
(Fotos: Divulgação)
Infelizmente Bartolomeu Campos de Queirós nos deixou em janeiro de 2012
Aline Reis
Quem não conhece o trabalho de Bartolomeu Campos de Queirós perde muitos fios da meada literária. Sua escrita em prosa é pura poesia. Vale ressaltar a carga de mineirice que o escritor carrega, nascido em Papagaio (MG). Infelizmente nos deixou em janeiro de 2012. Penso, com isso, que sua observação do prosaico torna-se mais fina, mais elegante aos olhos sensíveis.
"Vermelho amargo" (2011) é a obra que coloco em pauta. Com apenas 65 páginas, o livro não é para ser lido num piscar de olhos, uma vez que o narrador apresenta-nos seu amor: um amor angustiado, que observa as translúcidas camadas de um único tomate fatiado para o almoço da família. No início, fatias tão finas que é possível ver a montanha de arroz na qual o tomate descansa antes de ser desmanchado pelas garfadas do pequeno jovem com fome... e observador.
Metáforas carregadas da memória afetiva

Com apenas 65 páginas, o livro não
é para ser lido num piscar de olhos
Como em toda família, os filhos unem-se a filhos de outrem em busca de formarem suas próprias famílias. E as camadas de cada tomate vão se tornando menos translúcidas: a família passa a ser diminuta. A narrativa concentra metáforas carregadas da memória afetiva do menino-narrador. O que se percebe é uma família presente, mas em outras horas, reduzida e resignada às ausências amorosas do próprio lar.
Gabriel Villela diz que "Bartolomeu comanda a sua escrita com mãos apolíneas e cérebro dionisíaco, produzindo uma fábula delicada... como arame farpado". "Vermelho amargo" reserva a elegância da arte literária, incitando-nos à reflexão do que perpassa aos nossos olhos, cotidianamente. Finas camadas do que, em geral, não damos a menor importância ao que atua como coadjuvante em nossas vidas.
Boa leitura!
> Aline Reis é professora de literatura e português, especialista em literatura Infanto-juvenil, literaturas de língua portuguesa: Brasil, Portugal, África e mestre em literatura brasileira
