(Fotos: Divulgação)
Filmes de realizadores negros, debates e o fortalecimento de narrativas que reescrevem o audiovisual brasileiro
Uma espécie de manifesto profundamente vibrante vai ocupar o Clube Municipal de Barra Mansa, no dia 19 de novembro (quarta-feira), quando a cidade receberá a II Mostra de Curtas-metragens Poderes em Cena - Retratos da Liberdade. Das 18h30 às 21h, com entrada gratuita e classificação de 16 anos, o público poderá ocupar um espaço que, mais do que exibir filmes, celebra trajetórias, ressignifica narrativas e reafirma a potência do olhar negro no audiovisual.
A mostra, não competitiva, é composta exclusivamente por curtas-metragens realizados por pessoas negras - iniciativa pioneira na região e que, este ano, integra a programação do III Cine Afro em Barra Mansa. A proposta, segundo os organizadores, é simples e urgente: Possibilitar acesso à cultura como instrumento de inclusão e democratização, ampliar o reconhecimento artístico de atores, produtores e técnicos negros e fortalecer a difusão de narrativas que, historicamente, foram silenciadas.
A justificativa ecoa feridas e conquistas: Durante décadas, o cinema brasileiro raramente se dispôs a retratar corpos, subjetividades e vivências negras de forma complexa. Muitas vezes confinados a estereótipos ou papéis secundários, artistas negros foram enquadrados a partir de um olhar externo, branco e elitizado - reflexo direto de uma sociedade estruturalmente racista. Mas, a partir das décadas de 1970 e 1980, a presença de realizadores negros diante e atrás das câmeras começou a abrir fendas nesse cenário.
Nos anos 1990, mesmo com o enfraquecimento da indústria nacional após o fim da Embrafilme, o curta-metragem e a produção independente emergiram como território fértil para a consolidação do cinema negro brasileiro. Essas obras passaram a iluminar temas até então invisibilizados, rompendo estigmas, ampliando imaginários e reafirmando a potência intelectual e criativa de artistas negros.
Valorizar essas produções, apontam os organizadores, é reconhecer a pluralidade do país e compreender que representatividade não é um detalhe estético, mas uma ferramenta de transformação e pertencimento.
Os filmes selecionados
Nesta edição, foram convidados três curtas que dialogam com diferentes sensibilidades e urgências: “Eu Queria Ser Bailarina”, “Eu Lírico” e “Lily´s Hair”. Todos integram a programação oficial do III Cine Afro Barra Mansa.
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. Eu Queria Ser Bailarina, de Leo Santos e Isabel Seixas - A história acompanha o desejo de uma menina de se tornar bailarina, apesar da ausência de referências e inspirações. Um passeio para conhecer o novo bairro desencadeia um encontro inesperado, capaz de mudar sua vida.

. Eu Lírico, de Pedro Paredes - Depois de discutir com seus alunos, Luís passa a enfrentar noites de insônia e alucinações, enquanto questiona o impacto de seu papel como professor na vida de jovens sem perspectiva.
. Lily´s Hair, de Raphael Silva - Lily, uma jovem negra que não gosta de seus cabelos, encontra no amigo Caio, que é cadeirante, o apoio para tentar viver a transformação que tanto deseja.
Público e proposta formativa
Voltada a maiores de 16 anos interessados em cinema e arte, a mostra propõe não apenas a exibição, mas também um bate-papo pós-sessão, no qual espectadores podem compartilhar impressões e conhecer mais sobre a sétima arte diretamente com quem a produz. A intenção é clara: Fomentar diálogos, estimular pensamento crítico e ampliar o acesso ao audiovisual. Todas as sessões têm entrada franca.
Assim como em sua primeira edição, Poderes em Cena recebe profissionais do audiovisual e personalidades negras para uma conversa após as exibições, fortalecendo o intercâmbio cultural e aprofundando discussões sobre estética, narrativa e política das imagens.
Cine Afro
Dedicado à valorização do audiovisual negro, o Cine Afro reforça a representatividade, tanto diante quanto atrás das câmeras. Além das exibições, o evento promove debates sobre identidade, racismo e inclusão no cinema, abrindo espaço para artistas negros de diferentes segmentos culturais.

Nesta terceira edição, o Cine Afro apresenta o lançamento do filme “Abjurante”, dirigido por Tom Teixeira, e o clipe musical “Desenho”, do artista Bravo (foto acima), além de abraçar a Mostra Poderes em Cena dentro de sua programação.
. Abjurante, de Tom Teixeira - Uma mulher grava um vídeo fazendo graves acusações, sem imaginar as consequências que esse gesto desencadearia.
Quem é quem
. Produção: Promax Produções
. Coprodução: Pro.duSam
. Curadoria: André Ribeiro, Gabriel Sam
. Apoio: Conselho Municipal de Promoção de Políticas Públicas da Igualdade Racial de Barra Mansa, Gepir, Centro PIR, OICN, Secom
