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Blogueiros: Outran fala sobre o "Octopusland" e o "Contramão"

Médico de Feira de Sant´Anna, na Bahia, é profundo conhecedor de rock psicodélico

Música  –  28/12/2012 09:30

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(Fotos: Divulgação)

"Creio que essa batalha pela proibição dos

downloads, que é muito mais das gravadoras

que dos artistas, já foi perdida"

 

Se a série "Loucos por Música" já era a minha menina dos olhos, imagina hoje que o convidado é, entre outras coisas, colaborador do meu "Contramão" (programa/blog). Outran Borges Jr., médico de Feira de Sant’Anna, na Bahia, profundo conhecedor de rock psicodélico. 

Márcia: Como e quando começou a escrever seu blog? Qual era o objetivo e esse objetivo permanece o mesmo ainda hoje? 

Outran: Eu comecei a escrever sobre música na internet em 1998, quando ainda não havia blogs, e a grande opção na época eram os fóruns de bate-papo. O objetivo sempre foi compartilhar ideias sobre música e conhecer outros aficionados, principalmente por raridades da história do rock. Muitos anos e amigos depois, o objetivo permanece essencialmente o mesmo. 

Márcia: Quando começou já era "Octopusland" e por que escolheu esse nome? 

Outran: Eu já participei de vários blogs, sozinho ou em colaboração. Este ano, infelizmente, devido ao excesso de atividades, fiquei sem postar nada, inclusive no nosso querido "Contramão"  e no meu blog "Octopusland", onde também já mantive um podcast, mas que hoje encontra-se praticamente desativado. O nome "Octopusland" vem de um extinto fórum de música que mantive com uma grande amiga anos atrás. Tenho a pretensão de retomar as atividades em 2013. 

Márcia: Como escolhe os álbuns para postagem? Suas escolhas são aleatórias? 

Outran: Eu sempre estou à procura de álbuns interessantes e raros para postar. Como me relaciono com colecionadores de raridades no mundo todo, quando recebo algo que me chama a atenção eu procuro postá-lo. Existem artistas excelentes que praticamente não foram ouvidos e merecem uma redescoberta, como Subway (formado por dois caras que tocavam no metrô de Paris, cujo álbum só teve 200 cópias prensadas) ou The Sidetrack (banda cujo álbum demo gravado em 1968 ficou esquecido nos arquivos da gravadora até 2004). 

Márcia: Já teve algum tipo de problema com gravadoras ou bandas ou teve álbuns deletados de provedores? 

Outran: Devido à raridade do material, nunca tive nenhum tipo de problema, exceto links expirados. Mas venho acompanhando a crise dos sites que armazenam conteúdo, depois do fechamento do megaupload tudo ficou mais difícil. 

Márcia: Você acredita que de alguma forma esteja prejudicando alguém com suas postagens, falando de direitos autorais? 

Outran: Como eu quase sempre postei álbuns inacessíveis, a maioria das pessoas (e boa parte deles é impossível de se obter por “vias legais”), eu me sinto mais próximo de um divulgador cultural do que um cérebro do crime organizado. Eu gravava fitas cassete com faixas raras nos anos 80 para os meus amigos, e considero as postagens dos álbuns uma extensão disso. Eu não estou ganhando dinheiro ou obtendo vantagem à custa dos artistas, e inclusive já recebi agradecimentos de duas bandas por ajudar a resgatar suas obras para um público maior. Creio que essa batalha pela proibição dos downloads, que é muito mais das gravadoras que dos artistas, já foi perdida. 

Márcia: Qual é a importância de um blog dedicado à música? 

Outran: Existe mais música gravada no mundo do que você consegue ouvir durante uma vida inteira, e quase tudo está disponível pela internet. Os blogs podem ajudar a guiar o ouvinte pelo caos virtual, o auxiliando a encontrar artistas e álbuns que combinem com os seus interesses musicais, além de poderem trazer alguma informação relevante sobre os mesmos. 

Márcia: A maioria dos internautas não deixa comentários de agradecimento, mas quando querem reclamar ou pedir sabem usar os comentários, isso te irrita? 

