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Claudio Fonzi, mais do que um apaixonado por música

Entre tantas coisas, ele é dono da loja de discos Renaissance, que fez história em Petrópolis

Música  –  30/01/2014 21:35

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(Fotos: Divulgação)

"Pouquíssimas coisas na vida me deixam tão feliz quanto ver o brilho nos
olhos de alguém que gostou de uma música ou um álbum que indiquei ou forneci"
 

Claudio Fonzi é, entre outras tantas coisas, dono da loja de discos Renaissance, que fez história em Petrópolis. Um dos caras mais ligados (e apaixonados) à musica que tive o prazer de conhecer. Fonzi é também responsável pela vinda de muitas bandas ao Brasil. Bati um papo com ele e o resultado você confere abaixo. 

Quando e como a música entrou em sua vida?

Desde muito menino mesmo! Com 6, 7 anos eu já recordo de boas músicas de Jovem Guarda, MPB e orquestras sendo tocadas lá em casa. Mas o rock começou a entrar na minha cabeça em 1972, quando fiz 8 anos. Aí comecei a conhecer e curtir muitos sons dos Beatles, Stones, Simon & Garfunkel, Alice Cooper e Bread, além das trilhas sonoras das novelas da Globo, que na época eram excelentes. Também ganhei meu primeiro disco, uma coletânea chamada "Super parada" e um radinho AM de pilha, que se tornou meu fiel companheiro por vários anos. Em 1974, porém, que aconteceram as definitivas transformações: a maior de todas foi quando assisti ao primeiro programa "Sábado som", transmitido pela TV Globo, e a atração era o vídeo "Pink Floyd - Live in Pompeii". Foi na inesquecível data de 9 de março, e daí em diante minha vida nunca foi a mesma.

Pra completar o cerco "progressivo", conheci logo em seguida os álbuns "Close to the Edge", do Yes; "Selling England by the Pound", do Genesis; "Trilogy", do ELP; "Thick as a Brick", do Jethro Tull; e os "Atom Heart Mother" e "Meddle", do Pink Floyd, ou seja, somente obras maravilhosas, nota 10 absolutas, não havia como escapar! 

Quais as bandas que te marcaram ao longo dos anos? 

A principal foi o Pink Floyd, mas foram realmente muitas, poderia citar facilmente umas 50 fundamentais. As que destaco em maior grau são: Mike Oldfield, Renaissance, Camel, Yes, Genesis, Jethro Tull, Eloy, Focus, Mandalaband e Grobschnitt no progressivo e Steeleye Span, Fairport Convention, Joan Baez e Neil Young no folk. Em outros estilos, Uriah Heep, UFO, Led Zeppelin e Grand Funk no hard, Secos & Molhados, Elis Regina, Milton Nascimento e Beto Guedes na MPB e, para surpreender a todos, o U2 no rock dos anos 80 pra cá. 

Colecionador ou vendedor de discos? Ou quando o colecionador passou a vendedor? E o colecionador ainda vive ou apenas o negociante continua na ativa? 

Sofri muito na infância e adolescência por não poder ter discos. Acredite se quiser, depois daquele disco que ganhei no Natal de 1972 aos 8 anos, só fui ter a oportunidade de adquirir outro em 1980, quando passei, literalmente, a ficar sem comer no colégio quando passava o dia lá e a andar a pé vários quilômetros pra economizar e poder finalmente começar a comprá-los. Com 17 anos cheguei a desmaiar na rua uma vez por causa disso. Psicologicamente, os 7 anos de 1973 a 1979 foram extremamente difíceis, pelas mais variadas razões, mas uma delas foi realmente essa questão musical. A música foi minha principal fonte de energia para sobreviver pelo que passei. Por ela sorri, chorei e muito sonhei. Felizmente, tive acesso a escutar muitos discos, a escutar a maravilhosa emissora FM chamada Eldopop, a escutar todas as noites as emissoras de AM Mundial e Tamoio no meu querido radinho de pilha e a ver muita coisa na TV, nos programas "Sábado som" e "Rock concert". Assim sendo, não sofri falta de música em si, mas era horrível não ter liberdade de escutar na hora que desejasse, nem mesmo de manusear a capa. Cresci então sonhando delirantemente em ter muitos e muitos discos. Por muitas dezenas de vezes fui a lojas de discos somente para olhar as capas. Felizmente, eu morava no interior, em Petrópolis, e as lojas eram meio fracas, mas frequentemente eu ia ao Rio com minha mãe e irmão comprar discos para ele e era de lascar ver o que existia nas lojas de Copacabana! Em 1983, quando entrei para a faculdade de geologia na UFRJ, já estava com uma pequena coleção de uns 100 discos, mas queria muito mais. Minha intenção era realmente me formar e finalmente ganhar dinheiro para comprar bastante. Nem de longe pensava em trabalhar com venda de discos. Em janeiro de 1985, porém, a vida iniciou a me encaminhar para tal e acabei pegando o gosto, pois além de aumentar enormemente minha coleção comecei a ganhar um dinheirinho. Outros fatores foram se unindo no decorrer do ano e em 86, ainda com 21 anos, eu já estava sentindo que aquele seria o meu real caminho.

