
(Fotos: Divulgação)
Cacau: “Quando ouvi Chega de Saudade
pela primeira vez foi um choque”
Todo mundo tem uma história com música, um momento, uma lembrança que ela traz. Querendo ou não, simplesmente vem e nos remete àquele instante, e somos até capazes de sentir o perfume. Uns gostam de rock, outros de jazz, blues, MPB, tango, funk, R & B e por aí vai. Deixando de lado a questão do gosto, que é muito pessoal, foi pensando nisso que tive a ideia de convidar algumas pessoas a falarem do assunto, seja de uma música, banda ou gênero que de alguma forma tenha mudado a sua maneira de ver a vida ou a de ouvir música.
Meu convidado desta semana é Cacau (Claudio Cunha), multi-instrumentista, um guitarrista de primeiríssima, grande amigo, parceiro de outras vidas provavelmente. Cacau é um amante da bossa nova e do jazz, estilos que domina com maestria nas suas guitarras maravilhosas.
A genialidade da música e da interpretação
Claudio Cunha, músico conhecido como Cacau
> Um choque - “Na época que ouvi ‘Chega de Saudade’, do Tom Jobim, cantada por João Gilberto, pela primeira vez numa rádio chamada Eldorado, foi um choque, porque o locutor anunciou ‘Vocês acabaram de ouvir João Gilberto cantando Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes’”.
> Algum engano? - “Eu pensei: Deve haver algum engano, eu tenho amigos que tocam violão bem (eu ainda não tocava), e violão não tem esse som, com certeza é outro instrumento”.
> Impressionante - “E carreguei essa dúvida por anos, até que comecei a estudar o instrumento profundamente e entender a genialidade da música e daquela interpretação de João Gilberto. Mas confesso que até hoje fico meio impressionado com aquela interpretação”.
> Valorização da música - “Descobri, bem depois, que muitos músicos do mundo inteiro tiveram a mesma impressão que eu quando surgiu a gravação, lá pelos anos 60. Ali nasceu não só a bossa nova, mas um novo violão, uma nova forma de cantar e uma valorização intelectual da música brasileira no exterior, deixando de ser o país das bananas pra ser o país da bossa nova, do Tom Jobim, do João Gilberto, do Vinícius de Moraes e de outros que vieram no embalo como Chico Buarque, Roberto Menescal, Marcos Valle, Johny Alf, Carlos Lira, João Donato...”
"A bossa nova não é só um novo violão, uma nova forma de
cantar, é a valorização intelectual da música brasileira no exterior"