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O OLHO VIVO viu "Intocáveis"; confira a crítica de Thiago Pimentel

Acabando com a hipocrisia no mundo, filme de Olivier Nakache e Eric Toledano é de linguagem leve e garante altas risadas

Cinema  –  19/09/2012 15:04

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(Foto: Divulgação)

Os dois atores principais demonstram química

singular nos primeiros minutos do filme

Hoje vi uma criança cedendo o lugar no ônibus para um idoso. O gesto foi louvável, mas vocês precisavam ver a face descontente que a criança ficou após o idoso ter aceitado o convite. Ela devia estar bem cansada, não reprovo a criança, mas tive a impressão de que a vontade de ficar confortável durante algumas horas soou mais forte do que o ato moral de fazer o bem ao próximo. Ela cedeu o lugar, mas ficou evidente em seu rosto o fato de ter sido obrigada a tomar essa atitude. Me lembrei então do filme que assisti nesta semana, “Intocáveis” (França, 2011), de Olivier Nakache e Eric Toledano, baseado no livro “O segundo suspiro”, de Philippe Pozzo di Borgo.

O filme conta a história de Philippe (François Cluzet), um milionário que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando de um assistente, ele decide contratar Driss (Omar Sy), um jovem ex-presidiário que não tem a menor prática em cuidar de pessoas no seu estado. Nas experiências e diferenças de cada um, aos poucos a amizade entre eles se estabelece.

Arte e entretenimento lado a lado 

Se você está pensando que lá vem mais um “filme cabeça” que você tem de ficar o tempo todo criando conceitos pra compreender a história, saiba que o filme foi a segunda maior bilheteria em seu país de origem, e também a maior bilheteria francesa no exterior, quebrando mitos como “O fabuloso destino de Amelie Poulin”. E provando que arte e entretenimento podem andar lado a lado, deu ao ator Omar Sy o César 2011, derrotando até Jean Dujardin em “O artista”, que no ano seguinte veio a ganhar o Oscar por sua performance. O filme é de linguagem leve e garante altas risadas. Vale o ingresso já pela interpretação dos dois atores principais, que demonstram química singular nos primeiros minutos do filme.

O roteiro é primoroso, e a história me ganhou na primeira sequência: Driss, ao ser parado pela polícia após dirigir imprudentemente, forja uma emergência médica de Philippe para se ver livre de qualquer penalização. O velado preconceito racista apresentado inicialmente pelos policiais pelo personagem negro vira caridade em segunda instância, quando percebem a paralisia de Philippe, supostamente em convulsão. Os dois se divertem com a brincadeira, e partem para uma aventura por meio do rompimento de suas próprias barreiras. Daí em diante acompanhamos hilárias situações envolvendo esses dois personagens, jogando muitas vezes o politicamente correto e a moralidade para segunda instância.

Amizade e lealdade

Ao contrário do que parece, o filme não parte para uma aventura imoral, ele rompe com esse padrão pra nos aproximar de um conceito mais profundo de amizade e lealdade sem as barreiras da aceitação social: Philippe, como toda pessoa portadora de necessidades especiais, não necessita apenas de caridade. E quando mergulhamos no universo de Driss, onde o politicamente correto não tem vez, abrimos espaço para questionamentos da nossa própria honestidade.

Voltando à citação do início da coluna, será que o ato de caridade demonstrado estava de acordo com os princípios dessa criança? Nada como um excelente filme como “Intocáveis” para compreendermos o nosso senso de comunidade. Recomendo esse filme para pessoas que vão ao cinema para assistir fortes histórias e que gostam de questionamentos surpreendentes. Se o seu objetivo é namorar no escurinho do cinema, não vá assistir “Intocáveis”, pois a história pode te hipnotizar do início do filme até os créditos finais.

Quem é quem no filme

. Diretor: Olivier Nakache, Eric Toledano
. Elenco: François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot, Clotilde Mollet, Alba Gaïa Kraghede Bellugi, Cyrril Mendy, Christian Ameri
. Produção: Nicolas Duval-Adassovsky, Laurent Zeitoun, Yann Zenou
. Roteiro: Olivier Nakache, Eric Toledano
. Fotografia: Mathieu Vadepied
. Trilha sonora: Ludovico Einaudi
. Duração: 112 minutos
. Ano: 2011
. País: França
. Gênero: Drama
. Cor: Colorido
. Distribuidora: Califórnia Filmes
. Estúdio: Chaocorp / Gaumont / TF

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Por Thiago Pimentel  –  thiagopim@gmail.com

3 Comentários

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  • Rafael Crooz

    Na grande da verdade, acabei de ver o filme por um site gratis. Com a chuva que caiu no Rio...
    O filme é verdadeiramente incrível. Não há nada de preconceituoso no filme. Dizer que o filme tem piadas racistas e etc é uma grande de uma bobagem. Nunca vi tratar sobre as diferenças desta forma. Aliás, nunca as diferenças ficaram tão evidenciadas nas características mais profundas do ser humano: ser. O jogo de se fingir ser o que não é ás vezes nos dá a lição de quão atores sociais somos. O jogo de ser você mesmo acima de tudo também é uma grande jogada do filme. Driss se mantém fiel e leal, sendo quem é, pertencendo as suas origens, mas adora fazer jogos de representação com o companheiro. Enquanto Phillipe brinca a sério de transformar a realidade ao seu redor, como no caso da venda do quadro. Com o perdão dos oximoros anteriores, quanto mais jogamos com a vida e desenvolvemos características que definem nossas personalidades, ou seja, nossas máscaras (personas em grego), mais percebemos o quanto é fundamental a integridade do caráter!

  • Rafael Crooz

    Estou louco para ver este filme... depois deste texto... só no tarja preta para curar loucura...!
    Me deu um cutucão pra correr pro Roxy...

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