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Os "Discos Fundamentais" de AlexL (parte 2)

Hoje você confere os últimos cinco álbuns preferidos do artista em comentários bastante complexos

Música  –  29/10/2012 21:45

1

(Foto Ilustrativa)

Lista foi colocada em ordem aleatória, o que não
representa que seja a ordem de preferência de AlexL

Publicamos hoje a segunda parte dos “Discos Fundamentais” de AlexL. Lembrando que a lista foi colocada em ordem aleatória, o que não representa que seja a ordem de preferência dele. Os comentários são bastante complexos. Aproveitem as dicas!

“QE2” (Mike Oldfield)

2

(Fotos: Divulgação)

Já o tinha em vinil e o achava legal, mas ficou hibernando depois que me mudei e aposentei a pick-up. Com o advento da internet voltei a escutá-lo em mp3 e acabei comprando o CD. Virou uma febre, acho que entre junho e agosto deste ano ouvi esse álbum numa média de três vezes por semana. No começo essa média era diária, mas agora, que já decorei o álbum fiquei um pouco mais tranquilo. Nesse álbum Mike Oldfield faz intenso uso de teclados, sintetizadores e baterias eletrônicas, mas não deixa de lado sua guitarra, e os instrumentos acústicos como o violão e bandolim continuam com destaque. As faixas não são tão longas como as de seus quatro primeiros álbuns (todas durando um lado de LP), mas se desenvolvem bem sem carências ou exageros. Mike recebeu algumas críticas negativas por ter incluído versões de duas músicas de grupos pop no álbum: “Arrival”, do ABBA, e “Wonderful land”, de The Shadows. Críticas preconceituosas e injustas, diga-se de passagem. As faixas (como suas originais) são instrumentais, não destoam nem ficam devendo nada ao resto do álbum. O disco é bem homogêneo e todo bom, mas vale a pena destacar algumas das faixas: “Taurus I” (a primeira): abre com o primeiro tema num bandolim bem folk. A segunda parte, bastante marcial, carregada por guitarras distorcidas e raivosas (o termo “iradas” caberia muito bem aqui...) e, depois de uma ponte bem contemplativa, termina com uma parte vibrante misturando teclados, bandolins e vozes. “Sheba” (a segunda): os arranjos para a voz suave de Maggie Reily e o bom-gosto no uso do vocoder (equipamento que entre outras coisas é usado para modular instrumentos em dicção fazendo-os parecer que falam) são a base dessa faixa que tem letra indefinida com sonoridade tribal. “QE2” (a sétima): tem um certo clima do Bolero de Ravel: começa pianíssimo e vai crescendo em dinâmica e vibração com destaque para a seção de metais no meio (que inclui o brasileiro Raul D’Oliveira no trompete). Porém, diferente do tom marcial do Bolero, “QE2” (de “Queen Elizabeth II”, o transatlântico) é bastante festiva e leve. De uma forma geral, o CD é muito bem arranjado, os temas são bastante “cantábiles” e o clima geral bastante “ensolarado”. Depois de tanto tempo enfurnado na prateleira, acabou virando um de meus preferidos...

“Olias of sunhillow” (Jon Anderson)

3

Quando esbarrei com esse álbum em alguma loja de raros e usados da vida já conhecia bem o trabalho do artista junto ao Yes e no duo com Vangelis, além de algumas eventuais participações em discos de seus conterrâneos e contemporâneos. Juntando isso à arte gráfica do álbum não hesitei um segundo sequer na hora de adquiri-lo. E fui regiamente recompensado! Essa é certamente a melhor coisa que Jon Anderson fez em sua carreira fora do Yes e talvez até dentro do grupo! Uma fantasia musical (inspirada na capa de “Fragile”) onde Jon toca todos os instrumentos para narrar a história de um planeta prestes a explodir e o esforço de seus habitantes para construir um mágico navio voador que os levaria para outro lugar seguro. Depois de conhecer esse trabalho fica claro que a sonoridade e os temas da dupla Jon & Vangelis não eram responsabilidade unicamente do tecladista grego...

“Smile” (Brian Wilson)

4

O trabalho de Brian Wilson, desde o tempo dos Beach Boys, é único e, no caso desse álbum, que comprei quase às cegas, realmente impressionante. Valeu a pena os 30 anos que tivemos de esperar pela conclusão dele. Talvez “Smile” seja um dos dez melhores álbuns que já ouvi na vida! Embora os vocais sejam muito bem explorados, os arranjos usam uma paleta de timbres vastíssima. A banda que acompanha o artista é formada por 18 músicos tão versáteis quanto ele: a maioria toca vários instrumentos e canta. O álbum se divide em três blocos diferentes formados por várias canções agrupadas, cada um deles funcionando como uma peça única. Desse modo, apesar do formato pop das canções, o CD tem um “quê” de progressivo em sua concepção. Essa talvez seja a única ressalva desse trabalho: às vezes um tema aparece em várias canções, outras vezes uma mesma música tem várias partes diferentes... Isso acaba tornando um pouco difícil a identificação do começo e fim de cada faixa. Entre meus trechos preferidos (acho que nesse álbum, esse termo cabe melhor), estão “Roll plymouth rock”, “Barnyard”, “Wonderful”, “Child is father of the man”, “Vega-Tables” e “Good vibrations”. Para completar, o encarte que acompanha o CD, além do design primoroso, traz informações interessantíssimas sobre a história do trabalho.

