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Cláudio Alcântara

claudioalcantaravr@hotmail.com

Teatro/Efêmera

Sem medo de ser incompreendido

Coletivo Teatral Sala Preta caminha no fio da navalha; grupo de Barra Mansa ganhou o Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro

Crítica  –  12/06/2014 09:37

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(Fotos: Divulgação/Clarisse Melo)

Thiago Delleprane, nu, tem de suportar a dor provocada pelos
pregadores colocados, alguns pelo público, em seu corpo todo

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Difícil. Belo. Incompreensível. Inteligente. Gratuito. Vanguardista. Apelativo. Diferente. Anacrônico. Esses são alguns dos comentários que "Efêmera" conseguiu arrancar de quem viu o espetáculo em abril, no Gacemss (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva), em Volta Redonda, como uma das atrações do Cena Papagoiaba. Com isso, o Coletivo Teatral Sala Preta, de Barra Mansa, responsável pela montagem e pelo projeto que abre espaço para artistas e grupos artísticos regionais com trabalhos autorais, parece cumprir à risca a sua proposta. Ganhadores do Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, em maio, os Pretos se arriscam nessa encenação sensorial. O risco não está tão somente em suportar fisicamente (e emocionalmente) as dores a que o elenco se submete - e com a participação do público. Mas, e principalmente, em não ser compreendido.

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Lucas Fagundes, Viviane Saar e Danilo Nardelli
no segundo ato da peça; público e elenco no palco
 

Talvez, para o Sala Preta, tocar o espectador com o mínimo de compreensão seja o que menos importa ao encenar "Efêmera". Alguns dias depois de ver o espetáculo, perguntei a dois dos atores como é a experiência e, afinal, o que eles querem com a encenação. "A dor física é muito maior do que a emocional", disse Thiago Delleprane, que em determinado momento (na Galeria de Arte Cílio Bastos, onde se passou a terceira parte da peça), nu, tem de suportar a dor provocada pelos pregadores colocados, alguns pelo público, em seu corpo todo. Lucas Fagundes completou: "Não se preocupe em entender corretamente a proposta, não temos essa pretensão".

OK, mas o fio condutor de "Efêmera" é o amor. Pelo menos consta no material de divulgação da peça. "O amor pode ser o desejo de encontrar o outro para compartilhar a solidão, a perda, os segredos, o sexo e a dor", escreveram.

Como a dramaturgia do espetáculo tem autoria coletiva, "Efêmera", versão apresentada no Cena Papagoiaba, acaba soando como três peças diferentes, não só nas linguagens usadas, como também nos temas abordados. O que de forma alguma é um defeito, ou ponto negativo. No entanto, causou estranheza até nos mais experientes, aqueles acostumados a ver (e também a fazer) arte. "Aquela nudez mostrada na peça é completamente gratuita e desnecessária", falou, enfático, um artista que viu "Efêmera" no segundo dia em que foi apresentada no Gacemss. "A tortura física e emocional exigia que se fosse às últimas consequências, e nesse aspecto o nu está completamente contextualizado", afirmou outro. E não é esse o papel da arte? Despertar reflexões plurais...

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Talento indiscutível: Bianco Marques, um dos destaques do espetáculo

"Efêmera" iniciou isso tudo na parte externa do teatro, na calçada e com algumas intervenções na rua. No segundo ato, levou o público para o palco, fazendo dos espectadores quase mais um elemento do elenco. E terminou na galeria de arte, elevando à máxima potência as sensações provocadas em atores e público.

Dirigida por Nathália Dias Gomes com a mesma habilidade que tem como atriz, a peça é muito bem cuidada tecnicamente e traz artistas indiscutivelmente preparados para o ofício, como Danilo Nardelli e Viviane Saar. Bianco Marques, literalmente embrulhado em plástico transparente, como se fosse um pedaço de carne exposto num açougue de quinta, encerra o espetáculo num êxtase de canto memorável. Assim, "Efêmera" vive e revive em cada apresentação, em cada espectador. É arte em mutação.

 > Coletivo Teatral Sala Preta - As novidades do grupo estão no Facebook e também no site.

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Por Cláudio Alcântara  –  claudioalcantaravr@hotmail.com

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