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Mundo Virtual

O "Disco Furado" do blogueiro Marcelo Mara

Professor de história e colecionador de discos independentes desde a adolescência tem blog dedicado às bandas independentes

Música  –  05/06/2013 21:58

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(Fotos: Reprodução/Internet)

Blog começou em janeiro de 2011; objetivo era postar
textos e links de download de discos independentes

A série "Loucos por Música" está de volta com mais um blogueiro que fala de seu amor e satisfação em compartilhar seus achados com pessoas de todos os cantos do mundo. Meu convidado de hoje é Marcelo Mara, um cara que decidiu fazer um blog dedicado às bandas independentes, muito interessante, diga-se de passagem. Marcelo tem 30 anos é de São Paulo, mora em Ponta Grossa (PR), é professor de história e colecionador de discos independentes desde a adolescência, ou desde que teve contato com o primeiro fanzine.

Márcia: Como e quando começou a escrever seu blog? Qual era o objetivo e esse objetivo permanece o mesmo ainda hoje?

Marcelo: O blog começou em janeiro de 2011. O objetivo era postar textos e links de download de discos independentes, sejam esses raridades, obscuridades e até mesmo discos de bandas populares. Acredito que o objetivo inicial ainda se mantém.

Márcia: Quando começou já era "Disco Furado" e por que escolheu esse nome?

Marcelo: Já começou como "Disco Furado", sim. A escolha do nome eu não sei ao certo. Acho que deve ser pelo fato de alguns discos, principalmente os das primeiras postagens, terem sido ouvidos até furar.

Márcia: Como escolhe os álbuns para postagem? Suas escolhas são aleatórias?

Marcelo: São aleatórias. Na verdade, sempre pesquisei e tive interesse por discos independentes nacionais, de todos os estilos. Volta e meia pego algum da coleção e resolvo escrever sobre ele, daí rola uma pesquisa rápida, uma leitura atenta de ficha técnica e uma busca por material de apoio, fanzines, revistas especializadas e livros.

Márcia: Já teve algum tipo de problema com gravadoras ou bandas ou teve álbuns deletados de provedores?

Marcelo: Sim. Alguns artistas têm direitos reservados e denunciam os links de download. Noutras, os próprios servidores deletam (caso do mediafire, 4 shared) e em alguns casos os artistas não têm interesse de disponibilizar gratuitamente o trabalho. Nesses casos só há texto e não links de download nas postagens.

Márcia: Você acredita que de alguma forma esteja prejudicando alguém com suas postagens, falando de direitos autorais?

Marcelo: Não. Ao contrário, acredito que ajudo o artista escrevendo espontaneamente sobre um trabalho que me agrada. Quando sei que o tal disco postado encontra-se disponível para compra com o artista ou em algum site de selo ou loja, faço questão de informar, afinal, no meu caso, só me interesso pelos discos em formato físico, o download é legal para conhecer, no álbum em mãos tem sempre mais.

Márcia: Qual é a importância de um blog dedicado à música na internet?

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Marcelo: É um serviço de utilidade
pública. Têm blogs nacionais muito
bons e têm público interessado.

Márcia: A maioria dos internautas não deixa comentários de agradecimento, mas quando querem reclamar ou pedir sabem usar os comentários, isso te irrita?

Marcelo: Depende, geralmente não espero pelos comentários, quando eles surgem é um sinal de recompensa. Quanto às reclamações, acho mais chato quando isso acontece no meu canal do YouTube, no qual posto vídeos de bandas independentes, ou não, sempre aparece um filhadaputa reclamando da qualidade das minhas velhas VHS (risos). Nos pedidos que fazem nos comentários do blog eu gosto, pois tento atendê-los.

Márcia: Faz ideia de quantos álbuns já publicou no blog?

Marcelo: Sim, exatamente 202.

Márcia: Acredita que haja competição entre certos blogs?

Marcelo: Não. No meu caso não.

Márcia: Sua coleção aconteceu por acaso ou desde o início você já sabia que era um colecionador?

Marcelo: Começou por acaso, comprando discos baratos em sebos, garimpando umas coisas em viagens, com o passar dos anos o acúmulo de LPs, CDs, revistas, zines, VHS tomou uma proporção de coleção considerável, não sei quantos itens têm. Mas só de discos passam de 2 mil.

Márcia: Quando começou a colecionar?

Marcelo: Comecei em 1998, com 15 anos.

Márcia: Sua coleção é de LPs, CDs, mp3 ou tudo junto?

Marcelo: Mp3 eu não coleciono, nem gravo mais, só quando é algo raro, que não tem em formato físico.

Márcia: Sua coleção é só de rock ou outros gêneros podem entrar?

Marcelo: Qualquer gênero entra. Até mesmo discos ruins. Alguns compro só pela capa!

Márcia: Qual o LP/CD ou mp3 que considera o mais raro de sua coleção?

Marcelo: Acho que o LP "Cadáver pega fogo durante o velório", de um coletivo carioca, o Malta de Areia. Alguns CDs são raros, como o primeiro do Low Dream, o segundo do Second Come. Algumas coletâneas de bandas punks.

Márcia: E qual deles seria o mais estranho dentro da coleção?

Marcelo: Os discos do Zumbi do Mato, Piu Piu e Sua banda. Na verdade, eu não acho nenhum estranho, mas meus amigos acham.

"Qualquer gênero entra na minha
coleção. Até mesmo discos ruins.
Alguns compro só pela capa!"

Márcia: Qual álbum deu mais trabalho para encontrar?