Atualmente ainda tenho uma boa coleção de vinis, CDs e DVDs, mas a necessidade de sobrevivência já fez com que eu vendesse muitos itens que eu não gostaria. Tenho certeza absoluta, porém, que meu sonho de vida de colecionador já foi mil vezes realizado.

Pouquíssimas coisas na vida me deixam tão feliz quanto ver o brilho nos olhos de alguém que gostou de uma música ou um álbum que indiquei ou forneci. É algo realmente imensurável. 

Como, quando e onde começou o seu interesse por produção?

Aconteceu totalmente por acaso. Eu jamais poderia pensar que isso seria possível, pois embora minha família fosse de classe média nossa vida não foi bem administrada e minha situação financeira particular sempre foi próxima da miserável, pois nunca ganhei mesada e nas várias atividades que trabalhei para minha mãe (revisão de livros, recenseamento pro IBGE, auxílio na documentação de arquivos do Império etc.) não foram em troca de dinheiro. Sempre fiz exclusivamente por amor, nunca liguei em receber algo em troca e assim moldei meu viver.

Comecei a ganhar algo de verdade somente em 1986, não somente pelos discos que revendia, como também por um trabalho que arranjei na faculdade. Aí as coisas foram melhorando até que em 1988 surgiu uma oportunidade maravilhosa: amigos petropolitanos compuseram e gravaram músicas realmente belíssimas e suficientes para gravar um LP. Na cidade não havia quem se interessasse, parti então atrás de contatos cariocas que já conhecia. Depois de meses de muitas promessas, ilusões e mentiras, bateu um estalo e resolvi encarar a situação. Peguei um dinheiro emprestado com minha mãe (a banda também emprestou uma parte), abri uma microempresa chamada Som Interior Produções Artísticas, elaboramos a arte da capa e colocamos na fábrica Gravações Elétricas S.A. O grupo se intitulou Anno Luz e foi um sucesso realmente maravilhoso. Em três meses já tinha pago tudo a todos, rolou um lucro legal e abriu portas que antes me pareciam jamais seriam destrancadas. Dali em diante nunca mais parei e pretendo aumentar a produção a partir de 2014. 

Qual a importância da loja na sua vida?

A Renaissance Discos nasceu em Petrópolis em 1 de fevereiro de 1993, graças ao nascimento da minha filha Elis, 32 dias antes. Considero-as quase como irmãs, pois nasceram muito próximas e transformaram 99% da minha vida. Já tive vários endereços com a loja e cheguei a ter filiais no Rio e em São Paulo. Cheguei a ter cinco funcionários, mas hoje trabalho sozinho, utilizando apenas serviços free lancer esporádicos. Já passei por crises financeiras pesadas e hoje estou me recuperando e atuando de forma integral apenas na internet. Uma das minhas maiores metas na vida é reativá-la plenamente e isso acontecerá em 2014.

A importância da loja na minha vida é grande demais, nem consigo me imaginar sem ela. A maior parte dos meus maiores amigos e amigas atuais eu conheci através dela e as duas mulheres que mais amei na vida também o foram. Algumas centenas de alegres reuniões nelas aconteceram, regadas a muita cerveja e bons papos. Milhares de momentos realmente inesquecíveis. Livros e filmes impagáveis poderiam ser gerados. 

