(Fotos: Divulgação)
Marcio Baraldi e Zalla: Encontro de talentos
Marcio Baraldi é o cartunista mais amado por todos os roqueiros do Brasil ele é o “herói” criador de criaturas hilárias, todas muito loucas. Ninguém fez, faz e publica tantos cartuns e HQs explicitamente roqueiros como ele.
Cartunista de nascença, ele começou a misturar rock com desenho ainda na infância, quando se converteu ao rocknroll, após ouvir “We will rock you” do Queen num velho rádio valvulado.
Dali pra frente ele entupiu cadernos e mais cadernos com desenhos, piadas e quadrinhos com bandas de rock, sobretudo o Kiss e o Queen, suas primeiras paixões roqueiras.
Trabalho rocker
Mas o trabalho rocker do Baraldi só veio a público mesmo em janeiro de 1996, quando ele criou o Roko-Loko e a Adrina-Lina pra revista “Rock Brigade”. Seu trabalho nessa área agradou tanto que no mesmo ano ele passou a colaborar com mais duas revistas de rock, “Dynamite” e “Metalhead”, e uma de tatuagem, “Metalhead Tattoo”. Pouco tempo depois seria a vez das revistas “Roadie Crew”, “Valhalla”, “Comando Rock” e “Rock Underground” também abrigarem o humor inovador do Marcio em suas páginas.
Hoje Baraldi continua firme, forte e fiel em todas essas revistas, desenvolvendo um trabalho exclusivo e pessoal pra cada uma delas. Nesses sete anos Baraldi já desenhou, parodiou ou homenageou uma infinidade de bandas nacionais e internacionais, somando centenas e mais centenas de cartuns, quadrinhos e tiras do que ele mesmo escreve, desenha, finaliza e pinta. Tudo sozinho, tudo na raça!
Documento sobre a história do rock
Além de ser uma criativa e original mistura de quadrinhos e rock, o trabalho do Baraldi também funciona como um eficiente e divertido documento sobre a história do rock. Em seus quadrinhos estão fatos marcantes como a volta de Bruce Dickinson ao Iron Maiden, o fim dos Ramones, a morte de inúmeros roqueiros como Joey Ramone, Chuck Schuldiner e George Harrison, entre outros fatos que marcaram esse tal de rocknroll nos seus 50 anos de vida.
Todo esse conteúdo informativo e cultural, aliado ao traço hilário e humor agressivo, fazem de Baraldi um dos cartunistas mais consistentes do país. Além de um nome seminal e referencial que inovou e sedimentou o Humor-rock no Brasil.
Hey-Ho, lets go! Baraldi will rock you!!!!
Conversei com ele sobre o lançamento de sua mais nova empreitada, um documentário chamado “Ao mestre com carinho”, que conta toda história de vida do quadrinista Zalla e muito mais, confira aqui:
Márcia: Queria começar pelo seu lançamento do dia 29, fala pra gente um pouco desta sua homenagem ao Rodolfo Zalla e a importância desse quadrinista argentino radicado no Brasil pra você.
Baraldi: Eu sou fã do Zalla desde moleque. Eu cresci lendo os gibis que ele e a geração dele fizeram nos anos 60 até os 80. Zalla, Eugenio Colonnese, Osvaldo Talo, Jayme Cortez, Nico Rosso, Miguel Penteado e muitos outros, esses caras foram a melhor geração do Quadrinho Nacional, pois além de grandes artistas eram nacionalistas convictos e lutaram muito por uma indústria de Quadrinho 100% nacional. O Zalla já tem 81 anos e 60 de carreira, ele chegou ao Brasil em 1963, aos 32 anos, e se tornou um dos profissionais mais importantes do mercado. Foi diretor de arte da Taika, que era uma editora voltada totalmente para a HQ brasileira e produziu milhares de páginas de faroeste, super heróis e principalmente terror, que era um gênero que fazia um sucesso enorme naquela época. Depois que a Taika fechou ele abriu sua própria editora, a D-Arte, e lançou dois gibis, “Calafrio” e “Mestres do Terror”, que duraram nas bancas até o começo dos anos 90. Foi um fenômeno editorial na época. Além de tudo isso ele ainda quadrinizou toda a história do Brasil e da humanidade para livros escolares, que venderam milhões de exemplares. Enfim, ele tem uma trajetória extraordinária e até hoje trabalha que nem doido: continua ilustrando livros escolares e voltou recentemente com a revista “Calafrio”. O homem não para! Então, pra homenagear o cara eu produzi o documentário “Ao mestre com carinho” , que conta toda história de vida do Zalla. O DVD ficou muito bonito e estamos lançando oficialmente neste sábado, dia 29, a partir das 14h, na livraria Comix, em São Paulo. Quem for de São Paulo apareça, quem não for pode comprá-lo pelo www.comix.com.br
Márcia: Gostaria que você falasse um pouco de como e por que começou a fazer quadrinhos?

Baraldi: Essa profissão a gente não escolhe, e ela que escolhe a gente. E que nem jogador de futebol ou músico, o sujeito já nasce com forte vocação e não consegue fugir dela. Então, eu desde criancinha já desenhava compulsivamente nas paredes, toalhas, guardanapos etc. Quando eu descobri os gibis, com, sei la, uns 4 anos, aí eu pirei no ato. Aprendi a ler antes de ir pra escola de tanto que eu enchia o saco da minha mãe pra me ensinar a ler os gibis. Foi uma paixão pra toda vida, até hoje adoro quadrinhos e só podia ter me tornado um quadrinista profissional.
