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Educar é o mesmo que Ensinar?

Os professores continuam a fazer o papel que lhes cabe; já muitas famílias estão deixando muito a desejar em seu papel de educar, e esse é um problema muito difícil para a escola sozinha resolver

Educação  –  18/05/2018 19:25

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(Fotos Iustrativas)

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"Muitos pais e responsáveis, por ignorarem ou se esquivarem do seu papel prioritário e contínuo na Educação dos seus filhos, o transferem integralmente à escola"

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Teve dúvidas ou dificuldade para responder?
Para muitos brasileiros, educar e ensinar tem o mesmo significado, mas isso não é verdade.

Segundo as definições encontradas nos dicionários, Educar é a ação de promover a educação, que compreende todos os processos, institucionalizados ou não, que visam transmitir determinados conhecimentos básicos e, principalmente, padrões de comportamento, a fim de garantir a continuidade da cultura de uma sociedade. 

Logo, Educar está associado à aquisição de valores, normas, atitudes, ações e princípios éticos e morais, ou seja, internalizar os valores que moldam o ser humano a conduzir sua vida com atitudes dignas e de respeito ao seu próximo. 

É exatamente esta associação que desloca o sentido original do termo “educar” na direção do significado da palavra “socializar”, que por sua vez, claramente indica a construção ou transmissão de hábitos que capacitam o indivíduo a viver numa sociedade e em harmonia com seus pares.

Esse deslocamento da “Educação” em direção à “Socialização” indica que esse processo se inicia bem antes da escola, já que as aquisições desses hábitos começam na primeira infância e implica aprendizagens e ajustamentos aos padrões culturais vigentes e que se perpetuarão, geralmente por algum tempo ou até por toda vida. 

Por outro lado, o ato de “Ensinar”, de acordo com os dicionários, significa ministrar ou transmitir conhecimento e informação. Ou seja, instruir, orientar alguém na descoberta ou aquisição de saberes que promovam desenvolvimento no raciocínio lógico, na formação crítica desse indivíduo e nas capacidades de sobrevivência digna em meio a uma sociedade competitiva. Considerando esta definição, obviamente Ensinar é o claro papel da escola.

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"Educar é um papel prioritário da família, já que envolve orientar comportamentos sociais e as aptidões individuais conforme os ideais de cada sociedade. Ou seja, preparar o cidadão para que ele se integre à vida conforme as regras sociais vigentes".

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Assim “Ensinar” é um papel inerente à escola, pois envolve a transmissão de conhecimentos e formar o cidadão. Ou seja, reconhecer e priorizar a vocação institucional da escola que é preparar o indivíduo para sua futura vida profissional e para uma digna sobrevivência social e pessoal entre seus pares. 

Porém infelizmente estes dois conceitos, aparentemente tão distintos em seus objetivos e respectivos responsáveis, começam a serem confundidos exatamente no momento em que a criança ingressa no ambiente escolar. 

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Muitos pais e responsáveis, por ignorarem ou se esquivarem do seu papel prioritário e contínuo na Educação dos seus filhos, o transferem integralmente à escola, esquecendo que ao matricularem uma criança também estão levando para dentro da instituição parte de seus hábitos, seus comportamentos e toda uma diversidade de culturas previamente modeladas em cada filho matriculado. 

Afinal, “Educar” é defender o direito à vida, justiça, igualdade social, paz, respeito às regras e aos direitos de todas as pessoas e isso é um papel inalienável da família.

Porém, para muitos pais será difícil compreender ou até admitir que, infelizmente, a escola só pode ser uma mera parceira desse processo e nunca a plena responsável. 

Isto é facilmente explicado, pois a escola tem absoluta falta das competências biológicas, fisiológicas e ambientais tão completas e eficientes quanto as existentes naturalmente no seio das famílias desde o primeiro dia de vida da criança.

A partir do nascimento, o indivíduo já começa a receber informações de seu meio de acordo com o comportamento observado da postura e da cultura da sua família. Portanto, educar é um processo que perdura a vida inteira, com ou sem a escola.

Mas na prática o que vemos diariamente são pais que ainda transferem essas suas responsabilidades aos professores e, como consequência disso, se ampliam os problemas comportamentais que interferem e dificultam o processo de ensino e aprendizagem e invariavelmente, nos casos mais graves, os pais são requisitados para interferirem.

Nesses momentos é muito comum ouvirmos de inúmeros pais de alunos a seguinte frase: “Eu estou cansado de dizer para o meu filho não fazer assim...” ou “Eu falo todo dia com ele...”.

Aí, eu pergunto, como nesta hora explicar que qualquer criança, geralmente, reproduz muito mais os comportamentos que ela observa e muito menos o que ouve sobre os atos ou as atitudes que ela deve ter?

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"É difícil aceitar, mas as crianças, na maioria das vezes, apenas reproduzem comportamentos ou ações que são visualizadas e delimitadas pelo ambiente familiar ou pelas pessoas que mais intimamente os cercam".

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Por exemplo, uma mãe exige que seu filho nunca minta para ela, usando o discurso que dizer a verdade para as pessoas é sempre uma atitude digna e nobre. De repente o telefone toca e a criança corre para atendê-lo e nesse momento sua mãe fala: “Se for a fulana diz que eu não estou”.

Ou seja, apesar do discurso maternal que mentir é algo feio ela pede que o filho minta por ela.

Aí eu pergunto, qual a verdadeira mensagem sobre “mentir” esse menino realmente internaliza, a que ele ouve da mãe ou a que ele a vê fazer? 

Outro exemplo, o pai diz para o filho para ele ter cuidado ao atravessar a rua, só atravessar na faixa e com o sinal fechado para os carros. Contudo, quando esse pai o acompanha em um passeio, ambos de mãos dadas atravessam por entre os carros, fora das faixas e independente da sinalização do semáforo.

E então, o que esse menino provavelmente irá reproduzir naturalmente em seu cotidiano? O discurso falado ou a ação realizada ou observada? 

Da mesma forma, já ouvi diversos pais e responsáveis de alunos usarem como argumento para justificarem essa transferência equivocada de responsabilidades a seguinte frase: “A obrigação da escola é ensinar...”. Eles estariam corretíssimos, se o conceito de “Ensinar” estivesse sido empregado adequadamente, e não como um substituto para “Educar”. Afinal, a escola realmente tem a obrigação de “ensinar”, mas é da família a obrigação primária de “educar”. 

Os professores continuam a fazer o papel que lhes cabe, que é se empenhar em passar conhecimentos numa tentativa de promover um desenvolvimento no raciocínio lógico e na formação crítica desse indivíduo com capacidades de sobrevivência em meio a uma sociedade competitiva.

Já muitas famílias estão deixando muito a desejar em seu papel de educar, e esse é um problema muito difícil para a escola sozinha resolver.

> Texto parcialmente extraído do livro “Como educar uma criança chamada Brasil” - Flavio Chame Barreto; Editora CDA, 2017, São Paulo

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Por Flavio Chame Barreto  –  flaviocbarreto.bio@gmail.com

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