Lembro-me de que mesmo morando no Rio ouvia seu programa na Tribuna FM, conseguia com alguma dificuldade sintonizar a rádio que conheci por ir com certa frequência a Petrópolis, adorava a rádio e principalmente o seu "Tribuna progressiva". Como foi pra você trabalhar em rádio, produzir e apresentar o programa que se não me falha a memória tinha patrocínio da sua loja.

Apesar das dificuldades pelas quais passei, não tenho mesmo como reclamar da vida, pois já realizei sonhos que durante muito tempo pareciam impossíveis. Amo rádio desde criança e a partir de 1982, após ouvir incríveis programas na Fluminense FM, comecei a pensar muito em produzir um. Três anos se passaram e justamente neles o Rio viveu um período incrivelmente mágico em termos de rock progressivo em rádio. Além do programa "Rock alive" na Fluminense FM, surgiram os espetaculares "Espaço alternativo" na Estácio FM e "Rock laser" na Del Rey FM. Esses três programas e mais a programação diária da Flu e da Estácio, aliada à inesquecível Eldopop, forjaram toda a minha cabeça de produtor e programador de rádio.

Ainda não havia qualquer expectativa de trabalhar em uma, mas no mesmo ano de 1985 o destino conspirou a meu favor... Coloquei um anúncio de venda de gravações raras em fitas K-7 e uma ex-funcionária da Estácio FM entrou em contato. Quando ela viu o acervo que havia na minha casa, imediatamente sugeriu que eu fizesse um projeto de um programa de progressivo para apresentar na Rádio Melodia FM, que existia em Petrópolis. Era uma boa rádio, com programação rock e que estava planejando criar programas específicos. Assim sendo, fui, ela me apresentou ao diretor e ele gostou e me aceitou. Chamei amigos para produzir comigo e mandamos bala no projeto. Montamos os quatro primeiros programas , dei um nome a ele, gravamos as vinhetas e quando íamos começar a gravar as falas... Recebi o comunicado de que a rádio havia sido vendida para uma igreja...

Putz... Fiquei arrasado e a inexistência do programa que se chamaria "Horizonte progressivo" me fez perder totalmente o horizonte...

Foi um período difícil, eu não queria mais prosseguir na faculdade, comecei a beber muito mais do que o que já bebia, foi complicado.

Assim seguiu um tempo, mas em 1988 as coisas melhoraram muito. Em 89 fui novamente chamado para trabalhar em rádio, mas agora com um projeto bem ousado, grandioso mesmo. Seria para montar 100% da programação de uma nova emissora FM que iria surgir na cidade. Fantástico, era o sonho dos sonhos!

Dessa forma, engatamos no projeto, convidamos amigos competentes pra participar, a ideia era fazer uma rádio idêntica à Fluminense e a Estácio nas suas fases de ouro. O projeto ficou perfeito e o proprietário da emissora gostava de rock e de progressivo, estava na cara que venceríamos a disputa.

Infelizmente, porém, algo inacreditavelmente trágico ocorreu... Nosso projeto foi parar em mãos erradas e foi apresentado por outra pessoa. O tempo passou, não éramos recebidos pela diretoria e acabamos perdendo simplesmente tudo.

Foi mesmo uma situação arrasadora, quase nos levou ao suicídio, sem nenhum exagero.

Felizmente, não cometemos essa loucura e a vida prosseguiu. Em 1994 eu já estava com a Renaissance Discos e um amigo, o músico Marco Aureh (bandas Lummen e Palma), me convidou para patrocinar um programa de progressivo que ele ia produzir. A oferta era boa e logo aceitei. Em pouco tempo fui por ele convidado a produzir dois programas especiais sobre o Renaissance. Era meu velho sonho finalmente se realizando...

Deu tão certo que duas semanas após fui convidado a produzir outro programa e nunca mais parei. Fiz cerca de 170 nos 45 meses seguintes. Foi um período profissional maravilhoso, pois, além do grande sucesso que o programa "Tribuna progressiva" teve, também fiquei 1 ano e pouco como programador geral da rádio e mais alguns meses com metade da programação diária.

