(Fotos: Divulgação)
Blog começou em 2009, concomitante com a colaboração
nos "Seres da Noite" e "Collective Collection" (hoje desativados)
Semana passada, uma falta de luz repentina e sem motivo aparente queimou o meu fax modem, me deixando a pé. Como sou uma das poucas pessoas no mundo que ainda usa internet discada, encontrar uma placa nova é tarefa árdua - “não trabalhamos mais com isso” é o que ouço cada vez que ligo para uma loja especializada. Então, sem internet estou, mas esta série não pode parar. Hoje e quinta-feira tem coluna "Contramão" com certeza. Nos outros dias não garanto, mas estou procurando uma plaquinha de fax modem.
Meu convidado de hoje é o eterno rebelde Dugabowski, um ex-ocupado que mora em Porto Alegre, gosta de música, literatura, cinema, internet, futebol e como seu codinome deixa claro é fã de Charles Bukowski.
Márcia: Como e quando começou a escrever seu blog? Qual era o objetivo e esse objetivo permanece o mesmo ainda hoje?
Dugabowski: Iniciei o blog em 2009, concomitante com a colaboração nos blogs "Seres da Noite" e "Collective Collection" (hoje desativados), também de compartilhamento de músicas. O propósito era, é e sempre será o mesmo: compartilhar música, mas também - e disso eu não abro mão - fornecer informações, as mais detalhadas possíveis, sobre os artistas e os discos objetos das postagens.
Márcia: Quando começou já era "Melofilia" e porque escolheu esse nome?
Dugabowski: Sim, a denominação nunca mudou. O nome significa, segundo o "Houaiss", "gosto pela música". Embora seja uma palavra de rara utilização, achei que se encaixava no espírito do blog. Além do mais, queria usar uma palavra portuguesa, porque nunca fui muito adepto dos estrangeirismos. Tanto que, invariavelmente, traduzo para o português as biografias dos artistas estrangeiros cujos discos são objetos de postagem no blog.
Márcia: Como escolhe os álbuns para postagem? Suas escolhas são aleatórias?
Dugabowski: Só posto o que eu gosto. De modo que não, minhas escolhas não são aleatórias. E nem sequer disponibilizo espaço para pedidos, embora eventualmente possa vir a atendê-los, se formulados, desde que, obviamente, se coadunem com o meu gosto. Isso é fundamental.
Márcia: Já teve algum tipo de problema com gravadoras ou bandas ou teve álbuns deletados de provedores?
Dugabowski: Já tive algumas postagens deletadas pelo Blogger, por conta de denúncias da famigerada DMCA. Ultimamente, o Rapidshare inventou de apagar alguns links meus, sem aviso prévio, em que pese eu tenha assinatura. O que me leva a afirmar que não existe servidor 100% confiável, mesmo pagando. Os exemplos mais conhecidos são o Megaupload - fechado por ação do governo americano - e, ultimamente, o Mediafire, que tem aniquilado, sistematicamente, coleções inteiras de links, para desespero de muitos blogueiros, que, muitas vezes, por conta disso, se obrigam a fechar ou abandonar os blogs.
Márcia: Você acredita que de alguma forma esteja prejudicando alguém com suas postagens, falando de direitos autorais?
Dugabowski: O assunto é delicado. As opiniões se dividem. Mas concordo com a esmagadora maioria dos blogueiros, no sentido de que o compartilhamento, afora algumas específicas situações, faz mais bem do que mal. Além do mais, todo mundo sabe que o compartilhamento de discos pela web é irreversível, mesmo que as gravadoras e os artistas encontrem uma maneira mais eficaz de reprimi-lo; sempre haverá alguém que driblará a restrição e tudo recomeçará. E não se pode esquecer que os discos são caros no Brasil, até mesmo de artistas brasileiros (como também são caros livros, cinema, teatro; cultura brasileira, de um modo geral, tem um preço altíssimo; é produto para poucos); então, mesmo que o compartilhamento via internet acabasse, duvido que isso produzisse uma elevação na vendagem dos discos no Brasil. Isso sem falar na questão da visibilidade dos artistas, a implicar ganhos na realização de shows, mesmo em detrimento de uma eventual usurpação do seu direito autoral - uma coisa compensaria a outra. Enfim, embora o assunto mostre-se controvertido, mantenho a opinião firmada no início.
