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Literatura & Cia.

Jean Carlos Gomes

poearteditora@gmail.com

Um Olhar Macro Sobre o Micro

O primeiro voo solo de Amalri Nascimento no universo das letras

Livro do poeta e artista plástico traz sertão, mitologia, poesia em causos e outras prosas

Livros  –  12/08/2021 12:45

 
O AUTOR E SUA OBRA

(Foto: Divulgação)

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“Sob o farfalhar do juazeiro e outros contos que conto” presenteia o leitor com uma prosa muito peculiar, com forma agradável e diferente de contar histórias

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Luiz Otávio Oliani

Se a literatura é múltipla, cada escritor busca um estilo próprio, uma voz particular, pessoal, inexistindo uma forma única de se produzir arte. E, em Amalri Nascimento, com “Sob o farfalhar do juazeiro e outros contos que conto”, não há de se falar em contos brutalistas, tal qual Rubem Fonseca; sequer Dalton Trevisan em estilo seco; também não aos “Contos Plausíveis”, de Carlos Drummond de Andrade, ou a concisão epigramática de um Edson Rossato, Oswaldo França Lima, Wilson Gorj ou um Carlos Herculano Lopes, isto para ficar com estes contistas modernos e pós-modernos.

Muito pelo contrário, na prosa de Amalri, percebe-se um olhar macro sobre o micro, já que o prosador passeia por temáticas extremamente diversas. A partir das vivências pessoais, os causos, o Nordeste e até as próprias origens em Brejinho, Rio Grande do Norte, onde nasceu, o escritor se valeu deste universo para escrever o conto que dá título ao livro. Em “Sob o farfalhar do juazeiro”, a denominação geográfica do juazeiro, também conhecido por joá, laranjeira-de-vaqueiro, juá-fruta, juá e juá-espinho, reforça a identidade local, por se tratar de uma árvore típica do semiárido brasileiro. No conto, tem importância basilar uma vez que a residência da Senhora Albertina do Rosário Alves, protagonista, encontra-se ladeada por três árvores seculares, além do juazeiro, um umbuzeiro e uma jabuticabeira.

O universo regional também aparece em “A mulher que sonhava em cortar os cabelos”, no qual se percebe a beleza da linguagem regional, quando uma voz masculina e extremamente autoritária se contrapõe aos desejos da esposa: “- muié minha num corta cabelo, inda mai de promessa feita, pra isso acuntecer, só pu cima do meu cadávi.”. Com esta narrativa, a “Mágico de Oz, empreendimentos editoriais”, em comum acordo com a “Sociedade Cultural da Ilha da Madeira”, conferiu ao contista o certificado “Melhores Contistas 2013”, celebrando sua contribuição à cultura luso-brasileira, durante o ano de 2013.

(...) Quanto à localização espacial dos contos, o Rio de Janeiro, cidade que acolheu o autor, aparece em alguns textos. O crime ocorrido em “Lençóis de mágoas” começa a ser desvendado numa sexta-feira, 22 de abril de 2010, perto dos ponteiros da torre da Central do Brasil. Este conto foi distinguido com Menção Honrosa no 14º Concurso Literário do Servidor Público do Estado do Rio de Janeiro/2010 e 5º Lugar, categoria conto, no Prêmio Cataratas de Contos e Poesias/2010, da Fundação Cataratas, Foz do Iguaçu/PR.

(...) Ao estilo de Conan Doyle e Agatha Chritie, “Lençóis de mágoas” nada fica a dever aos mestres do suspense. Com uma lupa de detetive, Amalri conseguiu produzir um texto impactante e surpreendente, com riqueza de detalhes. Aqui, cada palavra é usada de forma a se ajustar num texto policial digno dos mestres.

(...) Quanto à estrutura, os parágrafos dos contos foram construídos com base na subordinação dos períodos, o que representa um alto grau de complexidade, seja para quem escreve, seja para quem o lê, isto porque as orações subordinadas exigem um fôlego na escrita, já que podem, vir justapostas, com a presença de coordenadas. Trata-se de uma característica muito peculiar de Amalri Nascimento, tendo em vista que não é comum aos contistas modernos e pós-modernos valerem-se de tal recurso. Entretanto, sempre há riscos e um deles está em “Caronte - Sem troco para travessia”, belo, porém de leitura com um detalhismo exagerado; que consegue exprimir um panorama de grandes painéis, para uma visualização das cenas e ações dos personagens.

Em suma, se no meio literário Amalri Nascimento já é um autor reconhecido por aparições em saraus e eventos ligados à literatura, no Rio de Janeiro, onde vive, e se já recebeu prêmios diversos em concursos, ainda que não tenha publicado um livro de poemas; eis que “Sob o farfalhar do juazeiro e outros contos que conto” traz ao público este primeiro voo solo no universo das letras. Eis uma prosa muito peculiar, com forma agradável e diferente de contar histórias. E fica aqui o desejo de ler novos livros de Amalri, em prosa ou em poesia.

(Parte do prefácio ao livro “Sob o farfalhar do juazeiro e outros contos que conto”, Rio de Janeiro, Editora Caçadores de Sonhos; São Paulo, WI, 2020)

Quem é o autor do livro

Amalri Nascimento é suboficial da reserva da Marinha do Brasil, poeta potiguar, radicado no Rio de Janeiro. No meio literário, é integrante da APPERJ; correspondente da ALTO; sócio correspondente da ALAAP; sócio correspondente do IHGM e AVPLP - Seção Acadêmicos Titulares do Brasil; autor premiado em diversos concursos literários e participação em dezenas de antologias; certificado "Melhores Contistas 2013", pela Editora Mágico de Oz e Sociedade Cultural da Ilha da Madeira/PT; possui o indicador “Autor - Estrelas Douradas” pela CBJE; possui um conto vertido para o inglês e espanhol, pela Word Awarenes/EUA. Consta do Catálogo Brasileiro de Autores Brasileiros Contemporâneos. Publicou "Sob o farfalhar do juazeiro e outros contos que conto" - Ed. Caçadores de Sonhos/WI 2020. No prelo: “Universo Multiverso” - Poesia. Como artista plástico, autodidata, foi premiado em diversos salões de artes plásticas, promovidos e/ou apoiados pela SBBA.

> Luiz Otávio Oliani cursou letras e direto. É professor e escritor. Em 2017, a convite de Mariza Sorriso, representou o Brasil no IV EPLP, em Lisboa. Participa de mais de 200 livros coletivos. Consta em mais de 600 jornais, revistas e alternativos. Recebeu mais de 100 prêmios. Teve textos traduzidos para inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, holandês e chinês.  Publicou 15 livros: dez de poemas, três peças de teatro e os livros de contos “A vida sem disfarces”, Prêmio Nelson Rodrigues, UBE/RJ, 2019, e “Ingênuos, Pueris e Tolinhos”, 2021. Recebeu o título de “Melhor Autor Apperjiano 2019” pelo conjunto da obra. Em 2020, teve poema publicado nos Estados Unidos da América, na Carolina do Norte, em Chapel Hill, na coletânea internacional “VII Heron Clan”, a convite de Todd Irwin Marshall. 

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Por Jean Carlos Gomes  –  poearteditora@gmail.com

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