Outran: Creio que esse tipo de atitude não é específico dos frequentadores de blogs. Talvez, como diz o clichê, seja “inerente à condição humana”. Eu já percebi há muito que, na internet, as críticas são a regra e o aplauso, exceção. 

Márcia: Faz ideia de quantos álbuns já publicou no blog? 

Outran: Sinceramente, não. 

Márcia: Acredita que haja competição entre certos blogs? 

Outran: Se houver eu nunca percebi. Sei que há blogs que copiam os links (e às vezes o texto) de outros, mas particularmente no meu caso eu fico até feliz por ajudar na divulgação dos álbuns postados. 

Márcia: Sua coleção aconteceu por acaso ou desde o início você já sabia que era um colecionador? 

Outran: Aconteceu por acaso. Só depois de uns dez anos que eu comecei a adquirir álbuns compulsivamente é que caiu a ficha. Mas eu tive grande influência do meu pai, ele também é um grande colecionador. 

Márcia: Quando começou a colecionar? 

Outran: Ainda criança, na década de 80, comprando álbuns em vinil. O meu primeiro foi uma coletânea do Paul McCartney. 

Márcia: Sua coleção é de LPs, CDs, mp3 ou tudo junto? 

Outran: LPs, mp3 e Flac. Os CDs eu digitalizei em sua maioria, embora conserve alguns. 

Márcia: Sua coleção é só de rock ou outros gêneros podem entrar? 

Outran: Rock, principalmente dos anos 60 e 70, ocupam mais espaço. Mas tem música clássica, jazz, soul, MPB, world music e umas coisas estranhas inclassificáveis que eu adoro. 

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Outran Borges Jr. também é colaborador do "Contramão" (programa/blog)

Márcia: Qual o LP/CD ou mp3 que considera o mais raro de sua coleção? 

Outran: Pergunta difícil. Às vezes eu consigo coisas como rock psicodélico do Camboja ou uma banda de garagem de Dakota do Norte que só lançou um compacto em 1965 e passo meses tentando descobrir alguma informação a respeito e nada. É complicado definir o que é mais raro numa coleção volumosa de raridades como a minha. 

Márcia: E qual deles seria o mais estranho dentro da coleção? 

Outran: Eu tenho um vinil cujas faixas trazem os sons de diferentes manobras de locomotivas a vapor que percorriam a Inglaterra. Se isso não for suficientemente estranho... 

Márcia: Qual álbum deu mais trabalho para encontrar? 

Outran: Em mp3 foi "Swingin Dixie at Dans Pier 600 in New Orleans, Vol. 1", do Al Hirt, que eu tenho com o vinil em condições bem precárias. Mas hoje em dia é difícil não encontrar um álbum que você queira, é só ter um pouco de paciência. 

Márcia: Ainda tem uma lista grande de discos que procura? 

Outran: Sim, para quem coleciona, essa lista nunca acaba. 

Márcia: Como costuma achar seus objetos de desejo? 

Outran: Atualmente, por meio da ajuda de amigos colecionadores pela internet para os álbuns muito difíceis. Os mais fáceis todo mundo encontra em sites, ou em programas de compartilhamento. 

Márcia: Sua coleção é compartilhada no seu blog? 

Outran: Quase todos os álbuns que eu postei até hoje vieram de minha coleção. Já ripei alguns vinis, inclusive. 

Márcia: Pode citar algumas das raridades que tem em sua coleção? 

Outran: Nossa, eu estou até pensando em publicar no blog uma lista, porque só de mp3 dá mais de um terabyte só de raridades. Vou citar o que ouvi enquanto respondia as perguntas: o álbum de 1968 de uma banda chamada SRC (muito boa a faixa "Black sheep"), em mp3, ripado do LP; e o vinil original de Marie-Queenie Lyons ("Soul fever", 1970), com o qual eu apareço na foto. 

Márcia: Sei que é uma sacanagem pedir uma listinha de álbuns favoritos, mas poderia fazer uma pequena lista com os dez álbuns que considera fundamentais em uma coleção. Lista comentada álbum a álbum, por favor! 