Márcia: Qual é a importância de um blog dedicado à música?
Dugabowski: Já teve mais importância, a meu ver. Hoje, com a sua proliferação, perderam um pouco o antigo atrativo. Isso fica claro na ausência de comentários, que já se tornou habitual, com as honrosas exceções de praxe, que, aliás, só confirmam a regra. A numerosa quantidade de blogs de compartilhamento de músicas confunde e angustia as pessoas, com as incontáveis ofertas de downloads à sua disposição. É o excesso de oferta... E excesso nunca é bom.
Márcia: A maioria dos internautas não deixa comentários de agradecimento, mas quando querem reclamar ou pedir sabem usar os comentários, isso te irrita?
Como seu codinome deixa
claro, blogueiro é fã de
Charles Bukowski
Dugabowski: Irritar não seria a palavra adequada. No início eu ficava ansioso pelos comentários. Hoje não dou mais bola. Se vierem, ótimo; se não, a vida continua... E como eu mantenho o blog por diletantismo, não me importo se os comentários não apareçam, embora, é importante frisar, sejam sempre bem-vindos.
Márcia: Faz ideia de quantos álbuns já publicou no blog?
Dugabowski: Não fiz a conta, mas estão perto dos quatro dígitos.
Márcia: Acredita que haja competição entre certos blogs?
Dugabowski: Sem dúvida. E nem sempre com muita ética, diga-se de passagem. Mas faz parte. A saída é não esquentar.
Márcia: Sua coleção aconteceu por acaso ou desde o início você já sabia que era um colecionador?
Dugabowski: Compro disco desde quando era jovem (o Niemeyer recém tinha nascido...). E ainda tenho meus discos de vinil. Mesmo que não os escute mais, falta-me desapego suficiente para vendê-los ou doá-los. Mas, no momento certo, serão doados; vendidos, jamais.
Márcia: Sua coleção é de LPs, CDs, mp3 ou tudo junto?
Dugabowski: Um pouco de cada. Mais arquivos de mp3, guardados em inúmeros HDs externos. Mas tenho muitos CDs e LPs.
Márcia: Sua coleção é só de rock ou outros gêneros podem entrar?
Dugabowski: Basicamente rock. Mas escuto muito rádio e não troco de estação quando toca MPB.
Márcia: Qual o LP/CD ou mp3 que considera o mais raro de sua coleção?
Dugabowski: Até hoje continuo comprando discos, em CD ou mp3. Para não deixar a pergunta sem resposta - e vou deixar os LPs de fora -, cito três álbuns adquiridos recentemente: "In concert", da Kingfish (lançado em 1996, mas gravado em 1976), "Better generation", do Marty Balin, de 1991, e "Turn on", da Stoneage Hearts, de 2002.
Márcia: E qual deles seria o mais estranho/bizarro dentro da coleção?
Dugabowski: Já comprei muito disco de sonoridade esquisita, a maioria pela capa (sim, sou daqueles que compram disco pela capa, sem escutar; o meu consolo é que não sou só eu). Alguns escutei, outros parei no início: experimentais demais para o meu gosto. Mas, dos que eu ouvi, posso mencionar os discos da banda Wooden Shjips, com seu som pós-psicodélico hipnótico, que me agradou bastante. Mais dois: "Marquee themes", da Puritans, de 1997, e "Siamese pipe", da Heroine Sheiks, de 2002. A banda Can também faz um som meio esotérico, mas não é ruim. Mas grupos como Faust, The Books e assemelhados decididamente não fazem a minha cabeça. Vanguarda tem limite...
Márcia: Qual álbum deu mais trabalho para encontrar?
Dugabowski: Sempre o próximo. Atualmente estou à cata do "Fire dept", do Eric Burdon, gravado na Alemanha, mas estou quase lá... "Guilty", também do Eric Burdon, em dupla com Jimmy Witherspoon, é outro que está na lista.
Márcia: Ainda tem uma lista grande de discos que procura?
Dugabowski: Média.
Márcia: Como costuma achar seus objetos de desejo?
Dugabowski: Pesquisando, ouvindo, pesquisando, ouvindo. Sempre. Não há outra fórmula.
Márcia: Sua coleção é compartilhada no seu blog?
Dugabowski: Nem tudo. Muita coisa não dá mais pra compartilhar porque já se encontra em qualquer canto ou não vale a pena (são os discos que não deram certo... comprados pela capa).