“The dark side of the moon” (Pink Floyd)

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Acho que esse álbum dispensa apresentações... Conheci-o quando tinha uns 13 ou 14 anos, por intermédio de meu amigo (e hoje compadre...) Marcus Possi. Ele, que é seis anos mais velho do que eu, deve ter conhecido esse clássico na época do lançamento em 1974. Nessa época, estavam começando a experimentar o sistema quadrafônico* e meu amigo ficou tão empolgado com esse recurso que comprou equipamento e alguns dos álbuns que usavam esta tecnologia. Era o caso de “The dark side of the moon”. Costumávamos sentar em poltronas no meio da sala, formando um triângulo equilátero com as caixas da frente, apagar as luzes e ouvir discos em alto e bom som (ele também se encarregava de fazer caras feias para os parentes que abriam a porta e cruzavam a sala de vez em quando...). Esse disco é simplesmente uma obra-prima da música pop e da produção fonográfica de um modo geral. Nele, o então jovem técnico de som Alan Parsons, trocando de turnos com outros técnicos para acompanhar toda a gravação do projeto, experimentou recursos pouco ortodoxos, como, por exemplo, usar um enorme anel de fita magnética saindo do gravador e dando a volta em toda a sala de gravação para criar longos ecos impossíveis de serem feitos com o equipamento da época. Claro que a banda também teve acesso ao que de mais moderno havia na época no reino da tecnologia musical: sintetizadores, gravadores multipista etc. As músicas são emendadas em duas longas suítes que duram, cada uma, um lado inteiro de um disco de vinil. Isso torna a minha seleção de destaques bastante fácil: minhas faixas preferidas são o Lado A e o Lado B. O álbum é perfeito da primeira à última batida do coração (que abre e fecha o disco respectivamente...), mas, além do efeito impressionante que é ouvir numa sala à meia-luz aquela dezena de relógios tocando no início de “Time”, fiquei boquiaberto quando descobri que Clare Torry, dona daquela voz azul-marinho profundo (ou seja: bluesy e nigérrima) que canta em “The great gig in the Sky”, é inglesa e branca (!). Ouvir esse álbum como ele merece requer um certo ritual. Por isso, sente-se confortavelmente, feche os olhos, e ligue o som em bom volume para recebê-lo em sua vida. E, por favor, transmita essa experiência às próximas gerações para que não fiquem nas trevas da ignorância musical. Afinal, como diz a voz quase inaudível no fim do álbum “Theres no dark side in the moon really. As a matter of fact it’s all dark...” (“Não existe lado escuro na lua realmente. Na verdade é tudo escuro...”).
* Forma de gravar e reproduzir som em quatro vias: tradicionalmente duas caixas de som na frente e duas atrás do ouvinte.

“Triz” (Alexl)

6

Terminada a produção de uma obra de arte, seja um filme, uma pintura, um CD etc., há sempre um detalhe ou (muitos) outro(s) que escapa(m) ao olhar atencioso do criador, mesmo depois de exaustivos dias de contato intenso com a obra. Por isso, frequentemente, depois de pronto, a maioria dos artistas não gosta de ouvi-lo (ou vê-lo, no caso de atores, cineastas etc.). Isso definitivamente não acontece comigo. Quando digo que esse é um dos melhores álbuns que já ouvi na vida, posso parecer muito pretensioso, mas eu explico: ele foi feito para atender a meu gosto particular, para satisfazer minha vontade de ouvir um álbum que ainda não existia. Gastei muitos anos em sua produção buscando atender a meu perfeccionismo de modo que poucos detalhes escapassem (sim, alguns conseguiram burlar minha atenção...). Com isso, cheguei muito perto do que imaginava. Gostaria de poder ter a experiência da primeira audição dele... É um álbum cheio de surpresas, nuances e reviravoltas! Às vezes pastoral, às vezes enérgico... Foi feito para que ainda guardasse detalhes a serem descobertos depois de anos de audição. Difícil escolher entre tantos “filhos” queridos, mas destacaria “Círculos”, “Relatividade” e “Passatempo”, por representarem bem as diferentes facetas desse trabalho.

Por Márcia Tunes  –  marciatunes@gmail.com

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