
(Foto: Letras Mus)
Cazuza: No bom português,
como ele mesmo diria, um babaca
André Aquino
Cazuza foi um grande artista: músicas sensacionais, atemporais, letras tocantes. Um gênio da raça musical. E ponto. Confesso que o tinha como ídolo no tempo da rebeldia juvenil - muito mais pelas atitudes do que pelo próprio trabalho. O bom do ser humano é a evolução. Não tenho receio de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender. Hoje vejo Cazuza como uma referência negativa aos jovens. No bom português, como ele mesmo diria, um babaca.
Mês que vem é o aniversário de 24 anos da morte do ídolo dos anos 80 e até hoje se cultua a imagem de Cazuza erroneamente. Há uns dez anos, li o livro "Só as mães são felizes", de Lucinha Araújo, me deparei com o verdadeiro Cazuza, o Agenor Miranda de Araújo Neto. Mimado da Zona Sul, filho sem limites e aplaudido pela mãe complacente aos erros e loucuras.
Poucos anos depois, assisti ao filme "O tempo não para", quando tive a sensação de que não havia artista ali, apenas uma versão nova de uma velha história: o garoto mimado refletiu no relacionamento com a banda. Mas o tempo realmente não para e mostrou que o Barão Vermelho vai muito além das atitudes inconsequentes do ex-vocalista.
Toda ação tem sua consequência e a de Cazuza foi paga como a própria vida. Morreu aos 32 anos. Depois de muita relutância, ele mostrou a sua cara e assumiu publicamente que contraiu o vírus do HIV, travando um calvário público até a morte, em 7 de julho de 1990, no apartamento da família em Ipanema.
A partir daí, Lucinha Araújo travou uma luta linda à frente do Sociedade Viva Cazuza, instituição que dá assistência aos filhos da Aids: crianças que nasceram com o vírus do HIV que foram abandonados pelos pais ou são órfãos. Lucinha usa agora sua influência na alta sociedade para ajudar esses pequenos que são vítimas do acaso e mostram que a doença não é mais como no tempo do seu filho.
Bela redenção da família Araújo.
> André Aquino é jornalista