Marcelo: O "Cadáver pega fogo durante o velório", nem acreditei quando encontrei, não tiro ele de casa por nada.

Márcia: Ainda tem uma lista grande de discos que procura?

Marcelo: Tenho uma lista de 60 itens em CD e LP que eu sempre procuro, quando encontro algum logo risco da lista e adiciono outro. Volta e meia eu acabo descobrindo um disco raro que logo entra na lista dos discos dos desejados.

Márcia: Como costuma achar seus objetos de desejo?

Marcelo: Sebos e Mercado Livre, como moro no interior do Paraná encontro pouca coisa nos sebos daqui.

Márcia: Sua coleção é compartilhada no seu blog?

Marcelo: Sim, compartilho os discos nacionais independentes que tenho, os bons, pois tem coisa ruim também, alguns tão ruins que merecem compartilhamento.

Márcia: Sei que é uma sacanagem pedir uma listinha de álbuns favoritos, mas poderia fazer uma pequena lista com os dez álbuns que considera fundamentais em uma coleção. Lista comentada álbum a álbum, por favor!

Marcelo:
1. Gangrena Gasosa "Smells like a Tenda Espírita" - Segundo disco da banda carioca de thrash saravá metal. Disco pesado com forte influência do punk hardcore brasileiro e as temáticas divertidas das letras.

2. Antônio Adolfo "Feito em casa" - Primeiro disco solo do pianista e arranjador carioca. Além do disco ser muito bom, ganha importância por ser um dos primeiros discos feitos totalmente independente, desde o projeto gráfico até a distribuição. É reconhecido como primeiro disco independente moderno.

3. Arnaldo Baptista "Singin alone" - Segundo disco solo do ex-mutante, depois de uma tentativa de suicídio Arnaldo entra em estúdio, com o apoio de Luiz Calanca, dono da loja de discos paulistana Baratos Afins, para gravar um disco denso. Inaugurou o selo Baratos Afins, em 1982.

4. V.A. "Cadáver pega fogo durante o velório" - Sambas urbanos sobre violência, doenças, loucuras, corações dilacerados, compostos por Fernando Pellon, um sambista sem tradição nem precedentes, altamente influenciado por Jards Macalé. À espera de reconhecimento.

5. Os Cascavelletes "EP" - Primeiro registro em vinil do quarteto de Porto Alegre/RS. Com apenas seis canções, o álbum consegue ser o melhor disco do rock brasileiro. Cheio de energia e letras divertidas, deixou clássicos como "Menstruada", "Morte por tesão", "Jéssica Rose" e "Estou amando uma mulher". 

6. Virna Lisi "Esperar o quê?" - Primeiro disco do quarteto de Belo Horizonte (MG). Um álbum de rock com percussão pesada que antecipou boa parte da produção de misturas que caracterizou as bandas brasileiras dos anos 90.

7. The Gilbertos "Os Eurosambas 1992-1998" - Egresso do Fellini, Thomas Pappon continuo produzindo música lentamente na Europa, depois organizou suas gravações, batizou sua banda-de-um-homem-só de The Gilbertos e lançou "Eurosambas" bossa-lo-fi e experimentos muito bem recebidos pelos órfãos do Fellini.

8. DeFalla "Kingzobullshitbackinfulleffect92" - O revolucionário e surpreendente quinto disco do DeFalla. Lançou bases de muito do que a ser feito na música brasileira nos 90s. Produção maluca e muito atual nos dias de hoje.

9. Low Dream "Between my dreams and the real thngs" - Estreia da guitar band de Brasília/DF Low Dream, guitarras noisy, vocais enterrados, melodias lentas e o melhor disco brasileiro do estilo.

10. Pato Fu "Rotomusic de Liquidificapum" - Primeiro álbum do trio mineiro. Ainda sob as ideias do guitarrista e compositor John Ulhoa, o disco traz uma mistura deliciosa de esquisitices em estúdio, letras nonsense e outras nem tanto. Lançado por um selo tradicionalmente do metal, a Cogumelo Records, logo chamou a atenção de público e mídia.

Caso queira acompanhar a série "Loucos por Música", os já publicados são:

> Luciana Aum do blog ProgRockVintage > Cristian Farias do blog Eu Escuto

> Luiz Fernando Rodrigues dos blogs Envoyez-la e Eu Escuto > Bruno Costa do blog Eu Ovo

> Marcello “Maddy Lee” do blog Pântano Elétrico > Renato Menez do blog Stay Rock

> Romeu Corsino do blog Prog Resenhas > Tiê Passos do blog Difusor de som

> Eduardo Marins do blog Planeta Progressivo > Homem Traça do blog Criatura do Sebo

> Heldon Brazil do blog Progressivo-Vivo > Os seis meninos do blog Valvulado

> Dugabowski do blog Melofilia > Alex sala do blog Muro do Classic Rock

> David Marques do blog Bordel do Rock > Outran Borges Jr. do Octopusland e Contramão

> Edson D´Aquino do Gravetos & Berlotas > Menegon do Venenos do Rock

> Micas do blog Consultoria do Rock > Fernando Anselmo do In Memory of the Traveller in Time

> Robert do Hofmannstoll > M.S. Larbos do Le Grand Grotesque Circus

> Melo Machado do Baú do Mairon > Gäel do Natürlich Prog > Álisson Boeira do Garagem do Rock

> Lucas Silva Hamu do Antologia Progressiva > Claudio Neanderthal do blog Neanderthal

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

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