
(Foto Ilustrativa)
Sujas, as duas se sujarão mutuamente, se lavarem umas com as outras
Ricardo Yabrudi
Descarte encontrou Platão e agradeceu: Seu mundo das ideias me ajudou muito e então eu disse: - Penso, logo existo. Uma mão lava a outra. Não é a sua mão esquerda que lava a direita e vice-versa, mas na evolução filosófica é a mão de um filósofo que lava a mão de outro filósofo. Elas se ajudam. Mas, se a mão está corrompida e suja com uma graxa espessa, a mão que ajuda pode se sujar também, em vez de lavar a outra mão. As duas se sujarão mutuamente, se lavarem umas com as outras.
Quando se rompe uma cadeia de pensamentos na filosofia, ou seja, quando uma mão não ajuda a lavar uma outra, e se um filósofo viu a graxa espessa - se afastará porque está cheio de dúvidas. No entanto, cadeias de pensamentos também podem ser contrárias, gerando uma boa antítese. Neste caso, uma refutação da tese anterior não será apenas um meio lógico para se chegar à conclusão e confirmar a tese, mas uma antítese que se torna a própria conclusão e a própria tese concluída.
A graxa espessa está por toda parte. Ela é o sebo, o elemento que unge engrenagens para seu suave funcionamento. A filosofia usa dessa graxa para se aperfeiçoar. Uma engrenagem de um grande moinho está sendo construída para enfrentar um Dom Quixote. Os filósofos solitários precisam de uma grande lança, também um escudo reluzente, refletor do sol, que cegue e queime o gigante moinho - é um truque militar ofensivo que foi muito usado por Arquimedes contra naus inimigas.
Geralmente o filósofo solitário não lava as mãos de ninguém. Heráclito não lavou nenhuma mão. Foi para os ermos porque sua filosofia foi única. Os trabalhadores da filosofia, seus operários, lavam suas mãos ao entrar na fábrica de pensamentos.
Lá, sujam suas mãos de graxa para construir um moinho que mói o trigo para fazer o pão comunitário de uma sociedade filosoficamente harmoniosa. Diógenes de Sinope está à porta desta fábrica, se recusou a trabalhar lá. Sentado na calçada, veio Nietzsche lhe fazer companhia. Os dois estão com as mãos limpas. Preferem assim, ficar lendo Miguel de Cervantes que lhes ensina a lidar com os gigantes moinhos ou com os moinhos gigantes. A loucura não é para todos.
> Ricardo Yabrudi é músico, arquiteto e assina a coluna de Música do OLHO VIVO