Publicada em: 25/08/2015 (12:07:47)
Atualizada em: 20/09/2015 (10:04:16)

(Fotos: Divulgação)
"Teoria da deriva", de Guy Debord, influenciou o e-book disponibilizado em canais da internet
"O olhar do poeta que anda por Volta Redonda, que conhece a cidade e seus cantos. Um olhar para o detalhe de quem quer apreender a cidade, o instante, a vida". Giglio define assim o e-book "Um outro olhar", que já está disponível em canais da internet. São 50 imagens, o que ele define como fotopoesias. O poeta conta que a ideia do e-book nasceu durante um trabalho de faculdade em Rio das Ostras:
- Tive que escrever poesias para fotos de pontes da cidade. Na ocasião, fazíamos dois trabalhos e realizávamos derivas para captar imagens e ideias. Em novembro, retornando para Volta Redonda, tive a ideia de fazer algo aqui, com imagens da cidade, de minhas derivas diárias. Imagens do meu olhar.
São 45 fotopoesias e as outras são capa, dedicatória etc. A seleção das fotos, segundo Giglio, foi natural.
- Não pensei muito não. Fotografo muito minhas andanças. Ia vendo, escolhendo e escrevendo - detalha o processo de criação do livro.
Confira a entrevista com Giglio

"Minhas fotos, minhas fotopoesias são registros de momentos; um olhar
poético; não é uma coisa técnica de fotógrafo; é sentimento e registro"
O e-book vai sair do virtual e passar para o físico? Existe essa meta?
A ideia inicial era fazer uma exposição. Imprimir tudo bem bonito. Imprimir grande para expor e pequeno para comercializar. Mas é caro. Muito caro. E são 50 fotos. Então optei pelo virtual. E quando optei pelo virtual descartei o retorno financeiro. Vou fazer CDs para comercializar e ter algo físico para mostrar. Vender baratinho nos saraus que participo. E vou imprimir sob encomenda. Você pode escolher tamanho e quais imagens você quer.
Essas fotopoesias são o resultado de quanto tempo de trabalho? E depois, quanto levou para concluir o e-book?
De maneira geral eu comecei em novembro e parei em abril. Depois veio toda a parte de divulgação, teste de lançamento, agenda... E soltei agora em agosto.
Ele teve custo zero pra você? Está disponível também a custo zero para o público? Onde? Como você vê essa questão de disponibilizar gratuitamente obras artísticas?
Custo zero. Zero nunca é, mas o custo de ligar laptop, de gastar tempo, de telefonar, de agendar hora com dona de livraria... Isso tudo tem custo. Mas consideramos custo zero. Disponibilizo no Facebook na minha página e na da Guerrilha Produções, em postagens quase que diárias. E neste link. Sou da geração que ficou entre o mundo analógico e o virtual. E essa transição vem nos colocando essas questões, e eu gosto delas. Livros são caros. No Brasil livro é uma fortuna. Dizem que ninguém lê. Que ninguém lê poesia. Mentira. Muita gente lê minha poesia. Só que ela está num suporte diferente. Então eu tenho que "ir onde o povo está". E falar com ele. Meus leitores estão na internet e ali o bacana é ser livre e gratuito. Drummond e Pessoa não viviam de seus livros. Eram funcionários públicos.
A "Teoria da deriva", de Guy Debord, influenciou de que forma esse trabalho?
Debord propõe em sua teoria que apreendamos a cidade para entender toda sua biopsicologia, sua estratificação social, seus mecanismos de funcionamento. Caminhar à deriva, sem um caminho pré determinado, observando. Para depois regurgitar o que apreendeu. No meu caso em forma de fotopoesias.

Seleção das fotos para o e-book, segundo Giglio, foi natural; não pensou muito para selecioná-las
Desnudar imagens que passam sem que sejam percebidas (gente, animais, chaminés, paredes). Pedaços das suas andanças pela cidade transformados em linguagem poética. A maioria não vê essas imagens no dia a dia? Por quê?
A dinâmica da vida urbana da atualidade faz com que estejamos quase em estado de transe pelas ruas. Já temos nossas rotas, nossos caminhos, nossos roteiros geográficos e de falas. O tempo corrido, as pressas e neuras por causa da violência vão nos impedindo o olhar.
Você se considera um fotógrafo? Como é a sua relação com a fotografia? E como você harmonizou esse diálogo entre fotografia e poesia?
Não. Brinco muito com isso, até. Eu fotografo, como milhões de pessoas, mas não sou fotógrafo. Sempre gostei de fotografar. Mas o faço com meus gostos pessoais. E para registro. E essas minhas fotos, minhas fotopoesias são registros de momentos. Um olhar poético. Mas não é uma coisa técnica de fotógrafo. É sentimento e registro. O diálogo só é possível se há sentimento pra dar liga. E Volta Redonda, pra mim, é uma profusão de sentimentos.
Projetos. O que vem por aí?
Tem mais projetos de poesia por vir. Em 9 de setembro, tem lançamento do projeto e CD "Intersecções" - poesia + música. A Guerrilha Produções tem produzido saraus e eventos poéticos há alguns anos em Volta Redonda. Recentemente gravamos, em parceria com o estúdio Araknosound o "Poesia Jah - vol. 1", que segue disponibilizado aqui. Agora ampliamos a parceria, somando o ECFA, a Rádio Sarau e o Gacemss (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva), e gravamos poesias autorais de convidados com intersecções musicais de músicos também convidados. O resultado será disponibilizado gratuitamente em redes sociais e liberado para veiculação em toda e qualquer mídia, desde que resguardados os direitos autorais e citadas as fontes. Lançaremos esse trabalho lindo no teatro Gacemss II. A entrada é grátis.

Giglio vai lançar outro e-book, o "Corpo poético", e procura mulheres para ensaio fotopoético
Lançamento de outro e-book de fotopoesias, "Corpo poético". Procuro mulheres para ensaio fotopoético. Não precisa ser profissional, mas tem que ser maior de idade. Não precisa estar dentro dos padrões sociais de beleza. O objetivo do trabalho é mostrar o corpo como corpo natural/sagrado/vida. Um corpo diferente do ambicionado por machos. De partes do corpo nu, deserotizando-as e mostrando um corpo diferente do ambicionado por machos capitalistas. Aliar as imagens com poesias, onde o eu artístico é feminino. Esse é o projeto e ainda busco modelos. Pretendo ampliar para pessoas mais velhas, homens e trans. Mas esse é o primeiro passo. Talvez esse seja o meu maior exercício para ir me livrando do machismo nosso de cada dia. Com imagem e poesia, com fotos de nus dessexualizando o corpo, onde experimento o eu poético feminino.
E também vem por aí o primeiro Encontro de Poetas de Volta Redonda.
> Contato: Guerrilha Produções, (24) 9-9996-7802.
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