(Fotos: Divulgação) 

Nino: "Tem ótimos lugares pra bandas alternativas, o que falta mesmo é
a produção desses lugares se profissionalizar e o público prestigiar os eventos" 

Tem lançamento. Tem música boa no ar. Nino Grandi & Blue Train presenteou o público com o EP "Bad river" no fim de 2013. Nino, Gustavo Hollanda, Sandro Dejota, Piero Grandi e Lourival Franco já têm um bom tempo de estrada, e sentiram que estava na hora de lançar suas canções originais. O segundo disco da banda reúne três autorais em inglês influenciadas por mestres como Robert Johnson, Freddie King e Peter Green. 

Formada em meados de 2007, a banda respira e toca o mais puro blues em versões de muita personalidade. O registro fonográfico não poderia ser diferente. Melhor ainda: foram lançados dois clipes - "Bad river blues", inspirada pelo Rio Paraíba do Sul e que venceu o Prêmio OLHO VIVO 2013, e a sentimental "Gone for good". 

Confira a entrevista com Nino Grandi 

O que o público pode esperar do EP, musicalmente falando? 

Esse é um álbum autoral de blues que segue a linha das nossas maiores influências nesse gênero. Quem é tão apaixonado por blues quanto nós vai ouvir os ecos dos mestres Peter Green, Buddy Guy, Robert Johnson... Mas trazemos pro nosso momento. Então existe um elemento vintage no som da banda, além das características contemporâneas. 

É o segundo disco da banda? 

Segundo álbum do Blue Train. O primeiro foi gravado num show, apenas versões do Clapton, Hendrix, B.B. King ainda na época em que a banda era um trio. Só foi disponibilizado na internet (ouça aqui). Fora do Blue Train, com outras bandas, projetos e acompanhando artistas, nem sei em quantos álbuns toquei. 

Como foi o processo de concepção do EP?

No começo, as músicas fluíram. Cada vez que eu e Renato Martini sentávamos, saíam duas ou três músicas sem esforço e arranjávamos mais algumas que já estavam compostas.

Quanto tempo levou para compor as músicas?

Foi bem rápido. Fizemos umas 30 canções em alguns encontros, em 2012. Desde então fizemos mais ainda. O EP foi gravado em junho e estamos lançando nos últimos dois meses. Fazemos sem pressa porque todos temos outros projetos. 

Existe um conceito no disco?

Sim. Ele gira em torno do sentimento de perda, um tema recorrente no blues. É uma expressão espontânea associada à ideia de prestar essa homenagem aos nossos blueseiros favoritos. 

Como foi a experiência em estúdio? 

Eu e o produtor, Gustavo Holanda, temos bastante experiência em estúdio, então foi muito tranquilo. Cada integrante contribuiu nas músicas com o que elas precisavam mesmo. 

Muito diferente do palco?

Ah, sim, as músicas são as mesmas, mas no show elas acontecem em tempo real, para um público. No palco não tem regra. É o espaço pra improvisar, se comunicar diretamente com as pessoas que estão ali. A música é apenas um pretexto pra chegar naquele momento do palco, e reinterpretá-la (risos). 

EP gira em torno do sentimento de perda;
é uma expressão espontânea associada à ideia de prestar
uma homenagem aos blueseiros favoritos da banda

Faça um faixa a faixa do disco comentado, por favor. 

1 - Bad river blues - É uma música sobre relutância em aceitar uma perda. O rio ruim é o aspecto implacável do tempo, que não traz de volta as coisas que leva, na maior parte das vezes (aludindo ao significado de Paraíba, em tupi-guarani). No início o cara tem uma relação quase devocional pelo rio, e implora, alimenta o rio com suas lágrimas, e ao fim percebe que suas súplicas foram em vão, suas lágrimas secaram e ele amaldiçoa o rio, cuspindo nele e dizendo que ele também secará. 
2 - Gone for good - É a resignação. 
3 - You should never mess with me - É a volta por cima... Tematicamente, as canções se interligam como estágios da perda. 

Vamos dar crédito à parte técnica do EP (capa, trabalho gráfico, gravação, masterização etc.). 

O EP foi gravado e mixado na Casa Laranja pelo Gustavo Holanda. O projeto gráfico é feito por mim através da Little Farm Design. 

Hoje em dia não se ganha dinheiro com CD ou EP, é mais uma questão de registro do trabalho. Você concorda com isso? 

Concordo. O orçamento do álbum deve ser encarado, junto com outros custos, como verba para divulgação. Ele vai servir pra tornar a sua banda mais conhecida. É claro que você sempre pode vender os discos nos shows, e é muito recomendável. Mas hoje em dia o artista ganha mais com apresentações. 

E a questão da pirataria, de baixar um CD inteiro pela internet de graça. Qual a sua avaliação sobre essa questão? 

Essa é uma circunstância inevitável. Mas minha opinião é que a internet tem mesmo que ser uma ferramenta de acesso à informação. Curto a ideia de poder baixar um álbum ou ouvir num site porque acredito que arte (e cultura em geral) tem que ser pra todos, não apenas pra quem pode pagar. 

Como está o mercado para as bandas, digamos, que não são comerciais aqui na região? 

É um mercado bem eclético, não é mesmo? Acho que tem ótimos lugares pra tocar, o que falta mesmo é a produção desses lugares se profissionalizar e o público prestigiar os eventos. Ouço muita gente reclamando que não tem show de alto nível rolando, mas quando acontece não sai de casa. Vejo ótimos shows na área com pouco público... Vai entender... 

O que pode ser feito para melhorar essa questão? 

Acho que a solução passa pela conscientização do público mesmo. Comparecer nos eventos culturais, participar, inclusive ser mais exigente! Só assim o nível (artístico/técnico) dos shows vai subir. 

Tem a versão virtual e física do EP? 

Por enquanto, só a versão virtual. 

Já pensa na gravação de um CD completo? 

Estamos gravando o álbum agora! Estamos muito animados. Deve ser lançado no primeiro semestre de 2014. É como a continuação do EP, mostrando o momento seguinte da banda. 

Projetos, o que vem por aí?

Fora a gravação do álbum, continuamos tocando. 

Serviço 

> Você pode conferir o EP e todo o material da banda Nino Grandi & Blue Train no Facebook e no Soundcloud. 

Veja os dois clipes do EP 

Edição impressa