(Fotos: Divulgação)
"Claro que é uma exposição e essa possibilidade foi pensada e repensada várias
vezes; afinal, não deixei de fora questões delicadas, como as familiares e as sexuais"
É possível falar de câncer sem fazer da vida um drama? A resposta está no livro "Do lado esquerdo do peito" (Editora Penalux), que Giovana Damaceno lançou em 30 de outubro, às 18h30, na Livraria Veredas, no Pontual Shopping, em Volta Redonda. É a terceira obra da jornalista voltarredondense. Aos 44 anos, Giovana relata sua luta contra o câncer de mama, em 2009. O livro nasceu de crônicas publicadas no blog da autora naquele período: estar careca, os enjoos, as vitórias de cada dia, o aprendizado pessoal.
São 24 anos de jornalismo, especialista em assessoria de imprensa, cursa pós-graduação em sociologia. Giovana trabalhou nos jornais "A Folha da Cidade", "Jornal do Vale", na TV Rio Sul, fez assessoria de imprensa para empresas e instituições da região, foi editora chefe do programa "Conexão no ar" e também de revistas. Trabalha no UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda), onde é produtora de conteúdo digital. Escreve crônicas no blog que leva seu nome, tem uma coluna na revista web "Benfazeja" e no jornal impresso "Volta Cultural". Já lançou dois livros de crônicas: "Mania de escrever" e "Depois da chuva, o recomeço".
Confira a entrevista com Giovana Damaceno
Como foi o processo de criação do livro? Quanto tempo levou? Foi mais um exercício emocional ou de disciplina e técnica?
Levei quatro anos pra escrever. Reuni textos escritos à época, não publicados, com os já postados no blog e acrescentei outros. Posso dizer que foi uma mistura de tudo isso, muito mais emocional, creio.
Ao escrever o livro, qual a sua intenção, o seu objetivo? Em algum momento você se sentiu exposta em demasia? Como você trabalhou essa questão no livro?
Pelo fato de ter escrito a respeito na época e de ter feito isso com o humor de sempre, fui incentivada por amigos a escrever o livro e falar sobre o assunto a mais gente. Claro que é uma exposição e essa possibilidade foi pensada e repensada várias vezes. Afinal, não deixei de fora questões delicadas, como as familiares e as sexuais, por exemplo.
O que foi mais difícil pra você ao escrever o livro? Ou todo o processo foi extremamente prazeroso?
Escrever sempre é um prazer, mas houve momentos em que parei até por meses. Cheguei a desistir por achar que aquilo não serviria pra ninguém. Mas sempre vinha um amigo e perguntava pelo livro, então, retomava.
Que análise você faz do mercado literário aqui na região? As pessoas estão mais abertas ao trabalho dos autores locais? Ou ainda existe aquele certo preconceito de que não temos bons escritores?
A pressão é grande e por vários motivos. O primeiro de todos é que não somos um país de leitores. Depois, temos hoje supervalorização das celebridades e dos best-sellers. Quem cria bons livros vai ficando sempre por último nesta fila. Imagina o autor do interior, que não tem acesso aos editores, à grande mídia, a alguém formador de opinião de um grande centro como Rio ou São Paulo, que leia sua obra e recomende.
O que inspira você na hora de escrever? Ou você não depende de inspiração para produzir bons textos?
Sou jornalista, cronista por consequência da profissão. Por isso me inspiro no cotidiano, nas pessoas, na atividade diária da cidade, naquilo que vejo por trás do que aparece.
Publicar um livro se tornou, digamos, não fácil, mas possível para a maioria dos autores independentes. Basta ter o dinheiro para isso. Algumas vezes não há uma preocupação com a qualidade. Que análise você faz desse quadro?
A falta de preocupação com a qualidade vem da própria precariedade da nossa educação. Não somos incentivados a ler obras de sofisticada qualidade literária. Mas é preciso que este espaço exista, é preciso que todos tenham oportunidade. Sou favorável a esta democratização que vem ocorrendo, favorecida pelas editoras que trabalham com pequenas tiragens. O custo inicial é zero para o autor. Creio no reconhecimento dos bons.
Do ponto de vista mercadológico, o trabalho do escritor é valorizado como arte? Como colocar preço em livro? Você é a favor de disponibilizar os livros gratuitamente na internet?
Apesar da mercantilização da literatura de modo geral, ainda creio no trabalho literário como arte. Se não acreditasse, não estava nesta praia. Se considerar arte toda a forma de expressão, a literatura se inclui e ela é meu meio de expressão.
Quanto aos preços, até agora não fui eu quem coloquei preços nos meus livros; apenas acatei a fixação de valor das editoras.
Sou a favor, sim, mas, sabe aquela vontade de ter seu livro impresso exposto nas prateleiras das livrarias? É bom vender; é bom sentir que sua arte é reconhecida, a ponto de pagarem por ela. Sei lá. Um bom psicólogo talvez explique isso melhor que eu.
Livro nasceu de crônicas publicadas no blog da autora em
2009, período em que autora lutou contra o câncer de mama
Quais os autores que contribuíram para a sua formação como escritora?
Como cronista, tenho admiração especial por Rubem Braga e Fernando Sabino. Me inspiro até hoje na obra deles.
Em que gênero você se sente mais à vontade ao escrever? E como nasceu essa simbiose?
Ainda a crônica, que é o que publico periodicamente, apesar de arriscar outros gêneros, como contos e poesias.
Escrever crônicas foi um passo além no jornalismo. A observação do dia a dia, o olhar mais fundo nas questões observadas, um questionamento constante das situações da cidade, da vida das pessoas. Tudo isso, com o olhar treinado de jornalista, fez a cronista.
Quais os momentos mais marcantes na sua trajetória?
Não sei falar de momentos marcantes. Penso apenas no que aprendo com a minha vida, tanto pessoal quanto profissional. O aprendizado, sim, é marcante. O que tiro daquilo que vivo, para viver melhor. Isso, sim, marca.
Projetos futuros? O que vem por aí?
Já tenho um projeto para um próximo livro. Está ainda em fase de "pensar como vou fazer". Será um trabalho jornalístico, mas meu personagem principal ainda nem foi comunicado (risos).
Serviço
Foram quatro anos até o livro ficar pronto; reúne textos
escritos à época, não publicados, os já postados no blog e outros
> Do lado esquerdo do peito - Editora Penalux. Degustação da obra aqui. Veja a entrevista no programa "Encontro com Fátima Bernardes", da Rede Globo. Vendas pelo site da Editora Penalux. Confira o blog da autora. Acompanhe as novidades na fan page da escritora.