Por razões diversas, tudo terminou em julho de 1998. Na época foi triste, mas logo tudo se ajeitou.

Hoje em dia, tudo está mais ajeitado ainda, pois, entre muitas outras boas coisas, o "Horizonte progressivo" está finalmente no ar, após 27 anos... É dominical, das 18 às 20hs,e transmitido pela radio virtual RST Radio Rock

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Com Anneke: "O grande problema ainda é a cega ignorância da grande mídia
que teima em não enxergar no progressivo a sua enorme qualidade musical"

Como e onde começa sua experiência em produzir shows e eventos? E qual a consequência disso no cenário nacional, qual a importância de um evento que traz bandas como UFO?

Em relação a shows, tudo começou em 1990, quando assumi a responsabilidade de produzir o primeiro show profissional da banda progressiva carioca Quaterna Requiem. Aconteceu em uma casa noturna situada na Barra da Tijuca e chamada Perestroika. A casa era ótima, mas naquela época a distância era considerada imensa e o horário e dia bastante impróprios (quinta-feira, a partir das 23h). Apesar disso, foi um sucesso extraordinário, casa hiperlotada, muitas pessoas tiveram de ficar completamente imprensadas em outras.

Dali em diante produzi muitos outros. Cerca de 100 shows e eventos englobando mais de 40 bandas.

Em termos de contribuição local e nacional, os shows que mais orgulho de ter realizado ou participado são:

- A primeira turnê brasileira da cantora inglesa Annie Haslam (do Renaissance), que comentarei detalhadamente mais adiante.

- A histórica apresentação, em 22 de setembro de 2013, após 29 anos, do grupo Bacamarte com Jane Duboc. Esse eu tenho certeza de que entrou mesmo para a História, tal foi a comoção coletiva de quem lá estava. Lotação esgotada com mais de um mês de antecedência, eu pessoalmente vendi os cerca de 450 ingressos e foi maravilhoso conversar com cada pessoa que os comprou. Um dia ainda escreverei um livro sobre os bastidores desse evento. Em termos brasileiros era o sonho progressivo mais impossível possível...

- A apresentação da banda inglesa UFO, em 14 de maio de 2013, pela primeira vez no Rio, apesar de seus já 43 anos de história. Uma das bandas que mais frequentaram minha estrada musical, era outro sonho realmente "impossível". A lotação extrema com que o espaço foi ocupado trouxe sérias preocupações, mas a emoção da realização foi pra mim indescritível. Agradecimentos especiais ao meu produtor executivo Pedro Marques, que fez um trabalho impecável. O conjunto do que ocorreu antes e durante o evento também daria para escrever um belo livro...

- O fantástico show da banda holandesa Focus, em 14 de março de 2012, para um teatro absolutamente lotado. Além da banda ter tido atuação magnífica, o público teve incrível participação. Esse show foi o grande marco divisório da minha vida de produtor. Tantos fatos ocorreram durante sua pré-produção, cerca de um ano antes, inclusive, em termos sentimentais, que daria pra escrever um verdadeiro best-seller!

- As três vezes que a banda mineira Marcus Viana & Sagrado Coração da Terra se apresentou no Rio, em 2012 e 2013, após vários anos de ausência. Ambas foram musicalmente fantásticas e inesquecíveis.

- Todos os outros shows e eventos que participei, pois sempre me dediquei integralmente e de coração a cada um.

Quanto às questões da "importância" e das "consequências" de meus eventos, julgo que tenham sido bastante positivas para as cidades de Petrópolis (onde realizei bastante coisa no anos 1990, quando havia um cenário muito favorável por lá) e estejam sendo na do Rio de Janeiro que, apesar de sua grandiosidade histórica e populacional, estava com o cenário de rock progressivo bastante esvaziado e hoje em dia podemos afirmar que está em grande efervescência. 

Agora fala da sua participação na produção da primeira turnê brasileira da cantora Annie Haslam? 

