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Blogueiros: Robert fala sobre o blog "Hofmannstoll"

Profissional de telecomunicação resenha como se estivesse cara a cara com o leitor

Música  –  15/01/2013 22:08

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(Foto: Divulgação)

Robert estudou química e geografia e, claro, é apaixonado por música 

Meu convidado de hoje na série "Loucos por Música" é Robert, 44 anos, trabalha com telecomunicação, estudou química e geografia e é apaixonado por música.

Márcia: Como e quando começou a escrever seu blog? Qual era o objetivo e esse objetivo permanece o mesmo ainda hoje?

Robert: Até 2008 eu não tinha conhecimento dos blogs como fonte de divulgação de música. Daí, um grande amigo fez essa grande descoberta, e a revelou a mim - lembro-me bem quais foram os primeiros que tive o prazer de conhecer: "Museorosembach", "ProgRockVintage", "ContramãoProgRock" e o saudoso "Vôo 7177". Jamais me esquecerei que foi uma grande revelação que me causou uma enorme euforia, de tal forma que eu comecei uma busca frenética no mundo da "música de qualidade". Desde então deu-se um processo, que vigora ainda hoje, de renovação e mutação em meu universo musical.

Em 2009 eu comecei a amadurecer a ideia de criar o meu próprio blog, pois percebi que era aquilo que eu queria fazer, ou seja, divulgar o que eu considero música de qualidade, para os quatro cantos do mundo. Neste mesmo ano, em 23 de agosto, foi inaugurado o "Hofmannstoll", tendo como primeira postagem o álbum "Four moments", da banda australiana Sebastian Hardie.

O objetivo primeiro do blog é a satisfação pessoal - em divulgar minha concepção musical, meus valores e minhas ideias -, aliada à possível satisfação do leitor ao receber a mensagem contida nas postagens. Para tanto, com o passar do tempo, fui adequando as resenhas - que considero primordiais - de forma a tentar estabelecer uma comunicação direta e profunda, como se estivesse cara a cara com o leitor.

Márcia: Quando começou já era "Hofmannstoll" e por que escolheu esse nome?

Robert: O nome sempre foi esse, tendo mudado apenas o logotipo, que, antes do atual, era uma montagem a partir da capa do álbum "Larks tongues in aspic", do King Crimson. O nome vem da união dos nomes de dois químicos suíços: Arthur Stoll e Albert Hofmann - esse último ficou em primeiro lugar num levantamento publicado em 2007 que listou os 100 maiores cérebros vivos. A ideia de homenagear esses dois grandes gênios da ciência surgiu com uma antiga brincadeira, em que eu e mais dois amigos tentávamos formular loucas teorias para determinar as possíveis causas da genialidade dos músicos das décadas de 1960 e 1970. A teoria mais "provável" seria uma "porção mágica", o LSD, criada, pelos referidos químicos em 1938, para fins medicinais. Em uma das postagens do blog, a do álbum "Phenomenon", da banda UFO (link), eu contei um pouco mais sobre essa homenagem.

Márcia: Como escolhe os álbuns para postagem? Suas escolhas são aleatórias?

Robert: Sim, são bem aleatórias. Depende muito da minha capacidade para escrever sobre determinada obra, pois às vezes levo bastante tempo para escrever uma resenha, então o álbum fica de molho enquanto outros passam à frente. Por vezes posto um álbum no mesmo dia em que o conheci.

Márcia: Já teve algum tipo de problema com gravadoras ou bandas ou teve álbuns deletados de provedores?

Robert: Já fui notificado pelo Google, devido à reclamações da DMCA, e tive postagens excluídas, infelizmente. Fui obrigado a retirar o link de download e as imagens para poder manter as resenhas publicadas. Isso me levou a evitar novas postagens dessas bandas, para evitar maiores problemas. O caso mais recente foi com a postagem do álbum "Concerto grosso per I", do New Trolls. Também já tive que retirar postagens do Renaissance e do Jethro Tull, dentre outros que me fogem à memória.

Márcia: Você acredita que de alguma forma esteja prejudicando alguém com suas postagens, falando de direitos autorais?

Robert: Seria hipocrisia se eu dissesse que sim, embora também seria se dissesse não. Uma única resposta reduziria a questão a um estado demasiadamente simplório, ou seja, não seria suficiente para esgotar o assunto. É uma questão muito polêmica e abrangente, que abriga em seu escopo outros tipos de obras, tais como: literárias, cinematográficas, televisivas etc.

Se por um lado penso que prejudico alguém, por outro, acho que basta que esse alguém se manifeste, e pronto; eu removo a postagem a fim de restabelecer o estado das coisas.

