Publicada: 09/09/2016 (20:26:16) . Atualizada: 13/09/2016 (10:33:27)
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Sua finalidade é imprópria. Por imprópria entende-se o que não é devido questionar. Contudo, o homem dispondo de um arco e quando esse ficou teso e pronto para disparar uma flecha, pensou bem e inverteu a forma de disparar a mesma. Esse ficou pronto para com a flecha tocar o primeiro instrumento de arco. Da guerra se fez uma festa, e a flecha diminuiu de tamanho. A dança prosperou. A diferença entre guerra que contém mortes e a festa é que a estupidez humana se converte em criação artística - o homem inverte o arco e flecha em instrumento de culto, e no misticismo apaga as sequelas do ressentimento; eis a música.
O berimbau tão conhecido pelos brasileiros teve na sua origem a responsabilidade pela criação das famílias de instrumento de cordas tocadas com arco e de plectro (tocadas com os dedos ou palheta).
Instrumentos de arco primitivos
Instrumentos tocados com arco
Os sons artificiais foram criados inicialmente com a intenção de reproduzir sons naturais. Os instrumentos de percussão também foram criados ao acaso. Povos primitivos, ao lascar pedras, viram nesse “ato” um som que, ao repeti-lo sem a questão do trabalho ou da utilidade, lhe fazia bem à alma. Ao percutir a pedra de maneira racionalmente ritmada, lhe fez maior bem ainda. Agradado pelo ritmo regular o homem primitivo agradou e alegrou a ele e ao seu clã. Suas noites ao lado da fogueira, antes entediantes, foram abrilhantados com a descoberta do novo reproduzir ritmado das pedras lascadas. Foi o primeiro concerto e recital do homem primitivo. Quem ritmou melhor se tornou o artista da tribo. A vaidade artística teve aí o seu começo. As ordens religiosas e de culto viram sua gênese nesse período histórico. Nesse apanágio a religião mística se atrelou à música percussiva para nunca mais a largar.
Música percussiva
A música primitiva foi o estopim para o advento do culto religioso. A percussão e consequentemente a dança incorporaram no homem o sentido real da música que era o elo para o diálogo da alma metafísica com o etéreo e o desconhecido mundo do além. A dança é filha da música. Essa não vive sem sua mãe, sem ela não acontece nada. A dança é o que o corpo responde fisiologicamente à música; uma reação natural reflexiva dos músculos, tendões que fazem incomodar a alma de modo diverso entre o prazer, o agradar e entre simbolizar com as formas e movimentos corporais a expressão interna da resposta ao que se ouve.
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A música artificial é a instigadora dos instintos. É ela que provoca no homem todo tipo de emoção. Veja os concertos de rock. Veja nos hinos nacionais, as lágrimas sempre presentes. Veja a música voltada para os cultos religiosos. Bach dizia que cantar para Deus seria como orar duas vezes.
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Essa é a importância da música artificial, porque sua gênese fez a troca dos sons naturais em sons artificiais, estava criado no homem esse poder de reproduzir os sons da natureza. O que era natural, doravante pela inventividade humana, estava copiado por sua sagacidade. O som do trovão foi trocado pelo rugir dos tambores. O som do relâmpago passou a ser imitado pelo tilintar de pedras e o canto dos pássaros pelas flautas e apitos.
Instrumentos primitivos imitando a natureza
Daí pra frente, o homem não parou de confeccionar instrumentos imitadores, até que enfim, sons novos sem a intenção de imitar a natureza foram aparecendo e encantando a sua curiosidade. Passou-se então para a esfera do gosto e criação por simples criação e não por imitação. Foi inaugurada, finalmente, a passagem dos sons naturais para os artificiais sem nenhuma obrigação de imitar o que se ouvia no mundo, todavia, passou a escutar o que estava dentro de sua alma e reproduzir o desejo latente de apenas criar, modificar e inventar coisas e sons que não estavam mais na natureza. Contudo, em sua inventividade e criatividade estampou-se a música pela música.