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Uma certeza: "O impossível pode mesmo acontecer, seja lá em que circunstância for"

Pois é... Essa história toda daria vários livros... (risos). Iniciou-se em 1995, logo após Annie ter lançado o CD "Blessing in disguise". Fazia tempo que ela não gravava, esteve com câncer, viveu um período muito difícil. Produzi então ume edição especial do "Tribuna progressiva" com o CD. Tivemos ótima audiência, muitas pessoas telefonaram e ao seu término falei no ar sobre a felicidade dela estar de volta à ativa e, brincando, comentei que "quem sabe agora ela não viesse finalmente ao Brasil..." E rindo ainda completei... "E em Petrópolis"?

Até hoje não consigo acreditar que uma premonição louca dessas possa ter se tornado realidade. Além de Petrópolis ser uma pacata cidade do interior fluminense e eu jamais houvesse trabalhado com artistas internacionais, não existia a mais remota perspectiva que Annie viesse ao Brasil se apresentar.

Mas, em 1996... Pelas mais tortuosas ramificações do destino, o bancário carioca Luiz Otavio Drummond foi a Nova York ver um show de Annie, conversou com ela, retornou ao Brasil com sua autorização para acertar shows, contatou uma empresa já do ramo e fez os encaminhamentos entre ela e Annie. Em seguida, porém, as negociações que começaram bem, passaram a não evoluir e Luiz passou a procurar outra. Por suprema ironia do destino, veio a saber da minha existência por meio de um anúncio da minha loja, a Renaissance Discos, em um evento produzido pela mesma empresa. Daí, alguns dias depois, foi a Petrópolis me procurar na loja. Foi em um sábado à tarde, justamente no horário onde a loja costumava ser invadida por diversos roqueiros apaixonados por cerveja!

Até hoje considero como um dos mais inacreditáveis momentos da minha vida, quando ele, todo constrangido de estar em um local desconhecido, de dimensões bem reduzidas, decoração bastante simples e em meio a hippies alcoolizados, disse: "Olá, você é o Claudio Fonzi? Sim? Ah, então o negócio é o seguinte: sou amigo da Annie Haslam, vocalista do Renaissance, e ela quer vir cantar no Brasil. Você gostaria de trazer ela pra cá?"

Bem, depois que eu engasguei, enfartei, morri e ressuscitei, ele se ligou da loucura da situação, começou a rir e explicou mais detalhadamente!

Daí em diante, o processo se desenrolou de uma forma igualmente inacreditável. A primeira vez que escutei a voz dela falando comigo no telefone, o primeiro fax que recebi com o texto escrito por ela, com a assinatura dela... Foram fatos emocionantes demais, não há como descrever em palavras.

E assim os meses se passaram. Conseguimos organizar shows em RJ, SP e Petrópolis. Entre outras pequenas façanhas, consegui que os shows acontecessem em março e programei que o último deles fosse em Petrópolis e no dia do meu aniversário!

Parecia até cena de filme hollywoodiano... Foi uma noite mágica ao extremo. Consegui vender sozinho a lotação da casa com cerca de 40 dias de antecedência e programar mais uma apresentação, em data anterior. Essa também lotou e superou bastante a lotação convencional do espaço. A noite mais especial, porém, foi mesmo a que encerrou a tour. Aconteceu em 22 de março de 1997. O público era composto de 100% de fãs maravilhosamente apaixonados, vindos de várias partes do país. O local, "apenas" o mais aconchegante e perfeito possível, com qualidade acústica excepcional: a Concha Acústica do Museu Imperial de Petrópolis.

Foi um show tão perfeito que a maior parte do CD oficial da tour, o "Live Under Brazilian Skies" foi dele extraído, mesmo com o show do Rio tendo sido em uma casa muito maior e mais sofisticada.

A realização desses shows mudou minha vida em muitos aspectos, mas o principal foi me fazer crer que o "impossível" pode mesmo acontecer, seja lá em que circunstância for. 

Você foi colaborador de diversos sites na web, jornais e revistas, quais? Você ainda encontra tempo para escrever, caso encontre onde anda escrevendo?