Simultaneamente eu poderia pensar que a arte deveria ser naturalmente livre, de forma que cada um pudesse ter o direito de pagar o quanto quiser, o quanto puder ou o que achar justo, e que a internet é o veículo mais ajustado para perpetuar essa ideia.

Creio que a questão seja tão complexa que, através de um outro prisma, eu poderia afirmar que o número de pessoas que eu posso prejudicar é infinitamente menor do que o das pessoas que eu posso beneficiar.

Como se pode observar, não é fácil esgotar um assunto de tamanha complexidade. Se um artista cria algo, tem o direito de cobrar por isso. Essa é a lógica do mercado. A questão é determinar se ela é ou não justa, o que pode nos remeter novamente à questão da arte ser naturalmente livre. Por que não poderíamos ter novas propostas, uma nova lógica? Sei lá, poderia ser algo como o que fez a banda Radiohead em 2007. Foi uma experiência revolucionária quando eles lançaram o álbum "In rainbows", e propuseram que o internauta pagasse o quanto quisesse. Prince, bem como outros artistas, aderiram à nova proposta. Talvez os blogs possam evoluir, nessa linha de raciocínio, numa adaptação às necessidades dos novos tempos.

Márcia: Qual é a importância de um blog dedicado à música?

Robert: Posso dizer que meu primeiro contato com os blogs de música pode ser uma experiência exemplar da importância desse modelo de comunicação. É impressionante a quantidade blogs existentes, e com uma diversidade incrível de estilos. O blog é uma manifestação cultural que proporciona possibilidades infindas na manutenção do conhecimento musical. Pode-se encontrar praticamente tudo relacionado à música. Talvez seja o modelo mais límpido, democrático e menos burocrático para se obter conteúdos pertinentes referentes à música.

Acredito que os blogs de música são um benefício para todos, tanto para o artista quanto para o amante da música, pois promovem uma ampla difusão dessa arte, delineando rumos sem precedentes.

Márcia: A maioria dos internautas não deixa comentários de agradecimento, mas quando querem reclamar ou pedir sabem usar os comentários, isso te irrita?

Robert: Atualmente, faço um exercício para tentar filtrar os resultados do meu blog, na intenção de absorver o melhor; portanto, eu apenas lamento, em vez de ficar chateado. Durante todos esses anos, eu já fiquei muito irritado e revoltado com a falta de consideração que, aliás, me parece ser algo cultural.

Já vi vários colegas de ofício tentando mudar esse péssimo hábito de ingratidão, utilizando-se de dispositivos diversos para chamar o visitante do blog para uma relação mais interativa. Eu mesmo já tentei alguns artifícios, mas foi tudo em vão.

Eu acredito que nós não podemos desistir. Precisamos continuar tentando criar meios para atrair o visitante a participar com seus comentários, pois seu papel só traz benefício para ambas as partes.

Devido à falta de participação, quantas e quantas vezes já indaguei a mim mesmo: Afinal, qual é o meu papel nisso tudo? Pois eu acho que é notória a sensação de estarmos numa via sem um retorno. Retorno esse que é um combustível para a valoração do enriquecimento da qualidade do nosso trabalho.

Essa questão já gerou perdas irreparáveis, pois vai de cada um. Muitos já pensaram em desistir. Para mim, o caso mais sério foi o "Progressive Downloads" - sem sombra de dúvida, um dos blogs de música com conteúdo de mais alta qualidade. O ilustríssimo Mercenário Maldito comandava sua "máquina" com paixão, refinado bom gosto e conhecimento musical de historiador; e tudo com extrema capacidade literária que culminava em resenhas impecáveis. Ele foi um que não suportou a falta de consideração do visitante. Eu acompanhei sua jornada, e fui testemunha de todos os seus esforços para tentar um canal de comunicação com seus visitantes, antes de tomar a extrema medida de abandonar o barco.

Foi realmente lamentável. Isso serve como exemplo do quanto essa questão pode ser prejudicial para todos nós.

Márcia: Faz ideia de quantos álbuns já publicou no blog?

Robert: Não passa muito dos 100. Diversas vezes fico sem postar nada por períodos relativamente grandes, por falta de tempo e, às vezes, até mesmo por desânimo, justamente devido à questão citada acima.

Márcia: Acredita que haja competição entre certos blogs?

Robert: Não. Em minha experiência, verifico um espírito muito amigável e de colaboração.

Márcia: Sua coleção aconteceu por acaso ou desde o inicio você já sabia que era um colecionador?

Robert: Jamais me considerei um colecionador. Apenas comecei a comprar discos, e me dei conta de que a música era o grande lance da minha vida.

Márcia: Quando começou a colecionar?

Robert: Comecei a comprar discos relativamente tarde, aos 16 anos, mais ou menos.

