ganha vida própria e parece mutável a cada novo olhar. O ensaio apresenta 12 fotos clicadas em meados de 2016 e 2017. A produção é de Thiago Rocha. 

- A ideia inicial é montar uma exibição com esse projeto, ainda estou em busca de realizadores para concretizar a instalação dessa exposição. Penso também em uma publicação em forma de livro, com os poemas que ficaram de fora e as imagem que ilustram essa narrativa - revela. 

Mas, afinal, o que é “Absente”? O fotógrafo explica que o conceito do projeto pretende colaborar com a discussão semiótica sobre as violências extremas vivenciadas pelos homens, que apagam limites, transcendem os pequenos espaços sociais, ganham uma espécie de universalidade trágica que engloba a humanidade. 

“Marcadas com a cor vermelha, as fotos exploram o dualismo da memória do corpo e levantam ainda a discussão sobre a natureza da representação fotográfica, pois a fotografia sempre traz consigo o seu referente, aquilo que ela representa. O peso da violência fica condicionado a lembranças produzidas no corpo e na memória do espectador”, explica o fotógrafo, no projeto.

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Absente:

ainda estamos aguardando as poesias que vão subir
sobre a morte de mais uma de nós
sob o mando de um estado que não nos defende
exacerbera um, em troca do bem-estar de vários
e estimula a castração de nossos direitos
mortadelas e coxinhas
infectados com o veneno
o que te faz sorrir em 2017?
os muros cinzas de 23 de maio?
os muros caídos na cracolândia?
os corpos caídos nas aldeias guajajaras?
as aldeias em chamas?
as matas em chamas?
a indústria a todo vapor!
quanta indiferença com a perturbação do sistema terrestre
os motores ritmam a melodia do paraíso em chamas
sinfonia dançando em stacatto
o tilintar das árvores queimando
o oceano se calando
as espécies se calando
um a um, menos
um

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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