Curiosamente, apesar de ter sido sempre um bom aluno e ótimo leitor, não conseguia qualquer inspiração para escrever. Essa inspiração surgiu de repente, já com 17 anos, quando cursava o 2º ano do 2º grau. Não sei mesmo de onde ela veio e nem o que escrevi. Lembro apenas que foi uma redação e na aula seguinte o professor João Carlos Bini em tom muito sério perguntou para a turma quem era o aluno Claudio Luiz... Fiquei apavorado, pois eu era bem bagunceiro e polêmico na época e logo imaginei que tinha feito algo grave sem saber. Mas não... Ele simplesmente começou a fazer os maiores elogios ao meu texto... Foram mesmo muitos... Elogios até mesmo extremados. Me deixaram com um misto de orgulho extremo com timidez mais extrema ainda. Não conseguia decidir se começava a rir, chorar ou se saía correndo!

Lamentavelmente, apesar de eu ter uma memória ainda excelente, não tenho a menor ideia de qual era o tema da redação. É até hoje um dos maiores mistérios que povoam minha mente. Sei apenas que a partir desse momento, passei a adorar escrever. Um vulcão de sentimentos aprisionados explodiu e parece ser uma fonte realmente inesgotável, pois a cada dia escrevo mais compulsivamente. Por causa disso, tenho tido constantes problemas com as mãos, dedos e braços. Aí dou um tempo, faço exercícios, poupo ao máximo onde estiver mais incomodando e outra hora/dia recomeço.

Essa compulsão gera muitas coisas boas, mas também alguns conflitos, principalmente com as mulheres, pois com elas as palavras se multiplicam de uma forma que às vezes sai do meu controle e a maioria não compreende bem.

Mas, com tudo isso, o caminho jornalístico musical era mais que natural que eu viesse a seguir. Iniciei em 1988 com o fanzine "Ad Nausean". Foi apenas um texto, mas razoavelmente longo, gostei muito do resultado. Devido aos compromissos que ainda me prendiam à universidade, demorei a engrenar, mas a partir de 1992 não parei mais.

Os principais foram:

- O jornal "Metamúsica" (sediado no município fluminense de Campos, tem a opinião pública unânime de ter sido o melhor veículo informativo de música progressiva da história do Brasil)

- A conceituada revista paulistana "Poeira Zine", especializada em classic rock em geral

- Os jornais petropolitanos "Poiésis" e "Culturarte"

- O website "Whiplash", estatisticamente eleito pelo reconhecido sistema Google Analytics como o "Mais visitado site de rock do Brasil"

- O website "ProgBrasil", assim como a lista de discussão aberta ProgBrasil , um dos espaços virtuais mais antigos e democráticos do progressivo em nosso país.

- O Blog "Sui Generis"

- A lista de discussão aberta eldo-pop

- Diversas comunidades do Facebook, onde publico semanalmente dezenas de pequenos textos.

Abaixo seguem os links de algumas matérias que julgo serem mais relevantes:

> Rock in Rio III - 2001 (Inusitada cobertura do grande festival, focalizando apresentações muito pouco divulgadas de artistas com grande ligação com a música progressiva)

> O movimento progressivo mineiro (parte 1, 2 e 3) (A soma dos três links representa o que talvez tenha sido o mais extenso e elaborado texto já publicado sobre o Movimento Progressivo no estado de MG, de onde surgiram diversos dos maiores expoentes brasileiros do estilo)

> Roger Waters 2002 (RJ e SP) (Sobre a primeira turnê brasileira do músico inglês, um dos fundadores da banda Pink Floyd).

> Focus 2003 (RJ e SP) (Sobre a primeira turnê brasileira da lendária banda holandesa).

> Virada Cultural 2008 (SP) (Sobre o megaevento paulistano, como todos os seus detalhes e grande destaque para as históricas bandas nacionais dos anos 70 que retomaram suas atividades)

> Festival Psicodália 2008 (SC) (Inicialmente idealizado como cobertura da histórica apresentação em SC, no ano de 2008, da banda paulistana Casa das Máquinas (uma das mais importantes do rock nacional setentista, estavam inativos desde 1978), acabou se tornando extenso e detalhado texto sobre o Festival Psicodália, talvez o mais importante movimento cultural jovem brasileiro atual)

> Água de Annique 2009 (RJ) (Sobre o emocionante show dado pelo grupo holandês)

> O movimento progressivo alemão (dividido em 4 partes) (Sobre a história do estilo musical na Alemanha, país que gerou enorme quantidade de seguidores)

> Festival Psicodália 2010 (Nova cobertura do fenomenal festival e a apresentação de mais de 20 bandas puramente autorais)

> A banda inglesa "UFO" aterrissa em belo horizonte (Sobre a primeira turnê brasileira da lendária banda inglesa).