Márcia: Sua coleção é de LPs, CDs, mp3 ou tudo junto?

Robert: Hoje, tudo que tenho está em mp3. Com o surgimento desse formato, houve uma mudança interessante em mim, levando ao desapego ao vinil e ao CD. Abri mão de tudo que tinha.

Márcia: Sua coleção é só de rock ou outros gêneros podem entrar?

Robert: A maior parte é de rock e MPB. Tenho alguma coisa de jazz e de música clássica.

Márcia: Qual o LP/CD ou mp3 que considera o mais raro de sua coleção?

Robert: Em vinil, eu tinha "The other side of Abbey Road", do George Benson, de 1970, que foi um projeto audacioso desse músico, lançado apenas alguns meses após a estreia do 12º álbum dos Beatles, e contou com a participação de grandes expoentes da música internacional daquele período. Também tinha o LP "Soro", que foi um projeto criado e dirigido por Fagner, lançado pelo selo Epic, em 1978, que visava uma reunião de novos compositores, instrumentistas e poetas, principalmente do Nordeste. Nessa reunião temos nomes como: Nonato Luís, Cirino, Patativa do Assaré, Fausto Nilo, Manassés, Geraldo Azevedo, Pedro Soler, Fagner, Belchior, Dominguinhos, dentre outros. Esses dois LPs eram considerados raros na minha época.

Eu tinha o álbum "Have Mercy", de 1977, da banda americana de progressivo The Load , no formato de fita K7, gravado do programa "Tribuna Progressiva", da saudosa e extinta rádio Tribuna, de Petrópolis. Era uma raridade, pois, na época, não se tinha notícia do LP aqui no Brasil.

Em mp3, nada que eu tenho considero raro hoje em dia, pois está tudo na rede.

Márcia: E qual deles seria o mais estranho dentro da coleção?

Robert: Acho que era o LP "Ou não", de Walter Franco, de 1973. É o álbum da mosca na capa branca. Poesia concreta, loucuras sonoras... Muito louco!

Márcia: Qual álbum deu mais trabalho para encontrar?

Robert: Os dois primeiros LPs da banda UFO ("UFO 1" e "UFO 2: Flying"). O LP "Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta", de 1973, grande registro feito em parceria por esses músicos, com participação de Lô Borges, Flávio Venturini, Vermelho, Nelson Ângelo, Robertinho Silva, dentre outros. Samba, jazz, progressivo etc.

Márcia: Ainda tem uma lista grande de discos que procura?

Robert: Muita, mas muita coisa que eu ainda não conheço, e eu sei que está tudo aí na rede.

Márcia: Como costuma achar seus objetos de desejo?

Robert: Trocando ideia com as pessoas e, principalmente, nos blogs, é claro!

Márcia: Sua coleção é compartilhada no seu blog?

Robert: Sempre que tenho tempo, posto as obras que eu considero pertinentes. É quase uma necessidade...

Márcia: Pode citar algumas das raridades que tem em sua coleção?

Robert: Como disse antes, não tenho mais nada que considero raro. Lembro-me de que o álbum "Have Mercy", do The Load, e o álbum homônimo da banda Jasper Wrath eram muito raros na rede na época em que eu os postei no "Hofmannstoll".

Márcia: Sei que é uma sacanagem pedir uma listinha de álbuns favoritos, mas poderia fazer uma pequena lista com os dez álbuns que considera fundamentais em uma coleção. Lista comentada álbum a álbum, por favor!

Robert: Eu diria ser impossível citar apenas dez. Creio que uma verdadeira lista deveria conter no mínimo 50 ou 100, sei lá. Mas acho justo que seja apenas dez, devido às circunstâncias. Acrescento que deixarei de fora tanto os "medalhões" da música progressiva, quanto os da MPB e os da música clássica. Gostaria, também, de ressaltar que minha lista não estará em ordem de preferência, pois essa varia em função do tempo, estado de espírito, além de outras influências internas e externas.

1 _ Luciano Basso-Voci-Itália (1975) - Perfeccionismo em termos de composição, arranjo, harmonia e execução. Música progressiva do mais alto escalão. Apesar de conter elementos alusivos a tendências e estilos da época, é uma obra em que eu não consigo delinear parâmetros para fazer referência à sua grandeza, no que se refere à obra como um todo.

2 _ Czar-Czar-Inglaterra (1970) - Som de alta qualidade com andamento cadenciado e batida enérgica. Progressivo com certa levada de blues, típico do final dos anos de 1960, com guitarras e órgão Hammond no melhor estilo. Quase todas as faixas são geniais e muito originais. "Tready softly on my dreams", "Cecelia", "Day in september", "Darwing of a new day" e "Follow me" são magníficas e inspiradas.

