(Fotos: Divulgação)
Livro é uma coedição de Joséphine Edições com a Academia Brasileira de Letras
Mário Alves de Oliveira é um perfeccionista. Dedica-se há muitos anos ao estudo da vida e da obra de Casimiro de Abreu, sobre quem já publicou quatro livros. Sua mais recente obra, "Casimiro de Abreu através de seus manuscritos" foi lançada em 3 de abril, na Livraria Cultura - Cine Vitória, no Rio de Janeiro. Nesta sexta-feira, 11, às 19h, será a vez da noite de autógrafos na Fundação Léa Pentagna, em Valença. O livro é uma coedição de Joséphine Edições com a Academia Brasileira de Letras.
O escritor nasceu no Rio, no dia 10 de julho de 1938. Bacharel em línguas e literaturas portuguesa e espanhola pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), sua estreia se deu em 69, com "Poemas de andarilho", a que se seguiram outros livros de poesia. Tem trabalhos publicados em jornais brasileiros e em revistas universitárias latino-americanas. Fez parte de algumas antologias e colaborou na edição da "Correspondência de Machado de Assis", realizada pela Academia Brasileira de Letras em 2008-2009, com duas cartas inéditas por ele encontradas em Portugal, dirigidas ao escritor Júlio César Machado pelo autor de "Dom Casmurro".
Confira a entrevista com Mário Alves de Oliveira
"Dizem que o diabo mora nos detalhes. O trabalho assim
rende menos. Mas o resultado é quase sempre positivo"
"Casimiro de Abreu através de seus manuscritos" é o quarto livro que você dedica ao grande poeta romântico. Traz comentários do ponto de vista biográfico e linguístico aos únicos 27 manuscritos literários que se conhecem de Casimiro - 25 dos quais encontram-se desaparecidos há quase 60 anos. Como e quando começou a desenvolver esse livro? Por que Casimiro?
O fato de eu ter tido uma casa de praia em Barra de São João, onde se encontra o Museu Casa de Casimiro de Abreu, me levou a me envolver com a figura do poeta, atraído que fiquei pelo desafio de decifrar os mistérios que cercavam sua vida. Quanto à ideia de publicar os manuscritos, vem do fato de os originais estarem desaparecidos há quase 60 anos. Deles, restam somente as imagens, reproduzidas numa antiga e rara publicação da Academia Fluminense de Letras. Senti necessidade de preservá-las em livro, com vistas aos futuros pesquisadores e estudiosos da obra de Casimiro.
De que forma você desenvolveu esses comentários? É um livro didático para um público específico? Ou tem uma linguagem que pode "fisgar" um público diversificado?
Foi em março de 1991 que comecei minhas pesquisas em torno da vida da obra de Casimiro. Como resultado, juntei uma grande quantidade de informações e documentos, que me permitem revelar aspectos desconhecidos da vida e da obra do poeta. Não sou, contudo, movido por intenções didáticas. Meus textos têm um tom de ensaio biográfico, de crônica histórica, podendo por isso despertar o interesse de um público diversificado.
A que se atribui esse desaparecimento dos 25 manuscritos?
Os 25 manuscritos pertenciam a uma descendente de Antônio Francisco da Costa Cabral, patrão e protetor de Casimiro, que em 1949 os emprestou para uma grande exposição na sede da Academia Fluminense de Letras, em Niterói, de onde acabaram por extraviar-se. Para preservar de suspeita os acadêmicos, lembro que, segundo se diz, a citada sede costumava ser usada por outras instituições fluminenses.
Texto tem um tom de ensaio biográfico, de crônica histórica,
podendo por isso despertar o interesse de um público diversificado
Como é o seu processo de desenvolvimento de um livro? Você tem um "ritual" para escrever? Precisa de inspiração? Ou foca no aspecto técnico da escrita?
Sou perfeccionista, o que dificulta às vezes meu trabalho. Já cheguei à loucura de voltar à Biblioteca Nacional para conferir, no original de um documento, se o texto tinha mesmo certa vírgula que encontrei na minha cópia. Dizem que o diabo mora nos detalhes. O trabalho assim rende menos. Mas o resultado é quase sempre positivo.
Quais são os outros três livros lançados? Quais as diferenças básicas entre eles e o atual?