> Within Temptation - Brasil 2012 

> Brasil - O mais novo polo do show business mundial (2012-2-10) e Roger Waters - The Wall - Brasil 2012 

> Virada Cultural 2012 e Gong no Brasil (2012-6-7

O que esperar para os próximos anos em matéria de shows?

Atualmente, o Brasil é um dos destinos mais procurados do mundo. Muitas dezenas de atrações internacionais aqui aportam anualmente. O progressivo ainda é muito pouco explorado, mas o grande sucesso de público de shows como Roger Waters, Jethro Tull, Yes, Rick Wakeman, Roger Hodgson, Focus e Jean-Luc Ponty tem animado bastante as grandes produtoras. A Virada Cultural de SP, por exemplo, já trouxe bandas como Gong, Nektar e Soft Machine e deverá manter a exploração desse campo.

Pra fechar o quadro mais positivamente ainda, com o grande evento da Mostra Internacional de Rock Progressivo organizado pelo CCBB (que está trazendo os expoentes Premiata Forneria Marconi e Carl Palmer Band), deverá haver um verdadeiro boom para 2014 e 2015.

Paradoxalmente, o caminho para os grupos nacionais não é tão bem pavimentado e a maioria recebe pouco apoio, mas eventos como a Virada Cutural (SP), Movimento Psicodália (SC) e Camping Rock (MG) têm proporcionado maravilhosos espetáculos já há vários anos, tanto para os medalhões dos anos 70 quanto os recém formados.

Espaços localizados em algumas capitais também têm promovido belos eventos. Em SP, o principal é a rede Sesc. No Rio, os locais que mais têm recebido grupos progressivos são o excelente e tradicional Teatro Rival, o Centro Cultural da Justiça Federal e a casa noturna Rio, Rock & Blues.

A partir do grandioso evento do CCBB e sua apresentação de seis bandas de três estados deverá haver muito maior número de eventos e espaços.

O grande problema ainda é a cega ignorância da grande mídia que teima em não enxergar no progressivo a sua enorme qualidade musical, grande importância histórica, a incrível influência que atinge inclusive muitos artistas de outros estilos e a imensa quantidade de fãs pelo Brasil e mundo.

Os jornais cariocas até que estão melhorando, mas em SP...

As revistas de música de grande distribuição também deixam muito a desejar. E é absolutamente inacreditável que as emissoras de rádio e TV continuem anos a fio sem enxergar a força que o progressivo tem aqui. Dezenas de bandas em todas as regiões, um país com nome importantíssimo entre os fãs mundiais, festivais maravilhosos que rolam em MG, SP, RJ e SC, diversas rádios e programas especializados, dezenas de comunidades, blogs, websites etc. etc. 

A loja continua física? E a venda de CDs e LPs tem crescido ou caído com toda a facilidade dos downloads na web?

Este mercado está passando uma fase bastante difícil, mas, felizmente, apesar de estarem limitando bastante seu rol de aquisições, os fãs de progressivo e rock em geral amam as obras musicais como um todo e prestigiam seus artistas favoritos. Então todos os lançamentos ainda possuem admiradores.

Por razões diversas, já há algum tempo que tenho trabalhado apenas com a internet, mas a saudade do convívio com o público está enorme e para 2014 reabrirei como loja física. Sei, porém, que sou uma exceção e eu mesmo não recomendo mais essa atividade como uma profissão.

Sabendo trabalhar e adquirir os melhores materiais com bons preços dá pra vender bem, mas é extremamente trabalhoso conseguir manter essa qualidade diariamente.

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

9 Comentários

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  • Antonio

    Eu gostaria de saber qual é o nome daquela música do Neil Young que abria o programa Arquivo da Tribuna fm 88.5

  • EldoPop Web

    Alo Mr. Fonzi...
    Parabéns pela entrevista... Quem o conhece, sabe que toda sua luta progressiva não tem sido em vão...
    Grande abraço! Qualquer hora nos vemos...

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