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Um Novo Modo de Vida

Gratidão: no virtual e na real

A prática da gratidão nos leva não à alienação diante dos fatos e pessoas, mas a enxergar e a valorizar o lado bom que tudo tem; entretanto, não se deve confundir isso com ter uma postura servil ou ser capacho e deixar o outro impune

Artigos  –  23/06/2017 21:45

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(Foto Ilustrativa)

Convicção ou moda: A onda #gratidão

nas redes sociais é um fenômeno benéfico

 

          Publicada: 27/05/2017 (10:52:30)
          Atualizada: 23/06/2017 (21:45:22)

Virgínia Ferreira 

Nesses dias difíceis para o Brasil e o mundo, é bom ver crescer na internet movimentos que reforçam a gratidão. Ela é a característica ou particularidade de quem é grato ou o ato de reconhecer a alguém por uma ação ou benefício recebido. Porém, só é verdadeiramente agradecido quem pensa no favor que recebeu e, ainda, tem consciência da liberalidade do benfeitor.

Em São Tomás de Aquino, a gratidão tem três níveis: primeiro, reconhecer o benefício recebido; segundo, louvar e dar graças; e, terceiro, retribuir. Nas religiões em geral, a gratidão é exercida nos dois primeiros níveis, isso porque a Deus não se agradece, se louva; e, ainda, não se tem como retribuir.

Na sociedade contemporânea, a gratidão é utilizada apenas no primeiro nível: reconhecer o benefício recebido, mas não necessariamente ligado à consciência da liberalidade do benfeitor. Isso quer dizer que, muitas vezes, se recebe um favor e se pensa que o benfeitor o fez por obrigação e não por livre e espontânea vontade.

No budismo, um dos exercícios mais profundos é a “prática de gratidão”, é a prática do agradecimento. Deve-se agradecer a todos e a tudo, todos os dias, 365 dias por ano, isso porque até as situações difíceis tem um lado produtivo a ser agradecido. Desta forma, para o budismo, inicialmente, se agradece sem ao menos saber o motivo da gratidão, mas simplesmente para cumprir a prática do agradecer a todas as pessoas e a todas as situações. Se agradece forçado e, quanto mais se exercita, menos forçado o agradecimento acontece. Quanto menos forçado ele acontece, mais a pessoa se interessa em achar a razão para estar agradecendo.

Por fim, a pessoa é capaz de perceber e valorizar o lado interessante e benéfico de toda e qualquer situação ou pessoa. A mudança pode vir para quem até então valorizava apenas as situações difíceis, aquilo que perdeu ou que faltava. Por exemplo, se ela está com sede e alguém oferece a ela um copo d´água, perceberá o quanto falta de água no copo e não o líquido que há nele. Se não for o suficiente para matar a sede, irá pelo menos minimizá-la.

A prática da gratidão passa a ser uma nova postura existencial, uma forma de se posicionar diante da vida, não desconsiderando a face difícil ou árida de qualquer situação, mas também lançando luz sobre a face produtiva. Todo e qualquer acontecimento, situação ou pessoa é como uma moeda: tem cara e coroa. Isso quer dizer que existem dois lados para tudo. Assim é a vida. A prática da gratidão nos leva não à alienação diante dos fatos e pessoas, mas a enxergar e a valorizar o lado bom que tudo tem. A prática faz parte da abertura do “coração de compaixão”, no budismo. Entretanto, não se deve confundir isso com ter uma postura servil ou ser capacho e deixar o outro impune.

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Praticar a gratidão leva à solidariedade; a solidariedade à sensibilidade; a sensibilidade à paciência; e o sofrimento compartilhado à reconstrução. Essa é a importância da gratidão.

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Se hoje, na internet, a hashtag gratidão se tornou febre nas redes sociais por convicção ou por moda, o importante é que a prática da gratidão tenha tido seu início. Quem sabe é ou será isso o início da reconstrução de uma sociedade mais humana, de uma sociedade melhor.

De acordo com o filósofo alemão Kant, “se o sujeito faz o bem por convicção ou por dever, o importante é que ele fez, afinal, qual é a diferença para aquele que recebeu o bem?”. Nenhuma. O sujeito em sua tenra idade não entende o que seja moral. Simplesmente obedece às leis impostas pela família e pela sociedade por medo. Com o desenvolvimento e maturidade, ele passa a realizar ações morais por convicção e não mais por medo.

Essa onda #gratidão nas redes sociais é um fenômeno benéfico, por pelo menos três motivos: primeiro, porque as pessoas que participam dela estão, de forma consciente ou não, exercitando a prática da gratidão; segundo, porque estão levando outras pessoas a praticar o agradecimento; terceiro, porque todos os fenômenos nas redes sociais têm uma abrangência muito grande e se espalham com a velocidade de um trem bala.

Desta forma, se a prática da gratidão leva a uma sociedade mais humana, se #gratidão está contagiando por minuto centenas de pessoas e as tornando melhor, há uma chance iminente da reconstrução de um mundo solidário. Não se pode falar numa identidade virtual pelo fenômeno #gratidão ou por qualquer outro fenômeno. Podemos, sim, dizer que o fenômeno está mudando o posicionamento das pessoas frente aos acontecimentos individuais ou coletivos. Podemos dizer que #gratidão está inaugurando um novo modo de vida. 

> Virgínia Ferreira é psicanalista e coordenadora da pós-graduação em psicologia clínica com ênfase nas perspectivas breves da FMP/Fase (RJ)

Por Assessoria de Comunicação  –  contato@olhovivoca.com.br

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