Outran: Bom, vou mandar uma lista de dez álbuns que gosto em particular, mas fiz questão de que todos fossem das décadas de 60 e 70: 

1 - Pink Floyd - The Piper at The Gates of Dawn, 1967 - O LP, CD e mp3 que eu mais ouvi na vida, esse abriu minha mente para o rock psicodélico quando eu tinha 14 anos. Syd Barrett quebrando os paradigmas do rock com ritmos bizarros, escalas harmônicas incomuns e letras surreais. 

2 - Love - Forever Changes, 1968 - Rock psicodélico acústico pode parecer um conceito paradoxal, mas foi o conceito que norteou um dos álbuns mais bonitos de todos os tempos. Arthur Lee e Bryan MacLean compuseram um álbum irretocável, talvez o maior clássico de toda psicodelia californiana. 

3 - Jimi Hendrix - Electric Ladyland, 1968 - O mais sofisticado álbum de estúdio do melhor guitarrista de todos os tempos, bastante influente até hoje. E traz a melhor cover da história, "All along the watchtower", de Bob Dylan (que depois passou a copiar o arranjo). 

4 - Beatles - Revolver, 1966 - Na vanguarda da história, os Beatles moldavam a sonoridade dos anos 60. As pessoas, na época, não associavam letras tão profundas quanto a de “Eleanor rigby” ou sons tão experimentais como os de “Tomorrow never knows” a uma banda de rock. Uma nova geração passava a dar as cartas na cultura popular. 

5 - Cream, Disraeli Gears, 1967 - O blues fascinou os ingleses na década de 60, mas ninguém o elevou a um novo patamar com tanta consistência quanto à banda de Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker. Para entender a essência da “Swingin London”. 

6 - Crosby, Stills and Nash (1969) - Ainda sem o mestre Neil Young, o trio compôs um dos maiores clássicos do pop-rock norte-americano de todos os tempos. Desde a épica “Suite: Judy blue eyes” até a riponga “Marrakesh express”, o álbum traz a fotografia de uma época utópica e criativa. 

7 - Jethro Tull, Aqualung, 1971 - Folk, hard-rock, progressivo... Adoro bandas que confundem a cabeça daqueles que precisam desesperadamente rotular um artista. O Jethro Tull é tudo isso e muito, muito mais. "Aqualung", um dos seus melhores álbuns (e o comercialmente mais bem sucedido deles). Salve o guru Ian Anderson. 

8 - Traffic, The Low Spark of High Heeled Boys, 1971 - Uma banda que não tem hoje o reconhecimento que merece, o Traffic lançou alguns álbuns essenciais. Esse é o meu preferido deles. As composições de Jim Capaldi e Stevie Winvood, como "Hidden treasure" e "Rainmaker", são de cair o queixo. 

9 - Deep Purple, Made in Japan, 1972 - Eu não consigo gostar de outro álbum ao vivo mais do que esse. Ian Gillian no vocal, John Lord no teclado e Ritchie Blackmore na guitarra eram uma combinação perfeita, e a essência do rock dos anos 70. 

10 - Lynyrd Skynyrd - Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd, 1973 - A banda, marcada pelo trágico acidente de 1977, fazia o melhor do rock caipira americano (juntamente com os Allman Brothers). E esse álbum traz a faixa mais "classic rock" de todos os tempos: "Free bird". 

Caso queira acompanhar a série “Loucos por Música”, os já publicados são:

> Luciana Aum do blog ProgRockVintage

> Cristian Farias do blog Eu Escuto

> Luiz Fernando Rodrigues dos blogs Envoyez-la e Eu Escuto

> Bruno Costa do blog Eu Ovo

> Marcello “Maddy Lee” do blog Pântano Elétrico

> Renato Menez do blog Stay Rock

> Romeu Corsino do blog Prog Resenhas

> Tiê Passos do blog Difusor de som

> Eduardo Marins do blog Planeta Progressivo

> Homem Traça do blog Criatura do Sebo

> Heldon Brazil do blog Progressivo-Vivo

> Os seis meninos do blog Valvulado

> Dugabowski do blog Melofilia

> Alex sala do blog Muro do Classic Rock

> David Marques do blog Bordel do Rock

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

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