Márcia: Por que é considerado o cartunista mais rock and roll do país?
Baraldi: Porque eu desenhei para praticamente todas as revistas de rock do Brasil, além de uma de Portugal e uma do Equador. No auge desse mercado eu colaborei com 11 revistas ao mesmo tempo. Fiz centenas de páginas e tiras de quadrinhos sobre rock, graças a elas me tornei amigo de muitos músicos e bandas maravilhosas como Serguei, Made in Brazil, Inocentes, Angra, Sepultura, Korzus, e muitos outros. Fiz HQs ou cartuns com centenas de bandas, do Elvis Presley ao Nirvana.
Márcia: Adoro o Roko-Loko e a Adrina-Lina, como eles surgiram?
Baraldi: Eles surgiram em janeiro de 1996. Eu fiz uma única HQ com eles, que ainda não tinham nem nome, era só uma única HQ de uma página que eu ofereci pra revista “Rock Brigade”, pra tentar ganhar uma graninha e tchau. Mas eles gostaram tanto dos personagens que pediram pra fazer todo mês e nessa já se passaram quase 17 anos. É um filho adolescente (risos)! Nesse tempo todo eu produzi centenas de páginas e tiras dos personagens, quatro livros, um videogame, bonecos e camisetas. Foi tudo muito espontâneo, suas histórias sempre fluíram naturalmente.
Márcia: Você já participou de muitas revistas especializadas em rock, como isso aconteceu?
Baraldi: Eu comecei na Rock Brigade, em janeiro de 1996, com o Roko-Loko.Na sequência outras revistas foram vendo meu trabalho e me chamando também: “Roadie Crew”, “Comando Rock”, “Metalhead”, “Valhalla”, “Rock Underground”, “Dynamite”, “Metalheart” (Portugal), “Headbanger” (Equador) etc. O detalhe é que em cada uma dessa revistas eu fazia uma série diferente, exclusiva, todas simultâneas. Não teve nenhum outro cartunista no Brasil ou no mundo que fez isso alem de mim. E um mérito meu ter aberto tanto mercado dentro da imprensa roqueira sul-americana. Hoje, com a realidade da MP3, esse mercado infelizmente deu uma encolhida, algumas revistas acabaram outras viraram sites, mas ainda ha algumas firmes aí no mercado como “Roadie Crew”, “Rock Brigade” e “Comando Rock”. E eu continuo firme em todas elas.
Márcia: Qual dos seus personagens é o seu filho mais querido?
Baraldi: Um pai não pode ter um filho preferido, é pecado(risos). Eu publico um monte de personagens todo mês: Roko-Loko e Adrina-Lina, Euriko e Ritalinda, Vapt e Vupt, Rap Dez, Maluco e Beleza, Joe Stick, Turma dos Químicos, Tattoo Zinho, Persio Piercing e Tati Tattoo, e outros, e cada um deles dá o seu recado pro seu público alvo. Então todos só me dão alegria, e contribuem cada qual para eu ter conseguido construir uma carreira sólida num mercado difícil como o de quadrinhos no Brasil.
Márcia: Sei que você já conquistou diversos prêmios, fale um pouco disso e qual a importância dos prêmios para os artistas?
Baraldi: Eu já ganhei 11 vezes o Angelo Agostini, que é o prêmio de Quadrinhos mais antigo e tradicional do Brasil. Também ganhei duas vezes o Vladimir Herzog, que é um prêmio de Direitos Humanos muito importante no jornalismo brasileiro. Ainda faturei o prêmio Humor Popular, conferido pelo próprio público do Salão de Humor de Volta Redonda (RJ), o prêmio GRC Music pela minha contribuição ao mercado da música independente brasileira e alguns salões de humor pelo Brasil afora. Devo ter uns 20 prêmios e isso me dá a certeza de que fiz e tenho feito um bom trabalho. Mas a maior recompensa que um cartunista pode ter e o retorno positivo e carinhoso do público. Isso não tem preço!
Márcia: Qual seu maior desafio? Qual personagem mais te sugou, deu trabalho?
Baraldi: Acho que todos foram criados espontaneamente, nenhum me deu muita canseira, pois faço isso com o maior prazer. Mas, de certa forma, todos são desafios, pois cada vez que a gente bola uma série e joga ela no mercado, está arriscando pra ver se o público curte ou não. Eu fico feliz por produzir séries que duram mais de dez anos, pois significa que conquistei um público. Acho que esse e o grande desafio de toda obra.
Márcia: O Roko-Loko é também jogo pra PC. Você pretende fazer outros jogos?
Baraldi: Em 2005 nos fizemos o game do Roko-Loko.Fez tanto sucesso que lançamos uma versão maior em 2007, que bombou mais ainda. Foi um projeto pioneiro, o primeiríssimo game para adolescentes 100% nacional. Toda hora recebo e-mail de moçada pedindo pra fazer novos games, eu só não fiz ainda por falta de tempo. Agora estou me concentrando no DVD do Zalla e em outros documentários que eu gostaria de produzir. Mas, provavelmente, daqui um tempo eu volto pro mercado de games porque é muito promissor, é o mercado do futuro, além de ser muito divertido. Acompanhem as novidades no meu site.