3 _ New Trolls-Concerto Grosso Per I-Itália (1971) - O requinte e a tamanha expressão dessa obra revelam a ambição do projeto da banda, tornando-a uma peça rara da música progressiva. Quanto ao uso de orquestra, poucas bandas se atreveram a tamanha audácia, e das que tentaram pouquíssimas foram tão felizes, ao ponto de realizar uma obra prima dessa magnitude, em que a música clássica se funde ao rock, ou vice-versa, de forma a culminar na mais bela expressão da arte musical.

4 _ New Trolls-N.T. Atomic System-Itália (1973) - O álbum é repleto de melodias formidáveis, cujo ápice eclode em duas faixas: "Tornare a credere" e "Quando LErba vestiva la Terra". São melodias indescritíveis, dotadas de lirismo exacerbado, tanto nos vocais quanto no instrumental. Um dos álbuns mais bem mixados que já ouvi, e isso aliado à perfeição da execução e da harmonia, proporciona uma experiência sonora extremamente gratificante.

5 _ Sebastian Hardie-Four Moments-Austrália (1975) - Jamais poderia faltar em uma coleção. Sensibilidade, lirismo, criatividade e compromisso com a qualidade musical. Obra prima da música progressiva.

6 _ The Load-Have Mercy-USA (1977) - Mais uma obra impecável da música progressiva, composto por diversas pérolas da boa música. Composições fantásticas muito bem dosadas com os melhores ingredientes.

7 _ Room-Pre Flight-Inglaterra 1970 - Incrível diversificação de estilos musicais reunidos em um álbum executado por músicos gabaritados.

8 _ Beto Guedes-A página do Relâmpago Elétrico-Brasil (1977) - Imprescindível.

9 _ Paralamas-Hey Nana-Brasil (1998) - Obra madura dos Paralamas. O álbum possui, em sua maioria, músicas arranjadas com muita seriedade, e são dotadas de sensibilidade extremada. "Scream poetry" é uma pérola deixada, para Herbert Vianna, por Chico Science, antes de sua morte. Bela poesia "gritada" por Herbert e Jorge Mauthner, que contribui também com solo de violino. "Virnes 3am" é outra pérola que conta com parceria de Herbert. Desta vez é com o músico argentino Charly Garcia. Um rock inspirado e encantado, desprovido de qualquer pretensão comercial. Tem um final eletrizante, com incrível e inspirado solo de guitarra duelando com um vocal feminino alucinante, por um minuto e meio, e ótimo arranjo de bateria.

10 _ T2-Itll All Work Out in Boomland-Inglaterra (1979) - Pancadão! Fantástico! Arranjos pesados e sensíveis. Tudo aqui é alucinante.

Caso queira acompanhar a série "Loucos por Música", os já publicados são:

> Luciana Aum do blog ProgRockVintage > Cristian Farias do blog Eu Escuto

> Luiz Fernando Rodrigues dos blogs Envoyez-la e Eu Escuto > Bruno Costa do blog Eu Ovo

> Marcello “Maddy Lee” do blog Pântano Elétrico > Renato Menez do blog Stay Rock

> Romeu Corsino do blog Prog Resenhas > Tiê Passos do blog Difusor de som

> Eduardo Marins do blog Planeta Progressivo > Homem Traça do blog Criatura do Sebo

> Heldon Brazil do blog Progressivo-Vivo > Os seis meninos do blog Valvulado

> Dugabowski do blog Melofilia > Alex sala do blog Muro do Classic Rock

> David Marques do blog Bordel do Rock > Outran Borges Jr. do Octopusland e Contramão

> Edson D´Aquino do Gravetos & Berlotas > Menegon do Venenos do Rock

> Micas do blog Consultoria do Rock > Fernando Anselmo do In Memory of the Traveller in Time

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

3 Comentários

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  • Kennedy

    Não é por ser meu irmão, mas o nível de paixão e conhecimento desse cara, pela boa música, é extraordinário. Eu, se vivesse mais 100 anos, não conseguiria chegar a essa excelência. Eu e minha família, temos a oportunidade única de estar e falar, sobre música, com um irmão, amigo e apaixonado por essa forma de arte, que se constitui em combinar sons e silêncio, que é a música.
    Parabéns Márcia, pela entrevista e Parabéns Bentão (estou apresentando um apelido, que sintetiza o carinho e amor por alguém tão especial...), pela qualidade das palavras. te amamos!!!

  • Márcia Tunes

    Robert, o prazer foi meu! Já havia visto no seu blog, obrigada! Tentei deixar um comentário por lá, mas minha conexão não permitiu!

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