Márcia: Sei que é uma sacanagem pedir uma listinha de álbuns favoritos, mas poderia fazer uma pequena lista com os dez álbuns que considera fundamentais em uma coleção. Lista comentada álbum a álbum, por favor!
Dugabowski: Bota sacanagem nisso! Mas vamos lá, com comentários sucintos:
1. "At your birthday party", do Steppenwolf, de 1969. Foi o primeiro LP de rock que eu comprei na minha vida, da minha banda preferida de todos os tempos. Precisa dizer mais?
2. "Framed", do Sensational Alex Harvey Band, de 1972. Não sei por que, mas o ano de 1972 é mágico pra mim. A maioria dos discos que eu gosto são de 1972. O blues que dá título ao disco é de arrepiar. Mas as outras músicas também não ficam atrás. Um clássico imorredouro.
3. "Thick as a brick", do Jethro Tull, de 1972 (não falei?). Foi a primeira vez que escutei um disco assim, sem interrupção entre as faixas. E a banda não deixa a peteca cair em momento algum, alternando sets acústicos e elétricos com a mesma pegada. O auge da banda. Mais cult impossível.
4. "The rise Aand fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", do David Bowie, de 1972 (nem vou falar...). Foi o salto do Bowie para as páginas dos compêndios de rock and roll. Arregimentando um time de primeira, com destaque para Mick Ronson, o disco impressiona pela sua unidade. Não há faixa ruim...
5. "Cheap thrills", do Big Brother & The Holding Company, de 1968. Janis Joplin: simplesmente não surgiu outra igual até hoje, embora as muitas tentativas, algumas até bem intencionadas. E "Cheap thrills", na minha modesta visão, é o seu melhor disco, com a sua melhor banda de apoio.
6. "Led Zeppelin I" (e o II também), do Led Zeppelin. Posso estar enganado, mas os dois primeiros discos da Led Zeppelin figuram em todas as listas de favoritos de roqueiro. Não sem razão, evidentemente. O som dos caras foi uma revolução. Inclassificáveis. Quando 2050 chegar ainda vai estar nas listagens...
7. "Closer to home", do Grand Funk Railroad, de 1970. Escutei o disco, pela primeira vez, num quartinho enfumaçado de um amigo meu, cheio de gente em volta. Quando "Im your captain" terminou, todo mundo ficou se olhando, sem acreditar: porra, que banda do caralho era aquela? E ainda hoje, quando escuto o disco, me vem à mesma sensação. Clássico é isso?
8. "Distant light", do Hollies, de 1971. Um estranho no ninho na discografia da banda. Mas, pela cara do Allan Clarke (um repé de dar dó) no encarte do LP, dá pra perceber que a inspiração foi química, se é que me entendem... Canções alto-astrais e arranjos instrumentais e vocais exuberantes tornam o disco imperdível.
9. "Terra", de Sá, Rodrix & Guarabyra, de 1973. O brasileiro da lista. Mas não é patriotada não. Gostei muito do disco, que tinha uma sonoridade bem roqueira - o chamado rock rural -, depois abandonada com a saída de Zé Rodrix do grupo. Destaco "Os anos 60", "Mestre Jonas", "Blue riviera" e, sobretudo, "O pó da estrada", cuja letra tinha tudo a ver com os sonhos hippies da época (depois desfeitos pelo John Lennon, mas aí já é outra história).
10. "Blind man sunset", de Bessie Maes Dream, de 2002. O disco da nova geração. Sempre gostei de jam bands, e a Bessie Maes Dream é uma autêntica representante do gênero. Músicos competentes, músicas (longas, como é de praxe em jam bands) e arranjos de primeira. Pra se ouvir muitas e muitas vezes. Sonzaço.
Caso queira acompanhar a série “Loucos por Música”, os já publicados são:
> Luciana Aum do blog ProgRockVintage
> Cristian Farias do blog Eu Escuto
> Luiz Fernando Rodrigues dos blogs Envoyez-la e Eu Escuto
> Marcello “Maddy Lee” do blog Pântano Elétrico
> Renato Menez do blog Stay Rock
> Romeu Corsino do blog Prog Resenhas
> Tiê Passos do blog Difusor de som
> Eduardo Marins do blog Planeta Progressivo
> Homem Traça do blog Criatura do Sebo