Antes de "Casimiro de Abreu através de seus manuscritos", publiquei três livros sobre o poeta: "Casimiro de Abreu - Correspondência completa" (Academia Brasileira de Letras, Rio, 2007); "Casimiro de Abreu - 150 anos de primaveras" (Academia Brasileira de Letras e Editora Nitpress, Niterói, 2009) e "Casimiro de Abreu - Obra completa" (Academia Brasileira de Letras e G. Ermakoff Casa Editorial, Rio, 2010). O primeiro reúne as cartas escritas e recebidas por Casimiro, isto é, o que delas restou. Sem esse livro, impossível fazer-se a biografia do poeta. O segundo é uma edição comemorativa do sesquicentenário do livro "Primaveras", precedida por um texto em que traço um resumo da vida de Casimiro. No terceiro, reuni toda a obra do poeta, com comentários predominantemente biográficos a cada um dos poemas e textos. A diferença desses três livros para o último é que, neste, faço uma espécie de biografia aos pedaços, sem rígida cronologia, buscando despertar o interesse do leitor para a história de cada texto.
Além desses quatro livros, você tem outras obras lançadas? Passeia por outros gêneros literários?
Foi em 1969 que publiquei meu primeiro livro de poesia. Depois vieram outros. Em 2008, nos meus 70 anos, reuni o que julgava o mais consistente da minha produção poética no livro "Aqui bem perto", que saiu naquele ano pela Galo Branco, do Rio de Janeiro. Gostaria de citar "Horas vagas" (Data Vênia, Rio, 1987), livro que organizei e comentei, e que Emil de Castro apresentou. Trata-se de um trabalho que tem profunda relação com Volta Redonda, pois reúne os poemas do meu saudoso e querido tio João Baptista Vieira, que apesar de nascido na extinta Vila de Santana dos Tocos, município de Resende, viveu seus últimos dez anos na Cidade do Aço, onde morreu em 1962.
Que análise você faz do atual cenário literário no Brasil e no mundo? Do ponto de vista de mercado para a leitura e de produção literária também?
Dizem que hoje há mais escritores que leitores. Talvez seja verdade, mas não vejo isso como algo negativo. Significa que há mais gente se exprimindo, se lançando, se arriscando. Talvez da quantidade brote a qualidade. Neste momento mesmo, há grandes nomes em destaque na nossa literatura. No plano mundial, a mesma coisa: surge sempre um escritor até então desconhecido, que nos surpreende ao receber o prêmio Nobel, como extraordinária poeta polonesa Wislawa Szymborska, que o ganhou em 1996.
Está cada vez mais difícil novos autores conseguirem uma editora. O que é preciso fazer para mudar isso?
Discordo. Acho que está cada vez mais fácil para os novos autores conseguir quem os edite. E quando não, aí está a internet para facilitar a vida dos estreantes. Hoje, qualquer novo autor tem seu blog, ou faz parte de algum grupo que financia as próprias edições. O que está cada vez mais difícil, isso sim, é conseguir ser editado pelas grandes e mais fortes editoras. Quem o consegue, se possui talento e dá sorte, está lançado a nível nacional, pois passa a contar com o apoio da mídia. Isso sempre foi assim.
A questão de se disponibilizar gratuitamente livros inteiros para leitura na internet. Quais os pontos positivos e negativos?
Vejo como positiva a disponibilização, na internet, de livros que já tenham caído em domínio público. O grande perigo é a falta de seriedade que predomina na rede, onde se publica qualquer coisa, sem o cuidado que a edição de um bom livro merece. Se com a obra impressa já ocorrem equívocos e sérias distorções, imagine com as publicações online. Dou um exemplo. Uma conhecida editora, a Ediouro, publicou as "Poesias completas de Casimiro de Abreu", onde, na capa, a cena dramática Camões e o Jau aparece como "Camões e Jaú". Ora, "Jau" era o escravo javanês que acompanhava Camões, enquanto "jaú" é um peixe da bacia amazônica. Um verdadeiro deboche.
Projetos. O que vem por aí?
Quanto a projetos, prefiro me referir ao próximo passo, uma vez que já existe um projeto em andamento, cujo título geral é "Em torno a Casimiro de Abreu". Dele fazem parte os quatro livros que publiquei até agora. O próximo passo é concluir a biografia do poeta, que com calma, cuidado e critério, estou escrevendo e já passou da metade.
Serviço
> Casimiro de Abreu através de seus manuscritos - De Mário Alves de Oliveira. Uma coedição de Joséfhine Edições com a Academia Brasileira de Letras. Na Fundação Léa Pentagna, dia 11 de abril, às 19h. Rua Vito Pentagna, 213, Valença. Telefone: (24) 2453-4178.