(Foto Ilustrativa)
Separar alguns poucos discos de toda uma vida de audições é complicadíssimo
Estava conversando com AlexL, aproveitando que ontem publicamos uma entrevista ótima com ele, pedi no meio do papo que ele fizesse uma lista com seus álbuns preferidos ou o que considera fundamentais em uma coleção. Ele fez a lista, que coloquei em ordem aleatória, o que não representa que seja a ordem de preferência dele, mesmo sabendo que listas são sempre estranhas de fazer, porque separar alguns poucos discos de toda uma vida de audições é complicadíssimo! Hoje você confere os cinco primeiros álbuns. Como os comentários são bastante complexos, achei melhor dividir em duas partes. Amanhã tem os outros cinco álbuns. Divirtam-se e aproveitem as dicas!
“Automat” (Romano Musumarra & Claudio Gizzi)
(Fotos: Divulgação)
Fantástico! Essa pérola dos primórdios da música eletrônica, raríssima em sua versão em CD (minha cópia foi transcrita do vinil), fez muito sucesso no Brasil porque uma de suas faixas, “Droid”, era usada na abertura do Jornal da TV Globo na década de 80. Todas as músicas são excelentes. As duas últimas faixas do álbum, “Ultraviolet” e “Mecadence”, são minhas prediletas, com suas sonoridades exuberantes e “climas” exóticos. “Automat” (que toma a primeira metade do disco) e a já citada “Droid”, com seu pulso constante e decidido, não fariam feio em nenhuma pista de techno dos dias de hoje.
“Everybody loves a happy ending” (Tears For Fears)
Conheci esse grupo desde o seu comecinho, com “Change”, que ouvi na saudosa Rádio Fluminense. Depois veio o mega sucesso do segundo álbum, a confirmação do sucesso com o terceiro e... a dupla se dissolveu.O trabalho do Tears For Fears continuou sob a batuta solo de Roland Orzabal. Todos os álbuns do grupo, duo ou solo, foram lançados no Brasil. E então, depois de 14 anos separados, em 2004 a dupla fundadora faz as pazes e lança um novo álbum. E aqui é que realmente começa minha resenha. “Everybody loves a happy ending” é, de longe, o melhor trabalho do grupo: melodias cativantes e vocais luxuriantes em canções marcantes. É como se fosse um “The seeds of Love” melhorado. O último álbum da dupla antes da dissolução havia emplacado três sucessos, mas, no resto, era um pouco morno. Em “Everybody loves a happy ending” é difícil achar uma música mais fraca. Se alguma coisa pode ser falada contra, é o fato de eles terem exacerbado ainda mais a influência dos Beatles nesse álbum, mas isso também pode ser considerado um elogio... A faixa título, que abre o CD, até parece uma homenagem explícita a “A day in the life”, dos rapazes de Liverpool. Apesar de ter sido tarefa difícil, consegui destacar entre tantas canções incríveis as três primeiras, “Everybody loves a happy ending”, “Closest thing to heaven” e “Call me mellow”, e as duas últimas, “Ladybird” e “Last days on earth”. Infelizmente, para a maioria do público de hoje, o Tears For Fears não passa de “uma banda dos anos 80” e, talvez por isso, o melhor disco da banda tenha passado longe da grande mídia. Uma pena, dessa vez ficamos sem final feliz :-(
“A trick of the tail” (Genesis)
Conheci esse clássico em 1983 na saudosa Fluminense FM. Um dos meus dez preferidos de todos os tempos, “perfeito” já o define bem, mas podemos dizer que tem um clima pastoral por causa dos violões de 12 cordas, um certo “fog” londrino permeando todas as faixas e o dificílimo (apesar de pouco famoso) solo de teclado em 13/8 de Robbery, Assault and Battery. Além dessa, a faixa de abertura, “Dancing on a Volcano, emtangled” e a homônima “A trick of the tai”l são minhas preferidas.
“Hydra” (Toto)
Esse álbum é espetacular! Rock de primeiríssima linha, com o swing do falecido Jeff Porcaro na bateria, os solos lancinantes de Steve Lukather e tantos vocais bons e diferentes de 2/3 dos integrantes da banda. O álbum, acredite ou não, tem um toque progressivo, principalmente na faixa que o abre e lhe dá nome. Esse disco é tão bom e diferente do resto do trabalho da banda que acho que é por isso que não vendeu muito bem nos EUA... Minhas preferidas são... Todas! Mas para destacar as diferenças vou citar: “Hydra”, com seu toque sombrio e progressivo que se reflete na capa do álbum; a intensa “All us boys”, cujo refrão dá vontade de cantar aos berros; “Mamma”, tão sentida que dá até pra chamar de blues, apesar do swing e da harmonia completamente distantes do estilo; e a poética “A secret Love”, que parece trilha sonora de um sonho, com direito a imagens enevoadas e cenas surrealistas. Se você gosta, mesmo que um pouquinho só, de rock, esqueça tudo de pop que conhece dessa banda e ouça esse álbum!
“Marquis de Sade” (Lalo Schifrin)
Uma correção: o nome verdadeiro desse álbum é “The dissection and reconstruction of music from the past as performed by the inmates of Lalo Schifrin’s demented ensemble as a tribute to the memory of the Marquis de Sade”, mas, obviamente, o título era muito grande para ser colocado no campo do blog... Este álbum é incrível! Talvez um dos meus dez álbuns preferidos de todos os tempos! O compositor e pianista argentino conseguiu capturar a essência da música barroca e renascentista e amalgamá-la com o jazz, o blues e a bossa nova, entre outros. Muito mais do que simplesmente tocar alguma peça de Bach com uma levada de jazz, ele compôs peças originais que conseguem integrar características aparentemente tão díspares quanto as das músicas de vários séculos de separação. “Old laces” e “The wig”, que abrem o álbum, já dão todo o clima do que vem a seguir. A primeira começa com uma levada de jazz guiando uma flauta super comportada e sóbria que assim segue até a parte do improviso, onde se alterna com uma guitarra num clima bem bluesy. A segunda faixa, bem animada, uma peça típica para big bands americanas, é a mais famosa do disco. Foi, inclusive, usada por vários anos no comercial de uma certa loja de vidros e molduras. Música de Schifrin para um comercial “chinfrim”... Perdão pelo trocadilho infame, mas a faixa é muito boa, talvez a minha preferida. Outra que vale a pena destacar é “Renaissance”, que começa com um violão clássico numa típica peça renascentista para alaúde e corta para uma levada super suingada para um quarteto de jazz (piano, baixo, guitarra, bateria). Sempre no início de cada repetição, um pequeno interlúdio de quatro compassos lembra o porquê do título da faixa. Esse disco é superinteligente e bem feito sob aspectos musicais. Mas para qualquer leigo, seu alto astral e suingue são marcantes. Pena que seja tão curto (tem pouco mais do que 30 minutos). Enfim, ele é tão bom que não consigo acreditar que levou tanto tempo para ser lançado em CD. E isso só aconteceu graças aos japoneses. Eu o tinha em vinil e fiquei anos procurando-o nessa mídia mais moderna.